Em momento algum Haroldo Paz imaginou que aquela decisão tomada em um banco da Rua XV de Novembro seria lembrada e celebrada 20 anos depois. Foi em um dia de calor de Blumenau, sentado às margens da via mais importante do comércio da cidade, que ele e Alfonso Rogério decidiram fundar um novo time de futebol na terra da Oktoberfest — e que, semanas mais tarde, viria a se chamar Clube Atlético Metropolitano.
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O hiato provocado pelo fechamento do departamento de futebol do Blumenau Esporte Clube era um fator motivador. Com outros aventureiros tentando espaço na cidade desde 1998, a dupla encontrou a oportunidade para fazer a bola rolar novamente na cidade. As tentativas frustradas de Santa Catarina Clube, Real Sport e Associação Blumenauense de Futebol se tornaram brechas para aquele 22 de janeiro de 2002.
— Se eu acreditava que chegaria ao aniversário de 20 anos? Sinceramente, não. O clube foi criado para suprir uma necessidade na época, pela falta de um time de futebol com a cara de Blumenau. Não era para nós, era para o povo e outros teriam de comandar e seguir o barco — afirma seu Haroldo, que ficou ao lado do primeiro presidente, Alfonso Rogério, até 2003.
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Passadas duas décadas, o Metropolitano encara um cenário atual em que precisa recomeçar. Rebaixado à Série B de 2022 — que começará no fim de maio —, a diretoria acompanha à média distância o processo de municipalização do Complexo Esportivo do Sesi, para poder voltar a jogar em Blumenau o mais breve possível — hoje, graças a uma parceria com o Atlético de Ibirama, o Verdão pode mandar os jogos no Alto Vale do Itajaí.
Além disso, de acordo com o presidente Valdair Matias, o Metrô se articula nos bastidores para fechar com uma nova parceria de gestão do futebol profissional — até o ano passado, vale lembrar, o clube tinha como responsável pela equipe o ex-jogador André Santos, mas esse período não é visto com bons olhos pela atual diretoria.
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— São pessoas que têm experiência. Esse novo parceiro não vem para brincadeira, vem para galgar um algo mais, com planejamento estratégico ano a ano. Já estamos conversando com eles desde o fim do Catarinense do ano passado, quando vimos que não daria para continuar com o André [Santos]. Já existe uma minuta de contrato, algumas arestas para serem aparadas, mas tudo bem encaminhado — relata o presidente. A expectativa é de que o contrato seja assinado até o fim de janeiro.

Municipalização do Sesi
Apesar de ser indiretamente interessado, o Metropolitano acompanha à distância a proposta de municipalização do Complexo Esportivo do Sesi e vê com bons olhos as tendências para este ano. Prefeitura e Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) trabalham nesse momento para tentar achar uma cifra comum para que o poder público assuma a estrutura. Na prática, um quer comprar e o outro quer vender. Os valores são mantidos sob sigilo.
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Para Matias, municipalizar o complexo situado no Vorstadt é garantir o futuro tanto para o Metropolitano quanto para o Blumenau Esporte Clube. Ele relembra os altos valores de aluguel desembolsados ao longo dos anos — que chegaram à marca de R$ 10,7 mil por jogo — como argumento para o fato de que ter uma estrutura fixa para sediar os jogos dá estabilidade às equipes.
— Hoje eu vou na federação e as pessoas me perguntam onde o Metropolitano vai jogar neste ano e todos dizem o quão inadmissível é a cidade de Blumenau não ter um estádio para os clubes. Mas estou otimista quanto à municipalização, tenho convicção que vai dar certo — afirma o presidente, que é pai do vereador Alexandre Matias (PSDB), integrante da comissão da Câmara que acompanha a negociação entre prefeitura e Fiesc.

Estádio próprio e obras no CT
A proposta de municipalizar o Sesi congelou a ideia do Metropolitano de erguer um estádio próprio ao lado da atual sede, na Rua Guilherme Scharf, entre a Itoupava Central e o Fidélis. Depois que a Fiesc sinalizou que não iria mais alugar o estádio ao clube, em 2019, a possibilidade de construir uma estrutura ao lado do CT ganhou força, mas agora volta a adormecer.
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O foco total passa a ser o término das obras no Centro de Treinamentos Romeu Georg. Primeiro, o Metropolitano quer terminar os trabalhos no quarto andar, onde será instalada uma academia e para onde será migrada a cozinha industrial que hoje funciona no imóvel. O investimento previsto para finalizar essa parte é de aproximadamente R$ 200 mil.
Depois, passa-se a pensar na implantação de campos para treinamentos ao redor, fazendo com que o clube não dependa mais de aluguéis e parcerias, como ocorre há 20 anos — com Atlético Itoupava e Associação da Altona, por exemplo. Assim, conforme Matias, o centro de treinamentos vai, de fato, virar um… “Centro de treinamentos”.
O que esperar do futuro?
O torcedor João Paulo Conceição é enfático quando diz o que quer do clube pelos próximos 20 anos: solidez e infraestrutura. Não é difícil entender o porquê dos dois temas. Nos últimos anos o Metropolitano foi rebaixado três vezes à Série B do Catarinense, não esteve mais na Série D do Brasileiro e, ainda por cima, sofreu com a falta de uma casa — desde que foi fundado o Verdão já mandou jogos em Brusque, Timbó, Jaraguá do Sul, Ibirama…
— Sempre queremos times fortes, briga por títulos, jogos grandes, mas acho que o mais importante é que se construa uma base sólida, financeira, de infraestrutura, torcida, para que não se passe mais por períodos de incertezas. Quero poder viver essa paixão no futuro com meus filhos, netos, bisnetos — aponta.
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Para que o desejo de João se concretize, alguns passos precisam ser dados. Um deles é fazer com que a dívida que o Metropolitano tem não aumente e, gradualmente, seja quitada. Hoje o clube deve na praça um valor na casa dos R$ 2 milhões, principalmente com questões trabalhistas. Não aumentar essa bola de neve é visto como essencial para os próximos anos.
Aí, soma-se a responsabilidade de gestão com olhar a médio prazo. O planejamento estratégico 2022-2026, por exemplo, prevê que o Metrô retorne à Série C do Brasileiro dentro de quatro anos. O que parece ousado, porém, é muito mais humilde do que uma proposta de 15 anos atrás que projetava o clube na Série A do Brasileirão até 2012. Para isso, o Verdão pretende retornar à elite do Catarinense em 2023, reativar as categorias de base Sub-15 e Sub-20, além de voltar à Quarta Divisão Nacional até 2024.
Se o plano colocado no papel vai ser posto em prática, só o tempo dirá. Mas Haroldo Paz, um dos fundadores do clube, pede apenas uma coisa: comprometimento:
— Cuidei do Metropolitano no início como se fosse meu filho, como uma criança. Precisamos novamente de gente séria dirigindo o clube e que inspire confiança no empresariado de Blumenau.
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