Aos 66 anos, Norma Ubatuba orgulha-se de ter ensinado três gerações da mesma família em Blumenau. Professora desde 1964, quando cursou o magistério na Escola Pedro II, tem 48 anos de sala de aula e um objetivo: alcançar os 50. Estudou Pedagogia na Furb na década de 1960, mas nunca se formou. A menina que ensaiava aula de cálculos e caligrafia em frente às bonecas, descobriu a profissão por vocação, inspirada nos primeiros mestres, Altamir da Silva e Maria de Souza. Hoje,
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Norma leciona para Bruno, que frequenta 4º ano da Escola Vidal Ramos. Mas a professora já lecionou para o pai dele, Carlos, e para a avó dele, Neusa. Em entrevista ao Jornal de Santa Catarina, Norma falou um pouco das mudanças na sala de aula.
Jornal de Santa Catarina – Como era o sistema de ensino, ao dar aula para a Neusa, para o Carlos e agora para o Bruno?
Norma Ubatuba – Da Neusa para o Carlos não mudou muito, porque era o mesmo colégio, o mesmo método. Era tudo mais simples. Eu não conhecia a mãe da Neusa, mas ela dava tudo de si. O Carlos eu conhecia a mãe e dizia que ia falar para ela. Agora está muito diferente. Os pais não têm mais tanto tempo para os filhos, raramente olham as tarefas. A gente nota nitidamente qual aluno tem acompanhamento em casa, faz tarefa mais bonita, pesquisa por conta própria.
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Santa – Os conteúdos mudaram?
Norma – Quanto ao conteúdo, não mudou muita coisa não. Mudaram os métodos, a maneira de ensinar. Antigamente substituí uma professora de História, pegava o livro, estudava aquele texto, chegava à sala, explicava e aplicava questionário. Hoje tem de saber muito mais do que eles. Porque eles têm acesso à internet. Se eles fazem uma pergunta e a gente não sabe, aí vamos procurar, pegar o dicionário, livro. A gente tem que interagir.
Santa – A figura do professor mudou?
Norma – Eles não aceitam mais tudo o que a gente diz, eles questionam muito. Tem aqueles que respeitam como se fossemos os pais deles, outros tratam como se a gente fosse coleguinha e falam qualquer coisa. Isso não vem da escola. Naquela época era uma autoridade. Os pais chamavam de senhor e de senhora. A gente não pode mais ter tanto rigor, tem de aceitar mais coisas.
Santa – Existem outras situações que eram comuns no início do seu magistério e hoje foram abandonadas?
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Norma – Catar piolho, olhar unhas. Uniforme era rigoroso, tinha de ser completo. Hoje eles até ganham uniforme e não usam.
Santa – E a valorização do profissional?
Norma – Naquele tempo, todas as meninas queriam ser professoras. Hoje, talvez uma ou duas, porque querem agradar a professora. Está difícil o jovem se dedicar a uma causa praticamente perdida. Quando a gente encontra um ex-aluno que nos reconhece, enche a gente de prazer e alegria.
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Santa – O que melhorou?
Norma – A gente tem a coordenação para ajudar, o auxilio da psicopedagoga, que conversa com crianças com problemas. É muita síndrome hoje em dia, isso naquele tempo não tinha. Ou o aluno era bom ou não, ou aprendia ou não aprendia. Reprovava se não sabia e pronto. Hoje em dia não, vai passar quase tudo, porque tem a justificativa da síndrome. Aí vai chegar ao Ensino Médio sem escrever, porque tem síndrome.
Santa – A senhora trocaria o passado pelo presente?
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Norma – Era mais fácil naquela época, mas a gente não tinha tanto recurso. Hoje tem Educação Física, Artes, Informática, eles têm mais saída. Mas falta um pouco de Português, Matemática.
Santa – Por que a senhora decidiu ser professora?
Norma – Vocação. Sempre gostei, desde pequena gostava de ir à escola. Brincava de boneca como professora. Morava na Velha e meu pai dizia: “vai ser professora para que? Vai trabalhar na fábrica”. Quando me aposentei, fiquei seis meses aposentada, tentei abrir um ateliê de costura, trabalhei em escritório, mas não, meu negócio é sala de aula.
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