Uma primeira família entre as milhares de pessoas da minoria muçulmana rohingya refugiadas em Bangladesh para fugir da violência em Mianmar retornou ao país, anunciou o governo birmanês no sábado (14).

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“Os cinco membros da família (…) retornaram ao campo de repatriação da cidade de Taungpyoletwei, no estado de Rakhin, esta manhã”, informou o governo em um comunicado publicado no Facebook pelo Comitê de Informação.

O governo disse que a família tinha sido enviada “temporariamente” para a cidade de Maungdaw, onde tem parentes. Esta cidade, localizada ao lado do rio Naf, que marca a fronteira entre os dois países, está no epicentro da crise.

Desde agosto do ano passado, mais de 670 mil rohingans fugiram para Bangladesh para escapar da violência, que a ONU chamou de “limpeza étnica” orquestrada pelo exército birmanês.

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O governo “vai verificar quais são as dificuldades encontradas pelas pessoas que sofrem devido aos conflitos para melhorar o processo de repatriamento”, aponta o comunicado.

As autoridades não informaram se esse primeiro retorno simbólico será seguido por outros.

A questão do retorno dos refugiados é acompanhada de perto pela comunidade internacional e as ONGs têm alertado para a falta de preparo de Mianmar, que deveria ter construído acampamentos temporários para os rohingyas que tiveram suas casas incendiadas.

A estas dificuldades acrescenta-se a discriminação contra este grupo, alimentada pelo nacionalismo budista.

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– “Condições não são propícias” –

A declaração descreve a família como “muçulmana”, em consonância com a política do governo de não usar a palavra “rohingya”, que as autoridades não reconhecem como um grupo étnico.

As autoridades verificaram “se eles viviam no país antes” e deram a eles um cartão de verificação nacional, um tipo de carteira de identidade que não confere cidadania e que os líderes rohingyas rejeitam, pois reivindicam direitos plenos.

Os rohinyas, de confissão muçulmana, são alvos de um forte movimento budista em Mianmar, que os considera uma ameaça à predominância de sua religião no país.

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O governo civil da prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi parece mergulhado nesse ódio anti-rohingya, instrumentalizado por décadas pela junta militar que governo o país.

Os rohinyas são a maior população apátrida do mundo, depois de terem sido privados da nacionalidade birmanesa em 1982.

A maioria de seus vilarejos foram incendiados durante a onda de violência, segundo a organização Médicos Sem Fronteiras, que estima que no primeiro mês da crise pelo menos 6.700 pessoas morreram.

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Depois de visitar o estado de Rakhin este mês, Ursula Mueller, subsecretária-geral da ONU para Assuntos Humanitários, disse à AFP que “neste momento, as condições não propiciam um retorno voluntário, digno e sustentável” dos refugiados.

Ela considerou que Mianmar deve abordar questões críticas como “liberdade de movimento, coesão social, fonte de subsistência e acesso a serviços”.

* AFP