Na tentativa de debelar as chamas que destruíram a Estação Comandante Ferraz, dois militares encerraram de maneira heroica a missão brasileira na Antártica. Em meio ao fogo que se alastrou na estação, o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos perderam suas vidas para tentar salvar o trabalho científico desenvolvido desde 1984.
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Após 30 anos de trabalho prestados à Marinha, o baiano Carlos Alberto Vieira Figueiredo, 47 anos, já tinha data para pedir a aposentadoria: quando voltasse da Antártica, no dia 25 de março. Com as malas arrumadas, mesmo faltando quase um mês para o retorno, Figueiredo estava ansioso pela volta.
– Desde que embarcou para a missão, meu pai sempre se mostrou satisfeito e feliz. Mas nas últimas semanas ele não escondia a ansiedade em voltar para casa – conta o filho Vinícius Figueiredo, 25 anos, policial militar.
Fiqueiredo trabalhava na base militar brasileira desde março do ano passado. Conforme Vinícius, filho mais velho, o último contato feito pelo pai foi na sexta-feira, via Skype, por volta das 23h (horário de Brasília) – horas antes ao incidente na estação. A notícia do acidente chegou à família no sábado, próximo ao meio-dia.
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– Ele se comunicava todos os dias conosco. Era muito apegado à minha mãe Nilza. Hoje, ela é uma Julieta sem o seu Romeu, não tem mais vontade de viver – contou o filho, muito abalado pela perda do pai.
Quando voltasse ao Brasil, Carlos planejava deixar a cidade de Vitória da Conquista, no interior da Bahia, e se mudar para Aracaju (SE). Além da esposa Nilza e do filho Vinícius, o militar deixou o caçula Vitor, 20 anos.
Militar carioca estava na terceira expedição

A segunda vítima do incêndio, Roberto Lopes dos Santos, 45 anos, também entraria para a reforma militar quando retornasse da Antártida, em dezembro deste ano. Esta era a terceira vez que o militar participava da missão na Estação Comandante Ferraz. Natural de Nilópolis (RJ), Santos havia embarcado para a expedição em novembro do ano passado.
– Ele era um exemplo de profissional, tanto é que foi convocado para a missão por três vezes. Era uma pessoa muito animada e positiva – conta Cézar Lima, cunhado da vítima.
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Conforme Lima, a família mantinha contato diário com Santos, que sempre demonstrou segurança e tranquilidade na missão.
– Ele estava bem lá, fazendo planos e projetos- conta Lima.
Além da esposa Suely, Santos deixou os filhos Alan, de 14 anos, e Aline, de 17 anos.
Lidar com o trauma será desafio de oficial que sobreviveu
Ferido no incêndio, o primeiro-sargento Luciano Gomes Medeiros, foi transferido para a cidade chilena de Punta Arenas juntamente com 30 pesquisadores, um alpinista que prestava apoio às atividades de pesquisa na estação, um representante do Ministério do Meio Ambiente e 12 funcionários do Arsenal da Marinha – que estavam na Estação no momento do acidente.
Medeiros completaria um ano no local no dia 6 de março, após participar de cinco seleções para atuar em missões na base da Antártica. Ao lado das vítimas fatais Santos e Figueiredo, Medeiros foi um dos primeiros a chegar ao foco de incêndio e tentar controlar o fogo. O oficial, que entrou na Marinha aos 18 anos, estaria muito abalado com o acidente e a perda dos companheiros, relatou um familiar.
– Não sei quando ele vai se recuperar disso tudo. Ele está muito abalado, imagine o que é uma pessoa tentar salvar seus amigos e ver eles morrerem. O Luciano que a gente conhece, alegre, morreu. Agora nasceu um novo Luciano, com traumas, que viu os amigos morrerem e que não cumpriu sua missão lá – disse Dila, sogra de Medeiros.
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