Um método de ensino tem conquistado professores no Brasil e ganhado maior popularidade em Santa Catarina por fomentar a construção do conhecimento de uma forma diferente. A metodologia chamada Sala de Aula Invertida remete a técnicas que já eram estimuladas por Paulo Freire, considerado um dos nomes mais notáveis da pedagogia, com a intenção de tornar o processo de aprendizado mais interativo.

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A professora Luciane Mulazani, que coordena o Departamento de Matemática da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e foi vencedora do Prêmio Nacional Professor Rubens Murillo Marques em 2013 por práticas inovadoras em educação, explica que a Sala de Aula Invertida é uma maneira de trabalhar com metodologias ativas de ensino. Segundo ela, nesta modalidade o estudante é estimulado a construir o conhecimento ao invés de ficar apenas na situação tradicional, recebendo informação do professor.

— É uma tentativa de colocar o aluno em situações diferentes de aprendizagem, assim ele pode ouvir, falar, discutir, debater os assuntos e as questões de sala de aula de forma diferente — explica a professora.

A ideia principal é fazer com que os alunos aprendam os conteúdos antes da aula, identifiquem as dificuldades e depois levem dúvidas, debates e discussões para a sala de aula. O procedimento é muito semelhante ao utilizado por professores na educação infantil, mas essa dinâmica muda a partir do sexto ano, quando o aluno passa a aprender a parte teórica em sala e depois realiza as tarefas em casa.

Luciane explica que há várias maneiras de aplicar a metodologia e a tecnologia desempenha papel fundamental nesse processo.

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— O professor pode preparar a aula com antecedência e dar aos alunos os caminhos da aprendizagem antes da aula, indicando áudios, filmes, jogos, aplicativos e textos para leitura. No momento da sala de aula, eles têm a possibilidade de debater, discutir o que já viram com antecedência, isso faz com que o espaço da sala de aula seja voltado para discussão e não para a introdução de determinado conteúdo — explica.

A técnica pode ser aplicada com alunos de todas as idades, desde o ensino básico até a faculdade. Responsável pelo ensino de universitários do curso de licenciatura em matemática, Luciane também estimula formas de tratar a disciplina de maneira mais atrativa, com experimentações:

— É legal trabalhar a ideia de que não é uma disciplina difícil, tirar o mito de que é um bicho de sete cabeças. Aliamos, por exemplo, o ensino de programação de computadores e robótica, para que os alunos vejam que a matemática também está presente nessas tecnologias tão atuais que temos hoje.

Método aumentou participação e presença de alunos em sala nos Estados Unidos

Casos de sucesso da Sala de Aula Invertida são relatados em instituições dos Estados Unidos. Na Universidade de British Columbia, por exemplo, professores de Física, dentre os quais fazia parte Carl Wieman, prêmio Nobel de Física em 2001, aplicaram a metodologia e conseguiram um aumento em 20% na presença e em 40% na participação dos alunos em sala de aula. Além disso, as notas dos participantes foram duas vezes maiores que as das classes que utilizam a metodologia tradicional.

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O professor Lúcio Vasconcelos dos Santos, que ministra aulas de matemática para alunos do 8º e 9º ano no Colégio Univille, em Joinville, relata que começou a aplicar a metodologia este ano, com estímulo da coordenação da escola. Mas, antes, foi necessário realizar duas reuniões com os pais, para que eles entendessem o que estava ocorrendo.

— Comecei de uma forma gradual, inicialmente usei conceitos de trabalhar em ilhas, duplas, atividades lúdicas. No começo houve certa resistência por parte do aluno, que questionava ter que estudar o material antes. Depois, eles começaram a compreender a importância, assim, o desempenho em sala e a participação evoluíram.

Santos explica que na Matemática, esse resgate funciona quase como uma revisão. Quando os alunos chegam em sala já têm uma noção do que será abordado e dominam os conceitos básicos que vão guiar o novo conteúdo. Os pais também relataram que os filhos apresentam mais interesse em realizar pesquisas.

— Acredito que quando esse movimento começa, não tem como voltar atrás, é uma evolução. Até professores que dizem que não aplicam, acabam seguindo esse rumo mesmo sem perceber. Seja com um filme ou uma leitura solicitada antes da aula —defende Santos.

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Como funciona a Sala de Aula Invertida:

1º Passo

O conteúdo é introduzido aos alunos antes da aula presencial. O primeiro contato com o conteúdo é virtual, através de vídeos, vídeo aulas, fóruns e resumos que podem ser explorados individualmente.

2º Passo

O aluno pode rever o material caso tenha dificuldade, além de fazer outras pesquisas que aprofundem o tema estudado de acordo com seu interesse. Esse é o momento em que ele levanta as dúvidas, comentários e complementos que vai levar para sala de aula.

3º Passo

Em sala de aula, os alunos tiram dúvidas e o professor propõe e orienta projetos, atividades e debates acerca do tema. O momento presencial, portanto, deve não só trazer conteúdos, mas desenvolver habilidades.

Benefícios:

Construção do conhecimento

Automotivação

Criatividade

Colaboração

Autonomia

Organização

Fonte: Plataforma Geekie