A caravana de mulheres bolsonaristas comandada pela primeira-dama Michelle Bolsonaro desembarcou nesta sexta-feira (21) em Minas Gerais e, assim como tem ocorrido nos outros estados em que elas passaram, o tom dos comícios teve caráter majoritariamente evangélico e de fortes ataques a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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No mesmo dia em que o petista fazia campanha em Teófilo Otoni (MG) e Juiz de Fora (MG), Michelle e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), ambas evangélicas, comandaram um ato em Governador Valadares (MG). A cidade é distante apenas 140 km de Teófilo Otoni, onde estava o petista.

— Eu estou achando esse pessoal aqui santo demais — discursou Damares, no início de sua fala. 

E emendou logo depois para um público de algumas milhares de pessoas em um salão do parque de exposições da cidade: 

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— Onde é lugar de bandido?

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Depois de um tempo, boa parte do público passou a bradar o bordão bolsonarista “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”. Michelle riu, aplaudiu e entoou junto o coro.

Em sua fala, que fechou o ato, a primeira-dama voltou a classificar o governo do marido como obra divina e afirmou serem tolos os eleitores que optam por candidatos de esquerda:

— A Bíblia é tão maravilhosa que ela diz que os sábios se inclinam para a direita e os tolos se inclinam para a esquerda. O recado tá dado. E não sou eu quem estou falando, foi Deus quem falou.

A coincidência de agendas da primeira-dama e do candidato do PT se repetirá neste sábado (22), dessa vez com a separação de apenas alguns poucos quilômetros.

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A caravana da primeira-dama participará pela manhã de ato na Pampulha, região nobre de Belo Horizonte, no mesmo horário em que Lula participará de evento em Venda Nova, na periferia da cidade, e Ribeirão das Neves, na região metropolitana.

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Michelle, Damares e outras bolsonaristas promovem desde o início do mês uma caravana pelo país com o mote “mulheres com Bolsonaro”. Elas já percorreram diversas cidades do Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste.

A chegada da comitiva a Minas foi carregada pelo simbolismo de o estado reunir o segundo maior eleitorado do país e ser uma espécie de espelho da situação nacional.

Desde a redemocratização, todos os eleitos também triunfaram nas urnas mineiras: de Fernando Collor (1989) a Jair Bolsonaro (2018), passando por Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998), Luiz Inácio Lula da Silva (2002 e 2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014).

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No primeiro turno, Lula venceu Bolsonaro em Minas com praticamente o mesmo placar nacional – 48,29% dos votos válidos, contra 43,60% do adversário.

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Em Valadares, Damares afirmou que a virada a favor de Bolsonaro já ocorreu no estado, mas que eles não querem apenas ganhar, querem ganhar “de lavada”.

Além de parlamentares eleitos, o ato contou com a presença também do prefeito da cidade, André Merlo, que se elegeu pelo PSDB, mas anunciou recentemente sua desfiliação.

O primeiro compromisso da comitiva de mulheres bolsonaristas em Minas foi em Almenara, no norte do estado. A região foi o lugar em que Lula obteve as vitórias mais expressivas sobre Bolsonaro, do ponto de vista proporcional.

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A sexta-feira do tour bolsonarista em Minas seria encerrada ainda com outro ato político-religioso à noite, em Ribeirão das Neves –mesmo local em que Lula irá comparecer neste sábado.

Ribeirão deu vitória expressiva a Lula no primeiro turno. O prefeito da cidade, Junynho Martins, que se elegeu pelo DEM (hoje União Brasil), declarou apoio a Bolsonaro.

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O padrão dos eventos comandados por Michelle e Damares em todo o país tem sido similar.

A primeira-dama, que no início da gestão do marido adotava uma postura mais discreta, partiu para a ofensiva nos atos da caravana, com discursos que misturam religião, elogios ao marido e ao seu governo e ataques ao PT e a Lula.

Ela já usou termos como “partido das trevas” para se referir ao PT, além de recorrer ao velho mote bolsonarista de, sem qualquer amparo na realidade, anunciar uma ameaça comunista em caso de vitória dos adversários.

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Nesta sexta, ela repetiu a dose, dizendo aos valadarenses que o Brasil é o último ponto de resistência ao comunismo.

A participação de Michelle na campanha tem como principal objetivo vencer a resistência do público feminino a Bolsonaro, político que colecionou inúmeros episódios de machismo em sua carreira.

Segundo a última pesquisa do Datafolha, Lula tem 51% das intenções de voto no eleitorado feminino contra 42% de Bolsonaro.

*Reportagem Ranier Bragon

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