Um dos principais autores policiais em atividade, Michael Connelly produz muito e rapidamente. E não raro ancora suas tramas na realidade imediata, transformando-as em comentários da contemporaneidade. É o que faz em seu mais recente lançamento no Brasil, A Quinta Testemunha, no qual usa as consequências da crise financeira internacional como pano de fundo para um romance de crime.
Continua depois da publicidade
Em A Quinta Testemunha (Tradução de Cássio de Arantes Leite. Suma de Letras, 422 páginas, R$ 44,90), o protagonista é o advogado Michael Haller – que já havia aparecido em outros romances, como O Poder e a Lei, transformado em filme estrelado por Matthew McConaughey. Especialista criminal, Haller é forçado pela crise a mudar de ramo, atuando como defensor de alguns dos milhares de americanos que estão tendo suas hipotecas executadas pelos bancos. Ele é forçado, no entanto, a se ver outra vez diante de um júri criminal depois que uma de suas principais clientes, uma ruidosa ativista, é acusada de executar – no sentido físico – o gerente de execuções – no sentido jurídico – do banco que tentava tirar-lhe a casa.
Uma das características que dotam de valor a obra de alguns grandes romancistas policiais contemporâneos é o equilíbrio delicado entre a manutenção de uma forma que é mais ou menos a mesma desde o século 19 (afinal, um romance de crime faz parte de um gênero bastante demarcado) e a subversão dessa mesma forma. É o truque dos grandes autores de suspense da contemporaneidade, como Fred Vargas, Dennis Lehane, Ian Rankin: desenvolver um estilo pessoal reconhecível no meio do que é, essencialmente, uma receita formulaica.
Connelly também faz parte desse time. Seus livros, embora tragam histórias fechadas e independentes, têm o hábito balzaquiano de fazer com que personagens de uma narrativa apareçam como coadjuvantes em outras, montando um grande painel da sociedade americana. Mas, em A Quinta Testemunha, ele é menos bem-sucedido.
Diferentemente dos livros de Connelly protagonizados pelo detetive Harry Bosch, as histórias em que Michael Haller é o centro têm de lidar, ainda, com outra fórmula (bem típica do mercado editorial americano): o romance de tribunal. Em A Quinta Testemunha, é aí que Connelly desaponta. Embora trate de um tema candente do momento, como a crise econômica, o foco do romance no julgamento (também um teatro com regras demarcadas) não se afasta muito do modelo de autores como John Grisham ou Scott Turrow. Dado o que Connelly já fez antes,não é o bastante.
Continua depois da publicidade