Aquela brincadeira de que alemão gosta de poupar é coisa séria. Tanto é que a poupança dos imigrantes alemães recém-chegados a Santa Catarina, a partir de 1829, resultou em empresas centenárias que, apesar da fama de tradicionais, só continuam no mercado pela inovação de seus processos.
Continua depois da publicidade
O investimento do imigrante naquilo que se sabia fazer na Alemanha, a valorização do trabalho e a inclusão de mulheres nas atividades comerciais também contribuíram para que o Estado seja reconhecido como o quarto do país em indústria de transformação.
A historiadora Maria Luiza Renaux, autora do livro Colonização e Indústria no Vale do Itajaí, defende que, apesar da abertura de capital das empresas alemãs da região a partir de 1990, inclusive com a gestão passando para profissionais distantes de membros da família, a identidade regional é mantida e faz com que elas preservem algumas características.
Tanto permanecem que novas companhias do país europeu escolhem o Estado para abrir filial no Brasil. Um dos motivos para a instalação da T-Systems em Blumenau, empresa da Deutsche Telekom com uma unidade no município desde 2006, foi a identificação com a língua alemã – a empresa empregou 200 funcionários da região que sabiam o idioma -, além de uma infraestrutura capaz de abrigá-los.
Continua depois da publicidade
– Eu diria que as empresas de origem alemã de Santa Catarina têm um lado social forte. Não veem um funcionário só como uma mão-de-obra, mas estão preocupados com o seu bem-estar. Identifico o investimento destas empresas na cultura local, pelo menos nos três anos que estou morando aqui – comenta o alemão Markus Blumenschein, diretor da T-Systems.
Atualmente, a empresa de tecnologia da informação é responsável por desenvolver novas ferramentas que agregam valor às indústrias têxteis e automotivas da região – incluindo a BMW na Alemanha e, mais recentemente, a planta da empresa em Araquari.
Blumenschein cita projetos que tiram do discurso a transferência de tecnologia da Alemanha para o Brasil, como a criação de um aparelho para medir diabetes que automaticamente envia os resultados para o médico, sem a necessidade do paciente sair de casa. Ou ainda a implementação de um chip às roupas que torna rápida sua localização nas lojas e permite a identificação das formas de pagamento para o cliente.
Continua depois da publicidade
Inovações à parte, alguns costumes típicos da cultura alemã prevalecem. A diretora do Patrimônio Histórico e Museológico de Blumenau, Sueli Petry, faz a ressalva: inovação, ainda que evoque o que há de mais atual, também faz parte dos costumes dos imigrantes alemães desde que colocaram os pés em Santa Catarina.
– Sempre buscaram a inovação e a melhoria da qualidade do maquinário. Eles foram os introdutores de novas técnicas e tecnologias na região, porque acompanharam o que acontecia Europa. Esta é uma das razões do seu sucesso – finaliza.