Anos antes do gramado do Maracanã ser invadido por jornalistas, todos ávidos por uma palavra daquele jogador de fez o milésimo gol da carreira e se tornaria o Rei do Futebol, os gramados de Santa Catarina foram palco da primeira excursão para fora de São Paulo do "ex-Gasolina", menino franzino de 16 anos que viria a ser apelidado de Pelé.

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No dia 17 de fevereiro de 1957, o América, de Joinville, recebeu o Santos do quase desconhecido Pelé no Estádio Edgar Schneider, no Norte de SC, que um ano depois encantaria o mundo na Suécia, no primeiro título mundial da Seleção Brasileira. O Peixe aplicou 5 a 0 no primeiro jogo e fez 3 a 1 no segundo, dois dias depois. Mas o camisa 10 só foi de fato balançar as redes no Estado em 1961, quando o Santos fez um amistoso com o Olímpico, em Blumenau. E ele fez logo cinco na goleada de 8 a 0.

Nesta terça-feira, dia 19 de novembro, o gol mil da carreira do Rei irá completar 50 anos. Foi de pênalti, no Maracanã, sobre o Vasco, com a comemoração descrita na primeira linha deste texto.

Dezessete anos depois de dedicar o milésimo gol para as criancinhas, nascia Douglas da Silva, na Baixada Santista. Torcedor fanático do Peixe, carrega consigo, na pele, aquele que é considerado o melhor jogador de todos os tempos.

– Eu já tinha a tatuagem com os símbolos do Santos, aí falei que iria fazer o maior ídolo do clube. Meus amigos falaram “tá louco, vai desenhar o Pelé?”. Uns falavam mal dele como pessoa, mas eu estava tatuando o Pelé jogador, o ídolo do meu clube, o Edson Arantes eu nem conheço – conta o santista, que desde 2015 mora e sofre pela equipe direto de Florianópolis.

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A imagem na canela da perna direita ainda traz os dizeres: “Antes dele 10 era só um número”. E ter Pelé na pele, com toda cacofonia que isso pode dar, surgiu pela paixão pelo Santos.

– Minha primeira lembrança (do Pelé) foi em casa, histórias do meu pai que viveu os grandes anos do Santos Futebol Clube e foi aguçando. Aí em 1994 comecei a entender o futebol, ele falar da década de 1960, o auge do clube, aí foi criando interesse. O maior ídolo do meu clube, o atleta do século, pra mim é um orgulho carregá-lo comigo.

Pelé, que hoje tem 79 anos e vem enfrentando problemas de saúde, tem outro fator que faz Douglas sorrir ao falar do ídolo:

– Ele nasceu no dia 23 de outubro, mesmo dia que a minha mãe.

Douglas da Silva, fã de Pelé
Douglas da Silva mora em Florianópolis (Foto: Tiago Ghizoni / NSC Total)

No jogo do gol mil, Oberdan estava fora

Oberdan Vilain era um zagueiro técnico, vigoroso, nascido em Florianópolis, e se tornou um dos grandes companheiros do “Negrão” nos 10 anos que defendeu o Santos, de 1965 a 1975. No entanto, no 19 de novembro de 1969, o titular da defesa santista não estava em campo. No histórico jogo do milésimo gol de Pelé, Oberdan ficou fora por conta de uma lesão, até hoje muito sentida e reclamada por ele.

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– Foi uma tristeza. Tive uma distensão muscular que acabou comigo. Fiz de tudo, infiltração na minha coxa, tudo para ir ao Maracanã. Aí eu falei: “pô, doutor eu preciso jogar, eu queria ir”, mas ele dizia que não tinha como. Dava injeção lá dentro do músculo. Não tive essa felicidade – conta Oberdan, empresário na Capital e que mantém, até hoje, amizade com o Rei.

No entanto, a lembrança ainda está bem viva para o ex-zagueiro, que recorda como foi ver Pelé depois de bater aquela marca histórica.

– Foi no campo, eu estava treinando. Aí no reencontro teve a tristeza (por não ter jogado), o abraço no Pelé, o parabéns, e ele me disse: "Que pena que você não foi".

Pelé
Oberdan Vilain e Pelé no Santos (Foto: Divulgação/Arquivo)

"Você quer acabar com o Pelé?"

Em 15 de agosto de 1972, pela primeira e única vez, Pelé atuou em Florianópolis. Foi no Estádio Adolfo Konder, o popular “Pasto do Bode”, local onde hoje se encontra o Beira-Mar Shopping. O responsável por fazer o Santos atuar na cidade? Oberdan.

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Gito Daux, empresário da cidade, queria trazer o Peixe, mas não sabia como. O zagueiro foi conversar com Nicolau Moran, presidente do clube, que não queria, mesmo com o zagueiro dizendo que o gramado do estádio “era maravilhoso”. Oberdan foi falar com Pelé. Se o camisa 10 aceitasse, o Santos acharia um espaço na concorrida agenda.

– Chamei e disse: "Pelé, quero falar contigo". Ele me chamava de Alemão, de Oberdan, misturava tudo. Aí eu contei a história para ele: “Pelé, pelo amor de Deus, cara, me ajuda, tá todo mundo esperando, eu já tinha combinado que o Santos ia jogar lá na minha terra”. Quase chorei, fiz de conta que chorava, e o Pelé: "Por mim tudo bem, acerta com o Nicolau Moran lá". O dirigente aceitou, agradeci, e fomos para lá.

Só que a promessa de gramado perfeito não se confirmou. E o medo bateu.

– O Moran, que foi com a equipe, quando viu o gramado me disse: “Eu não acredito que você fez isso, que falta de consideração. E se o Pelé se machucar?”. Fiquei me borrando de medo. No vestiário não cabia mais que 10, 12 pessoas e eu torcendo para ele não entrar no campo, que estava cheio de buraco. Disse a ele que não era assim o campo, que o exército tinha feito um torneio e havia chovido sete dias seguidos. Ele disse: “Sete dias é coisa de mentiroso” – conta Oberdan, se divertindo com as lembranças.

Avaí x Santos de Pelé
Avaí x Santos de Pelé (Foto: Divulgação/Arquivo)

Pelé fez cinco gols em jogo em Blumenau

Nilson Greuel e Mauro Longo, ex-jogadores do Olímpico, de Blumenau, que estiveram em campo contra o Rei, em entrevista ao Jornal de Santa Catarina em outubro de 2010, garantiram: “Cinco gols ele não fez”.

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No entanto, a súmula do jogo e a contagem dos mil gols asseguram que Pelé balançou as redes do Blumenau, sim, cinco vezes.

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