Milhares de civis e rebeldes foram evacuados de Aleppo, nesta quinta-feira (15) à noite, e chegaram ao território sob controle dos rebeldes, no primeiro dia de uma operação que representa a vitória do governo de Bashar al-Assad na batalha pela segunda mais importante cidade síria.

Continua depois da publicidade

Em um vídeo dirigido aos sírios, o presidente Bashar al-Assad declarava que a “libertação” de Aleppo é um “momento histórico”.

Hoje, três comboios de ônibus e de ambulâncias fizeram o trajeto entre o bairro de Al Amiriya, no sul de Aleppo, ainda controlado em parte pelos insurgentes, e o de Ramusa, nas mãos do governo.

Nas duas primeiras caravanas, foram retirados cerca de três mil civis, segundo a representante na Síria do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), Marianne Gasser. Nos ônibus, a imensa maioria era civil, com uma pequena parte de combatentes rebeldes.

Alguns idosos choravam, outras pessoas estavam felizes em deixar para trás o inferno no qual viviam, e algumas relutavam em subir nos ônibus por medo de serem interceptadas pelas forças do governo, constatou um jornalista da AFP presente no lado rebelde.

Continua depois da publicidade

– ‘Voltaremos’-

O acordo desta quinta veio exatamente um mês depois do início da ofensiva final das forças governamentais, apoiadas pela Força Aérea russa, por milicianos do grupo libanês Hezbollah e por combatentes iranianos e iraquianos, em 15 de novembro.

Os evacuados passaram horas reunidos em um local de acolhida no distrito de Al-Amiriya, no sul de Aleppo. O acordo envolve 4.000 pessoas em média, de acordo com a televisão síria.

Em uma janela cheia de pó em um dos ônibus, alguém escreveu: “Um dia voltaremos”.

Para que as ambulâncias conseguissem passar, uma grua precisou deslocar escombros das ruas devastadas, relatou Gasser.

“O que temos visto parte o coração. A gente podia ver os olhos dessas pessoas cheios de tristeza”, acrescentou ela.

Continua depois da publicidade

“A humanidade respira seu último suspiro em Aleppo”, denunciaram 25 agentes de organizações não-governamentais, em uma declaração comum publicada também nesta quinta em Gaziantep, no sudeste da Turquia, condenando “o fracasso moral da comunidade internacional”.

Em paralelo, outra operação de evacuação de cerca de 1.200 feridos e doentes com seus familiares próximos foi realizada em Fua e Kefraya, duas cidades xiitas controladas pelos rebeldes na província de Idleb, em direção a zonas controladas pelo governo.

Idleb, província vizinha de Aleppo, é o último reduto da rebelião que controla apenas alguns setores dispersos em Deraa (sul) e próximo a Damasco.

A saída dos rebeldes de Aleppo simbolizará o êxito máximo do governo de Assad, assim como de seus aliados russos e iranianos, desde o início da guerra civil em 2011.

Continua depois da publicidade

– Uma evacuação de vários dias –

“Ninguém sabe quantas pessoas restam nos bairros rebeldes”, afirmou a representante do CICR, destacando que a evacuação pode levar “vários dias”.

O enviado da ONU pela paz na Síria, Staffan de Mistura, disse que cerca de 40 mil civis continuam presos na zona rebelde, assim como entre 1.500 e 5.000 combatentes e seus familiares.

A Turquia, que prometeu acolher os deslocados, considera em algo entre 80.000 e 100.000 o número de civis que poderão ser evacuados.

Em paralelo, a França solicitou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, para esta sexta-feira (16), para tratar da evacuação de civis e do plano de ajuda a Aleppo e conseguir o envio de observadores internacionais para supervisionar a retirada.

Continua depois da publicidade

Os esforços diplomáticos, incluindo várias rodadas de discussões sobre paz, não foram suficientes para resolver o conflito.

O secretário de Estado americano, John Kerry, advertiu que a Aleppo corre o risco de se tornar uma “outra Srebrenica”, em alusão à cidade bósnia, onde, em 1995, cometeu-se o pior massacre na Europa depois da Segunda Guerra Mundial.

Em quatro semanas, a ofensiva já deixou mais de 460 civis mortos no leste de Aleppo, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), e 130 do lado do governo.

Para De Mistura, que pediu o retorno das negociações intersírias para pôr fim ao conflito, Idleb poderá ser “a próxima Aleppo”, se “não houver um acordo político e de cessar-fogo”.

Continua depois da publicidade

Desde o início do conflito, em março de 2011, já são mais 310.000 mortos, e pelo menos metade da população síria deslocada.

rim-burs/vl/jri.zm/aoc/mb/bn/tt