Quem não lembra do trem-bala brasileiro? O projeto, que pretendia ligar as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, oficialmente custaria R$ 33 bilhões (o mercado estimava R$ 50 bilhões) e exigiria enormes subsídios. Só os estudos custaram R$ 1 bilhão ao Tesouro. Felizmente, o projeto foi abandonado a tempo de não aumentar o prejuízo.

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Neste caso, faltou compreender que a viabilidade econômica de um projeto difere de sua viabilidade financeira. Por exemplo, uma rede de esgoto em uma comunidade carente pode custar muito mais do que aquelas pessoas poderiam pagar. Contudo, os custos de não tê-la são maiores do que um eventual subsídio do Estado, já que esgoto não tratado implica em problemas de saúde pública não só para as pessoas que vivem na comunidade, como para toda a cidade.

Por outro lado, rodovias hoje abarrotadas de usuários clamando por duplicação poderiam ser custeadas por pedágios, já que o benefício percebido pelos usuários (tempo economizado, segurança, conforto) é maior do que o custo. Percebe-se que ambos os exemplos apresentam viabilidade econômica.

No entanto, enquanto a rodovia possui viabilidade financeira (a tarifa cobrada é suficiente para arcar com todos os custos associados, inclusive de remuneração do capital investido), a rede de saneamento precisou de uma ¿forcinha¿ para fechar suas contas.

Considerando a escassez de recursos disponíveis, a priorização representa uma etapa crítica no processo de seleção de investimentos. Faz-se necessário colocar, em uma só base de dados, todos os potenciais projetos de infraestrutura do país, para que possam ser comparados entre si e escolhidos por critérios objetivos.

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Um banco nacional de projetos, reunindo oportunidades em diferentes setores, demonstrando o retorno de cada um, seria um ótimo primeiro passo para oferecer lógica à seleção dos projetos. Com isso, blindam-se as instituições, aumenta-se a transparência das informações e cria-se uma visão de longo prazo para o país – com esgoto primeiro, trem-bala depois.

*Andriei José Beber é doutor em engenharia e vive em Blumenau

*Colaborou Diogo Mac Cord de Faria, administrador

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