É quase impossível não vê-las.

Estão no alto de morros, em pontos extremos de Blumenau. Se as curvas sinuosas da cidade fazem o suspense de escondê-las, as longas filas de carros apontam que você está no caminho certo. Seja no Progresso ou na Itoupava Norte, quando a noite cai, as famílias têm destino certo: conhecer as casas que encantam pela iluminação especial de Natal e pela dedicação pessoal de famílias que trabalham para manter vivas as tradições que aprenderam com os pais.

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Na Rua Domingos Reichert, na região Sul da cidade, quem recepciona os visitantes não é bom velhinho. São as ajudantes do Papai Noel, Pietra e Bruna, de apenas cinco anos. Isso porque na casa mais iluminada do Progresso, o senhor de barba branca não está sempre presente. Afinal, ele precisa deixar tudo pronto para o dia 25. Logo, as meninas conduzem o passeio, que começa por uma espécie de túnel formado por lâmpadas. No alto do imóvel, mostram o presépio, as renas, a cadeira da figura mais esperada pelos pequenos em dezembro.

Quando você pensa que acabou, que é só sentar e apreciar, começam as histórias das luzes que tomam conta de cada cantinho do trecho encantando. Se os números ainda são um desafio para as ajudantes do Papai Noel, o “seu” Almir Arthur Boos, ajuda. Afinal, foi ele quem consertou a maioria das 100 mil pequenas luzes que atraem gente de todas as regiões de Blumenau.

É um trabalho árduo, tipo o do bom velhinho. Horas dedicadas a recolher as lâmpadas em casas onde tinham como destino o lixo, arrumou, isolou e, por fim, começou a instalar. Só no telhado da casa da mãe, são 6 mil, no corredor principal outras 9 mil.

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Que é tarefa difícil, ele não nega. São dias dedicados inteiramente à preparação para o Natal. Mas tudo bem, a satisfação do brilho nos olhos de crianças e adultos recompensa. A superdecoração une as famílias, não se vê ninguém chegar sozinho, exatamente como sempre desejou e cultivou o pai de Almir. Ricardo Boos morreu quando ele tinha 15 anos, e deixou a ele uma herança.

– Quando a gente era criança, não tinha pisca-pisca ainda. Eram velas com um grampo. Para o meu pai, se não tivesse isso no pinheiro e na varanda não era Natal – recorda, emotivo, o eletricista.

Os “parabéns”, “ficou lindo”, “nossa” que vêm conforme as visitas passam pela rua mostram que todo o empenho vale a pena. A dedicação, aliás, não é só do Almir. Os vizinhos também se empenham na decoração.

Enquanto os homens colocam os pisca-piscas, as mulheres saem em busca de balas para montar os pacotinhos que são entregues por Bruna e Pietra a quem chega. Até a conta de luz é compartilhada. Cada um que passa pela casa ajuda com pode e no final a festa de Natal se perpetua.

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– Enquanto eu tiver saúde e a ajuda das pessoas, eu não vou parar – ressalta Boos, ao destacar que a decoração não seria possível sem o apoio de empresas e da comunidade.

Eletricista instala 750 mil lâmpadas em casa e nos arredores

Do outro lado da cidade, na Rua Antonina, na Itoupava Norte, quem se dedica a manter o espírito natalino é Martin Grodtski. O trabalho começou há 22 anos, ainda tímido, com 2,5 mil lâmpadas.

Foi a passos de formiguinha, sempre com o apoio da família. Primeiro na decoração do pinheiro dentro de casa, depois na instalação das primeiras luzes no entorno da janela e quando viu, já tinha ganhado a rua. Para onde quer que você olhe, as luzes estão lá e elas são milhares. Na conta do também eletricista, exatamente 750 mil lâmpadas.

Preparar a casa para a celebração do nascimento de Jesus Cristo é algo que Martin e os oito irmãos faziam quando pequenos junto com a mãe, que partiu cedo, quando ele tinha só 17 anos. Assim que casou, reproduziu aquilo que aprendeu: reunir todos em torno de um propósito, que hoje é levar a alegria do Natal ao máximo de pessoas.

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O filho caçula é um entusiasta da iniciativa do pai. Tanto que neste ano deixou o campinho de futebol, xodó do garoto de 15 anos, se transformar em uma vila para o bom velhinho. Ele pensou em cada detalhe do espaço e agora traz os amigos para conhecer.

– Eles ficam me cobrando quando vão poder vir dormir aqui na casa iluminada, tem até que reservar – conta Jean.

Todas as noites, Martin, a esposa e os filhos ficam até tarde na rua para receber os visitantes. O eletricista conta que em certas noites dorme em média três horas, porque só entra em casa quando não há mais ninguém pra ver o espetáculo.

– Isso não me dá cansaço. O Natal é assim (fala apontando para as pessoas). É a família toda junta. Por isso o mais importante para a gente é recebê-los – afirma o eletricista.

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Quem vai até a Rua Antonina compartilha da mesma opinião. O casal Leice e Sandro Menestrina não tem filhos, mas reservam um espaço na agenda para apreciar a iluminação e se inspirar na dedicação da família Grodtski. A visita ficou registrada em fotos, nas inúmeras selfies feitas por quem esteve lá. No presépio, na árvore, com o Papai Noel. As cenas são muitas, mas o sentimento é um só:

– É um tempo especial. Não tem quem não mude ao menos um pouco nessa época – acredita Leice.