Recolhido ao amplo escritório que mantém no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer tem pressa. Vencida a etapa do impeachment na Câmara e com os votos necessários para o processo avançar para o Senado, Temer considera que o governo Dilma Rousseff tem pouco mais de duas semanas de sobrevida. Nesse período, pretende concluir a escolha de seu ministério e definir as medidas a serem anunciadas tão logo ela seja afastada do cargo.

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Consciente de que precisará exibir resultados positivos em um curto período de tempo, o vice irá compor primeiro a equipe econômica. A preferência é por alguém com respaldo do mercado e interlocução no Congresso, predicados necessários à aprovação de medidas polêmicas que permitam fluxo de caixa ao governo. Entre as ações em análise no restrito grupo que discute economia com Temer, está a desvinculação de boa parte das receitas da União. Hoje, 90% dos recursos federais têm destinação obrigatória, o que engessa o orçamento. Outra iniciativa em estudo é extinguir a indexação dos benefícios sociais ao salário mínimo. Em contrapartida, para atenuar a rejeição popular, é cogitado um reajuste no valor do Bolsa Família.

— Ele vai tomar medidas rápidas e de impacto. O ideal é definir os recursos para áreas sensíveis, como saúde e educação, e deixar o resto do orçamento mais livre — resume um assíduo frequentador das reuniões no Palácio do Jaburu.

Objetivo é equilibrar apoio do mercado e da população

Para frear o desemprego, Temer é aconselhado a alterar leis trabalhistas, ampliando as possibilidades de terceirizações. Seria uma compensação ao setor produtivo diante de um inevitável aumento de impostos, já que um dos homens mais próximos do vice, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, é um entusiasta da flexibilidade nas relações entre empresas e trabalhadores. Porém, Skaf está à frente da campanha Não Vou Pagar o Pato, que combate a alta carga tributária.

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Temer sabe que tem o apoio do mercado e do empresariado. Em contrapartida, é rejeitado pela população nas pesquisas de opinião. Sua preocupação, portanto, é equilibrar essas duas forças na largada do governo. Para tanto, precisa manter como base de sustentação no Congresso a maioria expressa no domingo, durante a votação do impeachment. Essa fidelidade será conquistada na montagem do ministério.

Embora Temer já tenha decidido reduzir o número de pastas, das atuais 31 para cerca de 20, espaço não falta para acomodar os novos aliados, sobretudo nos escalões inferiores. Uma das primeiras medidas que tomará logo após a posse será exonerar com rapidez o contingente petista alocado nos mais de 20 mil cargos em comissão.

Nos ministérios de maior orçamento e visibilidade, estarão pessoas de sua confiança irrestrita, como os ex-deputados Eliseu Padilha e Moreira Franco, notáveis escolhidos a dedo, tal qual o expresidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, e representantes dos partidos com maiores bancadas no Congresso. As demais pastas, os cargos em estatais e na burocracia governamental serão distribuídos entre as legendas de menor expressão, fisiológicas mas fundamentais na aprovação de mudanças constitucionais, por exemplo, que exigem voto favorável de dois terços do Congresso.

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— Tudo isso está sendo definido a partir desta segunda-feira. As reuniões não param, até porque o time não tem tempo para treinar e vai ter de estrear jogando bem — resume um graduado peemedebista.