Milhares de sírios puderam deixar nesta segunda-feira o último reduto rebelde no leste de Aleppo cercado pelo regime, uma evacuação que será coroada pela aprovação unânime do envio de observadores da ONU para monitorar a situação na segunda maior cidade do país.

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O Conselho aprovou por unanimidade o projeto de resolução apresentado pela França, que assim dá a primeira demonstração de unidade em meses entre as potências mundiais sobre a crise na Síria.

Cerca de 5.000 pessoas a bordo de 75 ônibus foram transportadas para a localidade de Khan al Assal, sob controle rebelde, também no norte do país, indicou Ingy Sedky, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Ao mesmo tempo, quase 500 pessoas subiram em mais de 10 ônibus para abandonar as localidades xiitas de Fua e Kafraya, sitiadas pelos rebeldes na província vizinha de Idleb, noroeste da Síria, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A menina síria Bana al Abed, conhecida por seus tuítes sobre o inferno diário de Aleppo, foi evacuada junto com a sua família durante o cessar-fogo decretado na cidade síria, segundo várias ONGs nesta segunda-feira.

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“Fazia parte do primeiro grupo que foi evacuado nesta manhã e agora se encontra na região de Rashidin”, uma zona rural de Aleppo, disse à AFP um porta-voz da ONG islâmica turca IHH.

No domingo, vários ônibus que aguardavam para entrar nas duas localidades foram atacados e incendiados por homens armados de um grupo extremista. Um dos motoristas foi atingido e morreu.

O grave incidente provocou a suspensão das operações nas três cidades.

Mesmo assim, 350 pessoas conseguiram sair no domingo de Aleppo e chegar a Khan al-Assal, em território rebelde, a oeste da segunda maior cidade da Síria graças à mediação de Rússia e Turquia, segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

“As pessoas que estamos acolhendo viveram no inferno, o nível de trauma que sofreram é impossível de imaginar e compreender”, explicou á AFP Casey Harrity, da ONG Mercy Corps.

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Voto unânime na ONU

Enquanto a evacuação prossegue em Aleppo, em Nova York o Conselho de Segurança aprovou, com o apoio da Rússia, o envio de observadores da ONU a Aleppo para monitorar as retiradas e informar sobre a situação dos civis que permanecem sitiados na cidade síria.

A resolução pede à ONU que conduza uma “supervisão adequada, neutra e direta das retirada no leste de Aleppo e em outros setores da cidade”.

Pede igualmente a Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, a adoção de medidas urgentes para permitir que os observadores possam supervisionar o bem-estar da população civil e consultar as partes interessadas.

Ainda não é certo, porém, se o governo sírio irá aceitar a entrada de observadores na cidade.

Na terça-feira, Moscou vai liderar uma reunião dos ministros das Relações Exteriores e Defesa da Rússia, Irã e Turquia para discutir este complexo conflito que envolve tantos atores apoiados por grandes potências.

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Milhares de pessoas permanecem bloqueadas em Aleppo, reconquistada quase em sua totalidade pelo regime de Bashar al-Assad após uma violenta ofensiva aérea e terrestre de um mês, aliada a um cerco implacável desde julho.

No reduto rebelde ainda estariam quase 40.0000 civis e entre 1.500 e 5.000 combatentes junto a suas famílias, de acordo com o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.

O novo acordo alcançado entre os beligerantes para evacuar Aleppo, Fua e Kafraya prevê que as operações aconteçam de forma sincronizada.

Após a conclusão da retirada de Aleppo, o regime proclamará a reconquista total da cidade, o que representará sua maior vitória desde o início da guerra em 2011, que deixou mais de 310.000 mortos e provocou o deslocamento de metade da população do país.

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