*Por Keith Bradsher
Zhongshan, China – Este deveria ser o ano em que a máquina de exportação da China começaria a parar. O presidente dos EUA, Donald Trump, impôs tarifas amplas sobre os produtos chineses. Países como o Japão e a França pressionaram empresas a encerrar a produção no país. A pandemia prejudicou as fábricas chinesas no fim de janeiro.
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Em vez disso, a China Inc. voltou com força total.
Depois da reabertura no fim de fevereiro e no início de março, as fábricas da China iniciaram uma leva de exportação que continua ganhando força. As exportações aumentaram em julho, chegando ao segundo nível mais alto de todos os tempos, quase igualando a corrida de Natal recorde em dezembro passado. Em meados deste ano, o país conquistou uma parcela muito maior dos mercados globais de outras nações manufatureiras, fortalecendo um domínio no comércio que pode durar para muito além da recuperação mundial da pandemia.
A China está mostrando que sua máquina de exportação não pode ser parada – nem pelo coronavírus nem pela administração Trump. Sua resiliência reside não apenas na mão de obra qualificada de baixo custo e na infraestrutura eficiente do país, mas também em um sistema bancário controlado pelo Estado, que vem oferecendo empréstimos extras para que pequenas e grandes empresas enfrentem a pandemia.
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A pandemia também encontrou a China mais bem posicionada do que outras nações exportadoras – o país produz aquilo de que hospitais e residências do mundo precisam agora: equipamentos de proteção pessoal, produtos de melhoria doméstica e muitos eletrônicos de consumo.

Ao mesmo tempo, a demanda por vários itens exportados pelos Estados Unidos e pela Europa murchou, como os jatos Boeing e Airbus. E, com a maioria das economias agora atoladas em recessão, exceto a da China, houve um abalo na demanda por commodities, que a maioria dos países em desenvolvimento exporta, particularmente o petróleo.
Famílias de todo o mundo estão arrumando a casa, já que é preciso passar mais tempo nela. E compram desde monitor de computador até caixas de som estéreo, ferramentas elétricas e sauna caseira – tudo isso, em grande parte, feito na China.
A Móveis Hongyuan, na cidade de Guangzhou, no sul, contratou 50 trabalhadores extras depois que as encomendas de exportação de suas saunas domésticas mais do que dobraram este ano. A uma curta viagem rumo ao sul de Zhongshan, a Star Rapid se mantém lucrativa trabalhando com um processo conhecido como prototipagem rápida. E, alguns quilômetros a oeste, a Trueanalog descartou a mudança da produção de suas caixas de som estéreo para os Estados Unidos, seu principal mercado, ou para o Vietnã, onde os salários podem ser ainda mais baixos.
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Na Trueanalog, filas de trabalhadores em longas mesas verdes sob luzes fluorescentes montam caixas de som para estúdios profissionais de gravação nos Estados Unidos. A China domina a produção mundial dos componentes usados nessas caixas – sejam ímãs, cones de papel ou espuma de borracha.
“A China tem a maior cadeia de suprimentos das peças de que você precisa para fazer uma caixa de som, além da mão de obra mais estável e acessível”, disse Philip Richardson, o proprietário americano da Trueanalog.

A Star Rapid, a fabricante de protótipos, tem se beneficiado de empréstimos chineses. Poucos dias depois do início da pandemia, o banco estatal da China chamou Gordon Styles, o executivo-chefe e proprietário britânico da empresa, e insistiu que aceitasse um empréstimo corporativo de US$ 1,4 milhão a juros baixos, o que ele fez mesmo que a empresa ainda fosse lucrativa. As autoridades chinesas também concederam à empresa uma série de descontos parciais em impostos e custos obrigatórios devidos ao governo que, juntos, excederam três por cento das vendas da empresa.
“Eles queriam garantir que as boas empresas não sofressem por falta de um pouco de dinheiro”, afirmou ele.
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As exportações chinesas estão sendo ajudadas pela moeda do país, que permanece misteriosamente fraca, mesmo com a economia emergindo da pandemia com um crescimento mais forte do que praticamente o de qualquer outra nação.
A moeda chinesa, o yuan, também conhecido como renminbi, fortaleceu-se ligeiramente em relação ao dólar nos últimos meses. Também enfraqueceu seis por cento em relação ao euro desde o início de maio, embora a Europa enfrente uma grave recessão.

Economistas estrangeiros suspeitam que o governo chinês tenha usado seu controle rigoroso do sistema financeiro do país para manter o yuan fraco. Brad Setser, economista do Conselho de Relações Internacionais em Nova York, declarou que a explicação mais provável para o desempenho da moeda recentemente é que os bancos chineses estatais ou controlados pelo Estado e outras instituições financeiras estavam mudando alguns de seus imensos ativos, vendendo grandes somas de yuan e comprando dólares ou euros para fortalecer essas moedas.
O Banco Popular da China afirmou que não está manipulando o yuan, mas também disse que está comprometido em manter o valor da moeda estável.
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No entanto, as vantagens da China vão além de uma moeda fraca. O país construiu uma rede de trens-bala interligando 700 cidades em uma década. Também tem uma abundância de mão de obra, uma cultura de longas horas de trabalho e sindicatos restritos. Os fabricantes não estão tão sobrecarregados com as leis ambientais contra a poluição, como em muitos outros países.

Robert Gwynne, especialista em fabricação e exportação de calçados em Guangdong, comentou que reviver a competitividade nos Estados Unidos e em outros lugares para disputar com a China não seria rápido ou fácil: “Para que haja uma recuperação, seriam necessários de 20 a 30 anos, dependendo do negócio em que você está.”
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