A socialista Verónica Michelle Bachelet, médica de formação e política por herança e vocação, deixou a presidência do Chile em 2010 com 80% de popularidade e agora está retornando. Mais que isso: voltará dando ênfase àquilo que pode ser considerado o resultado de um “orçamento participativo informal”, resultante dos protestos de rua que exigem educação pública como prioridade para tornar o país socialmente mais justo.

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Como em todo “orçamento participativo”, a receita já foi prevista para a implementação das prioridades. Michelle Bachelet, com maioria parlamentar e disposição ao diálogo, está determinada a promover uma reforma tributária a fim de revolucionar a educação. Impostos sobre lucros e reduções de incentivos fiscais poderiam acrescentar US$ 8,2 bilhões aos cofres públicos, que respaldariam a educação gratuita. É todo um pacote.

Claro, tudo ainda precisa passar pela confirmação da sua eleição neste domingo, quando enfrenta em segundo turno a governista Evelyn Matthei. Trata-se, porém, de uma quase homologação. No primeiro turno, Bachelet, mantendo uma imagem amável, teve 46,6% dos votos contra 25,01% de Evelyn. Os analistas comentam que ela tem uma aura maternal.

Doutor em Comunicação Política, Claudio Agurto, diretor da Puntonorte Comunicaciones e professor da Universidade de Santiago do Chile, diz que Bachelet trata de assegurar a vantagem para depois manter a popularidade em alta a fim de ter governabilidade. E, claro, mexer na educação é o grande pilar para alcançar esse objetivo.

– Ela sabe administrar sua popularidade e continuará fazendo isso. Asseguro: é a nova presidente – diz.

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No encerramento da campanha de segundo turno, quinta-feira passada, Bachelet não deixou por menos:

– Temos duas opções: a de mudanças e a que se opõe a elas.

Evelyn já mostra estratégia de se opor às medidas

Já Evelyn fez uma defesa do governo de Sebastián Piñera, de quem foi ministra do Trabalho.

– Não podemos permitir experiências que deram resultados negativos em outros países – alfinetou.

Com a vitória virtualmente assegurada, analistas como Kenneth Bunker, da Universidade Diego Portales (de Santiago), estimam que a socialista almeja conseguir mais que 60% dos votos. Seria um simbolismo para manter o respaldo popular. E as pesquisas mostram que isso é plausível. Bachelet tem 66,3% das intenções de voto, contra 33,7% de Evelyn, conforme o instituto Ipsos em parceria com a Universidade de Santiago do Chile.

Ecos da ditadura Pinochet

Os chilenos escolherão entre as filhas de dois generais da Força Aérea que eram amigos, mas que ficaram em lados opostos durante o golpe militar de Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973. O pai de Michelle Bachelet, Alberto Bachelet, foi leal ao presidente deposto, o socialista Salvador Allende. Torturado, morreu na prisão. O de Evelyn Matthei, Fernando Matthei, integrou a cruenta junta militar de Pinochet.

A própria Bachelet, que pavimenta o trajeto para seu retorno à presidência (governou entre 2006 e 2010 e só não permaneceu porque a reeleição inexiste no país) foi presa e torturada depois do golpe e teve de ir para o exílio. Aliás, muitas das mudanças que Bachelet se propõe a fazer até 2018 se referem a modelos da época da ditadura (1973-1990), que não foram modificados nem mesmo por ela. Exemplo: o sistema educacional.

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