Aracuã, cágado, gavião-carrapateiro, sabiá-lanterna, saracura-do-mato. Enquanto operários trabalham na construção de mais um prédio na área central de Blumenau e os ruídos de fábricas quebram o silêncio das primeiras horas da manhã, a natureza resiste. Ainda é possível observar muita vida animal às margens do rio Itajaí-Açu, escondida entre árvores de todo tipo.
Continua depois da publicidade
Em um percurso de aproximadamente seis quilômetros entre as ponte do Tamarindo e dos Arcos, o Santa registrou a movimentação de pelo menos 18 espécies em seu habitat, a maioria pássaros. Às margens do rio, onde o barulho da vida urbana quase não chega, é preciso exercitar a paciência e o olhar atento até que algum bicho se mostre às lentes da câmera fotográfica.
No levantamento mais recente, feito entre maio de 2006 e agosto de 2008 por estudantes da Furb com orientação do biólogo e professor Carlos Eduardo Zimmermann, foram contabilizadas 183 espécies de aves apenas na Área de Proteção Ambiental (APA) das ilhas fluviais do Itajaí-Açu.
Continua depois da publicidade
Observá-las à beira do rio não é difícil, segundo o estudioso, porque estes animais, na maioria das vezes, são comuns da região. Já espécies que vivem em áreas mais bem preservadas, como os tangarás, são vistas mais raramente.
– Esta região (a das ilhas fluviais – são 60 só em Blumenau) é a mais conservada. Quando descemos para áreas com menos florestas ciliares, este número reduz bastante. Em 2008, a enchente prejudicou a mata ciliar na margem esquerda. Então por que não reconstitui-la, já que é área de preservação permanente, em vez de colocar pedras como estão fazendo agora? – questiona Zimmermann.
Mata ciliar é o nome que a ciência dá ao ambiente às margens do manancial. O professor Carlos Eduardo Zimmermann o define também como um corredor ecológico, interligando as áreas de floresta e por onde as espécies ainda podem circular, protegidas das ameaças do avanço da malha urbana.
– Temos de preservar o que restou das florestas ciliares. Elas são os últimos resquícios de mata no Centro de Blumenau – defende.
Continua depois da publicidade
Mesmo ainda sendo possível observar muitas espécies, a urbanização das margens do Itajaí-Açu tem forte impacto na vida destes animais, segundo a presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), Lúcia Sevegnani. Ela afirma que, por falta de espaço, muitos deles cruzam áreas movimentadas como a Beira-rio, enfrentando o risco de atropelamentos. Outra ameaça é o abate:
– A população de capivaras era muito maior nos anos 1990 e 2000, mas com a caça diminuiu muito. Isso vem acontecendo também com as cutias e as pacas.
>> Veja aqui galeria com as fotos dos animais
Com a cidade crescendo ao redor, a preservação da vida animal às margens do rio é cada vez mais importante, já que atua no controle de pragas e insetos. As aves espalham sementes e colonizam plantas. E, como na lei da selva, os animais menores servem de recursos para predadores maiores.
Segundo o presidente da Fundação do Meio Ambiente, Jean Carlos Naumann, não é possível afirmar se a quantidade de animais aumentou ou diminuiu. Mas acredita que eles estejam migrando da região central para os ribeirões, principalmente o do Garcia: _ Hoje a gente vê nestes locais animais que antes não apareciam por lá. Estão mudando talvez por disponibilidade de alimentos ou a qualidade ambiental.
Continua depois da publicidade
Aves são destaques na fauna do rio
No trajeto de seis quilômetros pelo rio Itajaí-Açu entre as pontes do Tamarindo e dos Arcos, um ou outro peixe arrisca um salto para fora da água, mas tão rápido que nem dá para definir a que espécie pertence. O que mais se observa são pássaros – a maioria voa solitária ou em grupos de dois ou três integrantes. Muitos são vistos sobre galhos se alimentando de amoras, que, nesta época do ano, existem em abundância às margens do rio.
Indiferentes ao que acontece ao redor, capivaras mantém seu olhar perdido enquanto chupins pousam sobre seu dorso. Há as famosas garças branca-pequenas, que costumam cruzar em bando o céu no fim do dia e convivem no mesmo habitat com outra espécie, menos conhecida: a garça da noite ou savacu, de hábitos mais noturnos. Mas a lista de animais observados em pleno trecho central de Blumenau é ainda mais vasta: observam-se socozinho, rolinha-roxa, sabiá-laranjeira, sabiá-branco, quero-quero, bem-te-vi, biguá, maria-faceira, robalo, tainhota. E, para surpresa de especialistas, tartarugas tigre-d’água foram flagradas sobre galhos de árvores retorcidos, depositados à beira do rio, já na região da Ponta Aguda.
– São tartarugas exóticas, não são daqui. Estão ali porque pessoas as criam como animais de estimação, e elas fogem ou são abandonadas – explica a bióloga Elisabete Rechenberg.