O americano Aries Merritt, recordista dos 110 metros com barreiras desde 2012, defende o título mundial da prova nesta sexta-feira e se prepara para o maior desafio da vida: um transplante de rim, agendado para a próxima terça-feira.

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Esse é o resumo cruel da carreira de um atleta de alto rendimento -ou simplesmente da vida do ser humano-: um dia você está no auge, no outro você se vê no buraco.

O campeão das famosas tranças no cabelo fez uma temporada perfeita em 2012: campeão olímpico em Londres e recordista mundial em Bruxelas (12.80). Merritt brilhava e contagiava com sua alegria todas as pistas do mundo.

O ano seguinte foi um pesadelo. “No Mundial de 2013, em Moscou, senti que algo não ia bem”, explicou Merritt.

“Depois de Moscou, comecei a ficar doente. Estava ficando sem energia, com a respiração difícil e dificuldade para me recuperar”.

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O diagnóstico foi revelado dois meses depois do Mundial: Merritt sofre de um problema no rim, causado por uma doença genética rara que afeta a muitos americanos afrodescendentes.

A situação é agravada pelo fato de Merritt ser portador do parvovírus B16, que ataca os rins, a médula óssea e destruiu o organismo.

“Desmoronei. Não consegui aceitar isso durante um bom tempo e estava em estado muito depressivo. Estava feliz por terem encontrado o problema, mas não entendia como isso podia acontecer depois de uma temporada 2012 tão incrível”, explicou o atleta.

Merritt passou sete meses no hospital, de outubro-2013 a final de de abril-2014. Treinar, evidentemente, não era mais uma prioridade.

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– Volta às pistas em 2014 –

Quando foi admitido no hospital, seus rins funcionavam a 15% da capacidade normal. Andar ou fazer qualquer esforço comum se tornou uma batalha.

Merritt não podia mais comer corretamente, era incapaz de absorver proteínas e, por consequência, perdeu peso. O tratamento por transfusão de imunoglobulina intravenosa precisou ser adaptado, já que destruía muitos glóbulos vermelhos do corpo do atleta.

Com o tempo, a situação melhorou progressivamente e Merritt voltou a competir em maio de 2014, depois de algumas semanas de treinamento.

O tempo da primeira corrida na volta às pistas (13.78), no Steve Scott Invitational, na Califórnia, mostrou a distância que o separava da melhor forma, completando a prova um segundo mais lento que seu próprio recorde.

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“Quando voltei ao esporte, não fiquei tão frustrado quanto podem imaginar. Depois de ouvir que não seria capaz de voltar a correr, estava simplesmente feliz de poder fazer o que gosto”, explicou.

Depois de passar por mais uma temporada de treinos e competições, Merritt conseguiu se classificar para o Mundial de Pequim, alcançando sua melhor marca no ano (13.08) nesta quinta-feira, na semifinal.

A verdade é que a situação continua complicada. A doença genética não irá desaparecer. Os rins do atleta não funcionam plenamente e sua vida não é simples.

É por isso que na próxima terça-feira, quatro dias depois da final dos 110 metros com barreiras do Mundial, Merritt será submetido a um transplante de rim, doado pela irmã, LaToya Hubbard.

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“Estou aqui em Pequim mais pela minha saúde mental do que por qualquer outra coisa”, admitiu Merritt na quarta-feira.

“Não posso ficar sentado em casa e esperar a cirurgia. Esta pode ser minha última competição, caso a operação dê errado. Mas sou otimista em poder voltar e disputar os Jogos Olímpicos do Rio. Gosto de lutar, gosto de competir. Essa é minha vida e aqui estou”.

* AFP