A principal característica estava mais aparente do que nunca. De orelha a orelha, o sorriso que tornou Napoleão Bernardes (PSDB) famoso – ou que se tornou famoso – teimava em se manter intacto. Esboçava uma fuga em uma ou outra resposta mais séria, e se transformava facilmente em gargalhada:

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– Mais quatro anos sem férias, prefeito?

– Hahahaha – antes de responder que as dívidas em casa estão acumuladas.

O primeiro dia de Napoleão depois da reeleição foi de agenda lotada e distribuição de sorrisos e abraços. A sala de espera no terceiro andar da prefeitura não ficou vazia enquanto o tucano ficou por lá – a fila dos cumprimentos foi extensa.

No gabinete ele não recebia as congratulações sozinho. Já recebia a ajuda do vice-prefeito eleito, Mário Hildebrandt (PSB), engrossando o coro do “trabalharemos lado a lado”. A afinidade parece ser de uma vida inteira, mas ninguém fala claramente do futuro.

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– A posição será construída de maneira tranquila – diz o prefeito.

– Da forma que for melhor para fazer esse trabalho deslanchar ainda mais – completa o vice.

Confira os principais trechos da entrevista concedida ontem de manhã, sob o som dos carros na Beira-Rio e com a brisa do Itajaí-Açu entrando pela janela do gabinete que terá o mesmo inquilino nos próximos quatro anos:

Você começa o segundo mandato agora ou há pendências que precisam ser concluídas em 2016?

Napoleão Bernardes – É o mesmo prefeito, mas é um novo mandato. São novos desafios, é uma nova conjuntura da política, da economia, então, com certeza será um segundo mandato com as próprias marcas. Com o preparo adquirido da vivência do primeiro, claro que a gente chega no segundo com muito mais capacidade de realização. A reeleição renova o ânimo e aumenta o peso da responsabilidade em relação a retribuir a confiança das pessoas com muito trabalho, empenho, fé e obstinação em busca de mais resultados. Mas até dezembro temos o desafio legal do fechamento das contas do primeiro mandato, isso é da Lei de Responsabilidade Fiscal. Temos muitas tarefas administrativas vinculadas ainda ao primeiro mandato. Em paralelo a isso tem uma tarefa de transição, pois por mais que seja o mesmo prefeito, são novas metas, então tem essa primeira fase, que é de agradecimento, e aí tem essa fase de transição que é uma autoavaliação. A cada dia a gente tem que aperfeiçoar, e o governo da mesma forma, para a partir de 1º de janeiro de 2017 iniciar o segundo governo com tudo engatilhado.

O que muda na expectativa de iniciar o segundo mandato? É mais confortável, já que você chega conhecendo a situação da prefeitura?

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Napoleão – É outra realidade. Tivemos uma excepcional transição em 2012 e sempre reconheci publicamente a postura do ex-prefeito João Paulo (Kleinübing, do PSD). Mas é importante lembrar que fui eleito prefeito com 30 anos recém-completados, disputei a eleição com 29, fui o prefeito mais novo e mais votado de toda a história de Blumenau. Isso traz todo um peso extraordinário de responsabilidade. Agora com 34, ainda novo mas já reeleito, o que já nos traz a experiência da responsabilidade administrativa, mas os desafios são sempre rotineiros e maiores. Vamos enfrentar uma conjuntura econômica e política bastante adversa, então será um trabalho altamente desafiador.

Falando em transição, você já está pensando em como compor o secretariado para o segundo mandato, considerando que a sua aliança contempla 12 partidos?

O meu perfil sempre foi compor secretariado ou governo com as pessoas certas nos lugares certos, buscando vivência profissional, comunitária, política, das pessoas que venham a integrar o governo. Mudanças de colegiado são rotineiras, no meu primeiro governo elas aconteceram, então é natural que no segundo governo mudanças também possam vir a acontecer. A busca dos talentos para compor a administração nós fazemos independente da ficha de filiação partidária, mas obviamente vamos buscar dentro dos partidos que nos apoiaram pessoas capazes, com vivências que sejam condizentes com a área de atuação. Se encontrarmos no arco de alianças, melhor, porque são os partidos que primeiramente nos apoiaram. E para mim ficha de filiação nunca foi critério nem de aceitação, nem de veto. Tenho nesse primeiro governo secretários que sequer votaram em mim e foram convidados porque tem um bom perfil para o cargo, e vai continuar assim.

Nessa reta final do primeiro mandato vai haver alguma mudança, já que que alguns secretários saíram para se candidatar ou apoiar a campanha?

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É possível que alguns secretários que eventualmente tenham deixado as suas posições para a disputa da eleição ou para contribuir na coordenação da campanha retornem às posições originais para o fechamento do governo. O que não quer dizer que essa recondução signifique a condução automática para o segundo mandato. Estas questões vão ser discutidas nas próximas semanas, tudo dentro do seu tempo.

Considerando o novo cenário da Câmara de Vereadores em 2017, onde 10 dos 15 vereadores fazem parte da sua base aliada, qual é o primeiro projeto que você mandará para a Casa?

Devo reconhecer que sempre tivemos uma relação muito harmônica com a Câmara. Claro que ano a ano fomos construindo um relacionamento cada vez melhor, isso também é fruto da experiência e com o amadurecimento a minha relação com a Câmara também foi melhorando, mantendo a independência dela, como deve ser, mas a harmonia que também deve imperar, isso deve coexistir, é a regra do jogo. Quanto a projetos especificamente, tem uma série de compromissos de governo para o segundo mandato, a fase de transição também é a organização disso, então os projetos de lei a serem encaminhados vão depender da transição.

E como essa questão da base maior vai influenciar na definição da nova Mesa Diretora da Casa? Você pretende participar de alguma forma?

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A minha prática sempre foi de respeito às decisões da Câmara e nunca houve uma influência direta nesse sentido, até porque a eleição da Mesa Diretora é algo bastante interno do conjunto de vereadores. Agora, no campo dos aliados, vai haver uma tratativa junto a esses partidos e vereadores para que haja uma construção única e que, eventualmente, possamos ter a consolidação de uma maioria que permita a eleição da Mesa nesse contexto.

Você e o vice-prefeito eleito, Mário Hildebrandt (PSB), já conversaram sobre qual será o papel dele no governo durante o segundo mandato?

O Mário tem experiência na iniciativa privada, em gestão de entidade não-governamental, na área pública como secretário de Assistência Social e no Legislativo. Formado em Serviço Social, Administração, especializado em Contabilidade, respeitado pelo seu caráter e pela sua biografia irretocável. Será meu parceiro para trabalhar lado a lado na condução do governo. Vai ter um papel de protagonismo.

Mário Hildebrandt: Serei vice-prefeito, acho que essa é a função que a comunidade me elegeu, e vou atuar lado a lado com ele, a quatro mãos, trabalhando para fazer o melhor pela cidade. E a partir de 1º de janeiro vamos fazer aquilo que eu e o Napoleão sempre fizemos na vida pública desde que estamos nela: trabalhar, trabalhar e trabalhar.

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