Há quem destoe do desalento dominante com o país à beira da recessão. Em meio ao pessimismo quase generalizado – alimentado por uma série negativa de indicadores e perspectivas -, um grupo de empresários mantém seus projetos e anuncia empreitadas: novas fábricas, unidades ampliadas ou mais lojas Brasil afora.
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– As empresas que estão investindo passam por situações individuais. Estão aumentando a participação de mercado ou podem ganhar espaço com a desaceleração da economia. Outras têm visão de longo prazo, apostando no crescimento do país em um período maior, ou apenas não podem parar seus projetos no meio – observa Aloisio Campelo Junior, superintendente adjunto de ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV).
:: Acate inaugura centro de inovação em Florianópolis nesta segunda-feira
Sondagem da FGV divulgada esta semana confirma que empresas com planos de expansão estão mesmo fora da curva – a tendência é de cautela devido ao cenário formado por atividade em marcha a ré, inflação persistente, aumento dos custos de energia, juros altos e, para completar, uma crise política com desfecho imprevisível. Ao questionar 699 grupos industriais de todo o país sobre a intenção para os próximos 12 meses, pela primeira vez desde o início da pesquisa a propensão de diminuir investimentos suplantou a de aumentá-los.
Para Clovir Meurer, diretor-superintendente da CRP Companhia de Participações, especializada na prospecção de empresas com capacidade de crescimento, além de situações particulares há setores que ainda podem crescer apesar da economia claudicante. No mercado interno, serviços ligados à saúde, educação e negócios voltados à logística têm grande potencial, avalia o especialista. Com o câmbio na casa dos R$ 3, solucionando uma antiga queixa da indústria, quem vende para o exterior também pode ter oportunidades.
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– Toda empresa voltada à exportação tem mais chance de ganhar dinheiro se manter seus planos de expansão – sentencia Meurer.
:: Setor de tecnologia cresce e investe
Enquanto alguns segmentos recuam, em Santa Catarina o setor tecnológico é um dos exemplos de quem vai na contramão. Empresas da área de inovação estimam um crescimento de 20% em 2015, segundo avalia Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate). Na teoria, este ano deve ser ainda melhor que 2014, onde empresas desta área apresentaram um faturamento 15% maior e por isso os investimentos seguem a todo vapor. A área de tecnologia agrega 20 mil profissionais no Estado e movimenta a economia, inclusive turismo de negócios gerando receita para demais setores.
Dados da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável de Florianópolis apontam que a Capital tem em torno de 600 empresas de software, hardware e serviços de tecnologia, que geram cerca de um bilhão de faturamento. São cinco mil empregos diretos e 75 mil indiretos. Em 2014, a capital catarinense arrecadou R$1,3 milhão em Imposto sobre Serviços (ISS) de empresas do ramo de tecnologia. Alcides de Ataíde, secretario Adjunto da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável de Florianópolis, lembra que a cidade foi pioneira na estruturação de incubadoras (área que oferecem assessoria e espaço físico para empreendedores de TI), dando às empresas um campo fértil para se desenvolver.
:: Polos tecnológicos começam a se espalhar para outras regiões
Além de Florianópolis, a Acate destaca outros polos tecnológicos como Joinville e Blumenau, mas é na Capital que o setor tem mais visibilidade nacional. O presidente da Acate, Guilherme Bernard, lembra que há 30 anos, quando se começou a investir em tecnologia, a economia local era basicamente o funcionalismo público e turismo sazonal. O crescimento na arrecadação do setor tecnológico trouxe receita e gerou benefícios. Diferente de outras cidades, Florianópolis ainda não tinha uma economia consolidada e após os incentivos rapidamente ganhou reconhecimento
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neste campo.
Por já se consolidar como um referência no mercado nacional, Florianópolis foi escolhida para a implantação do novo Centro de Inovação Acate CIA – Primavera, que será inaugurado nesta segunda-feira, na SC-401, Norte da Ilha de Santa Catarina. Totalmente voltado para integração, a ideia é agregar em um mesmo espaço empresas consolidadas, incubadoras e academias.
A proposta do novo centro tecnológico é ter diferentes ambientes de inovação, com vários elos, para que num mesmo local possam haver trocas de ideias, experiências e comercialização de projetos.
– Acreditamos que as pessoas devem estar conectadas, isso já vinha acontecendo, só que agora estamos materializando isso aqui. Poucos lugares no mundo tem o que estamos criando aqui – ressalta Bernard.
:: Comércio vê espaço para avançar sobre a concorrência
Beneficiado nos últimos anos pelo aumento da renda e a fartura de crédito, o varejo é apontado como outro setor a ser abalroado pelos efeitos da recessão que se aproxima. Juro ascendente, inflação, mercado de trabalho mais fraco e perda da confiança do consumidor formam a receita indigesta que tende roubar vendas das lojas este ano.
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Mas, em meio à crise, nem todos serão perdedores, avisa Ana Paula Tozzi, sócia da GS&AGR Consultores, especializada em varejo. Para redes capitalizadas, o cenário pode representar uma oportunidade.
– Como em 2009, um dos efeitos de uma grande crise é a queda dos preços dos ativos. Pode ser oportunidade de compra ou de aluguel de imóveis. Pessoas bem preparadas também vão estar mais disponíveis no mercado, então não veremos aquela guerra por talentos como nos últimos anos – projeta Ana Paula.
Entre as empresas que se dizem blindadas à turbulência está a brusquense Havan, que pretende abrir 15 novas unidades em 2015. No ano passado foram inauguradas 24 unidades em diversos Estados, proporcionando um crescimento de 41% no volume de vendas. Em meio a uma discussão nacional sobre recessão e desaquecimento econômico, até um antigo slogan publicitário da rede voltou a ser destacado na televisão e ganhou tom de desafio aos concorrentes: “não tem crise para quem vende barato”. Na sexta-feira, o presidente da Havan, Luciano Hang, viajou a Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, para inaugurar a sétima unidade no Estado.
Foto: O presidente da rede, Antônio Koerich (Divulgação)
:: Koerich e Almeida Junior projetam bons resultados
Perspectiva semelhante tem a Lojas Koerich, que prevê crescimento de 10% na movimentação de 2015. A empresa conta com 93 lojas, mas pretende ultrapassar superar a marca de 100 ainda este ano. Para alcançar a meta, a Koerich aposta na expansão das vendas pela internet, que desde o ano passado, atende todas as regiões de Santa Catarina – inclusive aquelas onde não há lojas físicas.
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– Muitas vezes, o empresário se acomoda e é preciso que ele saia da zona de conforto. Na dificuldade, a criatividade é a grande estratégia – explica o presidente da rede, Antônio Koerich.
O setor de shoppings projeta bons resultados para 2015. Ano passado, o crescimento foi maior que a expectativa: segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), a projeção era de 8,3% de aumento, mas os resultados chegaram a 10,1%. Lojas em shoppings venderam um total de R$ 142,2 bilhões em 2014. O Almeida Junior – grupo blumenauense responsável por grandes shoppings em SC, como o Neumarkt (Blumenau), Garten (Joinville), Balneário (B. Camboriú) e o Continente Park (São José) – teve um crescimento de 13% em 2014 e segue otimista para 2015.
O centro das atenções do ano é o Nações Shopping, que está sendo erguido em Criciúma e já tem pelo menos 40% do espaço locado. O empreendimento será lançado ao mercado dia 19 como o maior entre Florianópolis e Porto Alegre, com custo de R$ 250 milhões.
Foto: O presidente da empresa do ramo de shoppings, Jaimes Almeida Júnior (Ulisses Job / Especial)