A missa começara havia apenas 15 minutos e uma multidão já se espremia para ir embora – Copacabana estava superlotada, ninguém mais conseguia chegar perto do Papa – até que um empurra-empurra começou na Avenida Atlântica.

Continua depois da publicidade

Quando uma menina caiu no chão e sua mãe pediu, por favor, que cessassem os encontrões, cerca de 10 paraguaios pararam no meio da rua, se abraçaram por cima dos ombros e iniciaram uma Ave Maria. O tumulto foi se aquietando – e os paraguaios foram aplaudidos.

>> Leia todas as notícias sobre a vinda do Papa

Episódios como esse só parecem plausíveis durante a Jornada Mundial da Juventude, que reuniu ontem no Rio de Janeiro milhares de católicos sedentos por ver o Papa. Poucos conseguiram. A maioria se espremeu durante horas, na praia ou no asfalto, sem nenhuma chance de aproximação.

Continua depois da publicidade

– Mas só o calor do público já nos faz sentir perto de Deus – garantiu a mexicana Liliana Doneji, 31 anos, confirmando o espantoso otimismo que se derrama entre os peregrinos.

Liliana passou das 14h às 19h com um banco de plástico sobre a cabeça – a ideia era sentar-se quando fosse possível, mas não havia um único naco de areia vazio. Passou o tempo todo carregando a tralha sobre a testa, enquanto um grupo da Indonésia descansava em cima de um caminhão de bombeiros. Fredyka Salim, de 23 anos, um dos indonésios, reconhecia estar assustado: em seu país, as pessoas são calmas, quietas, organizadas, não apreciam agitações tão intensas – e apenas 3% da população é católica.

– Nunca vimos nada parecido. Em nosso país, não conseguimos nem construir igrejas porque o povo é resistente. Aqui, são tantos como nós que precisamos nos dividir em grupos pequenos, que é para ninguém se perder sozinho – dizia outra indonésia, Dea Hartika, 22 anos, revelando a disciplinada estratégia do grupo.

Continua depois da publicidade

Embora um burburinho que outro fosse inevitável, o mar de gente que tomou Copacabana chamou a atenção da polícia – acostumada com os réveillons na orla carioca – pela tranquilidade com que a massa convivia. Um dos motivos do sossego era a rejeição ao álcool: não parece haver público menos interessado em encher a cara do que os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude.

– Essa turma de Deus é sempre uma barbada para nós – sorria um soldado da PM.

O caso das jovens Irmãs Imaculadas de Santa Clara, que reúnem brasileiras, italianas e filipinas, era outro que surpreendia pelo chamado pensamento positivo. A noviça Valquíria Henriques da Silva, 24 anos, contou que elas haviam chegado ao meio-dia a Copacabana – não viram nem o solidéu do Pontífice.

– Amanhã, na encenação da Via Sacra, vamos chegar mais cedo: às sete da manhã – previu Valquíria, com as outras 12 irmãs concordando com a cabeça.

Continua depois da publicidade