Alheios ao movimento desenfreado de pedestres e carros metros acima, na Avenida Beira-Rio, um grupo de jovens barbados estende os anzóis sobre as águas plácidas — e nas últimas semanas rasas — do Itajaí-Açu. Não são homens do mar, como Dorival Caymmi ou personagens de Hemingway, mas são homens do rio. O nível mais baixo das águas causado pelo mês sem chuvas diminui a área de movimentação dos peixes e facilita a vida dos simpatizantes de iscas e molinetes. Coincidência ou não, a estiagem resultou em mais pessoas se lançando à pesca às margens do Itajaí-Açu.
Continua depois da publicidade
Enquanto ajeitavam os equipamentos na quarta-feira de manhã, os pescadores pouco parrudos comentavam um vídeo que viralizou nas redes sociais desde domingo à tarde. Nele, Antônio Oscar Seide, o Tonho, aparece orgulhoso como um apresentador de programa dominical dos anos 1990 fisgando e empunhando um dourado de 5,5 quilos recém-capturado. O cenário não é o mar ou o Pantanal, mas o rio embaixo da Ponte de Ferro, no Centro de Blumenau.
::Vídeo: Homem pesca dourado de 5,5kg no rio Itajaí-Açu
Entre os pescadores que ontem tentavam fisgar a mesma sorte de Tonho estava o comerciante Lourenço de Souza, 28 anos, morador do Badenfurt. Há cerca de meio ano ele passou a ir uma vez por mês pescar no Itajaí-Açu. Souza antecipa uma desconfiança com o consumo dos peixes do rio por causa da poluição. Diz que seu interesse é pela pesca esportiva, devolvendo os animais de volta ao seu habitat. Na quarta-feira, porém, o rio não estava para peixe.
Continua depois da publicidade
Não é preciso ser um Rodrigo Hilbert para se divertir com a pesca no Itajaí, mas também não é fácil como sugere a pescaria infantil de festas juninas. Lourenço conta que se a pescaria sabática de pesque-pagues é considerada um modo easy, tentar a sorte no rio é um desafio muito maior de paciência e técnica — e que ficou ainda mais estimulante depois do vídeo do dourado.
— O que eu mais gosto na pesca é o momento de reflexão enquanto se está ali e não se sabe o que espera. Não vou com expectativa de capturar, mas com intenção de relaxar e estar próximo à natureza — afirma, dizendo que o vídeo mostrou que os peixes grandes do Itajaí-Açu não são apenas conversa de pescador.
Feito se repetiu na terça-feira
Proprietário de um pesque-pague e pescador raiz, Edmilson Pereira, o Neguinho, estava com Tonho no domingo, dia em que a pescaria do dourado foi filmada. Terça-feira, a multiplicação dos peixes se concretizou. Ele foi com a família ao rio Itajaí-Açu e capturou uma carpa de quase seis quilos. Os peixes também não são consumidos, no máximo levados para a lagoa do estabelecimento dele. Mas Neguinho conta que a pescaria no Itajaí-Açu é um programa de família e que ajuda a relaxar. Menos quando ele avista alguém pescando com tarrafa — o que é proibido e, segundo ele, cruel, por não dar chance aos peixes, o que exige fiscalização.
Continua depois da publicidade
— Muita gente não conhece as espécies que existem no rio, como o dourado que pescamos. Seria legal se o vídeo ajudasse a ter mais gente brincando e pescando. A melhor pescaria é sempre à noite. As luzes da Ponte de Ferro e da prefeitura iluminam tudo, aquilo é lindo — conta.