Mesmo depois da ação do Banco Central para conter a alta do dólar, a moeda acabou fechando a quinta-feira com valorização. Na BM&F Bovespa, o dólar pronto terminou o dia a R$ 1,8845, uma alta de 1,84%. Pela cotação Ptax, anunciada pelo BC às 13h08min, a moeda chegou a R$ 1,9016.

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Com uma postura diferente da adotada nos dois últimos anos, o BC resolveu vender a moeda norte-americana no mercado futuro, em vez de comprar, em uma tentativa de baixar a cotação. Logo após a venda no mercado futuro, o dólar chegou a recuar. No entanto, à tarde a moeda americana voltou a subir e terminou o dia em alta com relação ao fechamento de quarta-feira. A última vez que o Banco Central havia feito esse tipo de intervenção foi em junho de 2009.

O cenário de nervosismo, causado pelo forte movimento de aversão a risco nos mercados globais, principalmente nos Estados Unidos e Europa, além de impulsionar o dólar, também derrubou a Bolsa de Valores de São Paulo, que caiu 4,83%. Em Nova York, a Nyse recuou 3,51% e a Nasdaq, 3,25%. Na Europa, Londres recuou 4,67%; Frankfurt caiu 4,96%; e Paris despencou 5,25%. Na Ásia, as bolsas também cairam (Hong Kong, -4,85%; e Tóquio, -2,07%).

Em Nova York, o Dow Jones caiu 3,51%

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Foto: Spencer Platt, AFP

As quedas ainda são influência do anúncio do Federal Reserve na quarta-feira, segundo o qual há riscos significativos para a economia dos EUA. Dados divulgados hoje de que a indústria chinesa teve contração pelo terceiro mês seguido em setembro e que o setor privado na Alemanha e na França recuaram pela primeira vez em dois anos se somaram ao pessimismo nas bolsas.

Influência do cenário externo

Segundo o coordenador da área de economia aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV), Armando Castelar, a alta do dólar que se observa no Brasil é mais um reflexo do cenário externo e tem menos vinculação com o real. Sobre o anúncio feito hoje pelo Banco Central de vender dólar no mercado futuro, o economista da FGV disse que a medida “já deu uma segurada” na valorização da moeda norte-americana. Ressaltou, porém, que o comportamento do dólar vai depender do que ocorrer no cenário externo:

– O dólar tem se valorizado de maneira forte em relação a outras moedas. Isso reflete uma aversão maior ao risco. O dinheiro está fluindo para os Estados Unidos.

De acordo com o economista da FGV, há uma preocupação grande com a crise na Europa. Ele destaca que, mesmo na China, alguns indicadores estão gerando preocupação, na medida em que podem desacelerar o crescimento. Nesse panorama, moedas de países considerados bons para investimento e em estágio de crescimento, como Brasil, a Austrália, Nova Zelândia e o Canadá, “sofrem um pouco a mais com isso”. Para Castelar, esse é um comportamento dos investidores estrangeiros e não reflete uma mudança do que ocorre no Brasil, embora apresente alguns componentes internos, como a redução dos juros básicos, decidido pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).

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– Isso torna o investimento aqui dentro um pouco menos interessante.

Nesta quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff também falou sobre as oscilações no câmbio. A presidente avaliou que a instabilidade na cotação das diversas moedas hoje é mais um movimento de turbulência dos mercados internacionais.

– Eu tenho a declarar que esses movimentos de instabilidade das moedas hoje, porque não foi só o real, houve uma modificação na relação dólar-demais moedas, onde o dólar vinha se desvalorizando e as outras moedas se valorizando, é mais um movimento de instabilidade dos mercados internacionais – disse a presidente em entrevista à imprensa brasileira.

Dilma ressaltou que, nos últimos dias, “houve uma fuga para segurança” e por isso o movimento de cotação das moedas se inverteu para a valorização do dólar. A presidente disse ainda que, mesmo considerando importante e entendendo porque é relevante para alguns países expandirem sua política monetária e colocarem seus juros a zero, esse fato cria uma “competitividade indevida” para a economia desses países:

– Indevida porque cria uma valorização da moeda dos países que não fizeram isso extremamente adversa. Porque nós teremos uma valorização do real que não é sistêmica, mas alterada por fatores que não são aqueles baseados no mercado, mas na política.

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