A expectativa se confirmou – e além do esperado. Joinville está no rol das grandes manifestações que ocorrem no País nas últimas semanas. Pacífica, sem confusão ou vandalismo, mais de 10 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, de diferentes causas, bandeiras, bairros e idades, estiveram junto por mais de cinco horas e percorreram cerca de 5 km, parando e, ao mesmo tempo, contagiando o coração do Centro.
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Marca registrada de Joinville, a chuva que não deu trégua desde a manhã foi só ingrediente a mais para gritos e até cartazes. Uma conquista: se houve, as criticadas bandeiras de partidos ficaram sumidas em meio à luta por causas mais amplas e cidadãs.
Faixas e manifestos cobrando melhoria no transporte coletivo – razão inicial da manifestação, pelo Movimento Passe Livre (MPL) – puxaram a concentração e a passeata, mas sobraram mensagens pedindo melhorias na educação e saúde, várias a favor da diversidade sexual, contra as PECs 33 e 37 e criticando gastos da Copa. Mesmo um manifesto solitário em defesa de evangélicos foi respeitado.
A concentração começou antes das 17 horas, com estudantes e integrantes do MPL ainda sob olhares curiosos de lojistas e de gente que corria para pegar os últimos ônibus. O grupo cresceu com a chegada de movimentos de esquerda. Mas ganhou corpo com uma “invasão” de estudantes bastante jovens, gente que vivia a sensação da primeira grande manifestação da vida.
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Gente como as amigas Thifanny Bianchi, 13 anos, e Taionara Schamme, 14, que combinaram a participação pelas redes sociais e na escola. Ou de geração diferente, como a aposentada Marlene Eggert, 57, que disse que a construção de um País melhor passa pelos filhos, mas começa pelos pais. Ou como a dona de casa Vanessa Santana, 33, que deixou filhos pequenos com o marido para fazer sua parte.
– Vim porque cansei, cansei da corrupção, da falta de investimento em saúde e educação.
Diferentemente do previsto, a multidão inundou as ruas antigas e estreitas do Centro. A chuva castigava, mas não diminuía o coro de vozes que inundou a Princesa Isabel, Mário Lobo e 15 de Novembro.
– Vem pra rua! Vem pra rua! -, puxava o grupo.
Terminal é ocupado
O momento mais simbólico foi a tomada do terminal, já sem ônibus, por volta das 19h20. Gente, desta vez correndo, pulando, gritava: “O terminal é nosso!” O trabalho de cerca de 200 PMs, coordenado pelo comandante do 8º Batalhão, tenente-coronel Eduardo Luiz do Valles – o tempo todo imerso na multidão e dialogando – fez com que mesmo momentos como este transcorressem sem transtornos.
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Mais 300 metros, outra “conquista”: a multidão tomou a frente da Prefeitura. Muitos jovens posaram para fotos. Momento histórico em suas vidas. A partir daí, o MPL foi até a Câmara de Vereadores. A multidão voltou a se encontrar na ponte perto do Museu de Sambaqui. Depois, a sensação de papel cumprido misturou-se a clima de festa. Às 22 horas, após a PM negociar com um grupo que queria ficar no local, ônibus voltaram ao terminal. Um legado já ficou: nova manifestação está marcada para quarta-feira à tarde, na praça da Bandeira.
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