A Alemanha defendeu nesta terça-feira a realização de uma cúpula extraordinária da União Europeia para discutir a crise dos migrantes, que continuam a chegar à Hungria, apesar do fechamento por Budapeste de sua fronteira com a Sérvia.

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A crise de refugiados ganhou um novo capítulo trágico nesta terça-feira com a morte de pelo menos 22 deles, incluindo quatro crianças, no naufrágio da embarcação em que estavam entre a Turquia e a Grécia.

“O tempo é curto”, advertiu a chanceler Angela Merkel em Berlim durante uma coletiva de imprensa com o seu colega austríaco Werner Faymann.

“É um problema conjunto para a União Europeia e, por isso, somos favoráveis à realização na próxima semana de um Conselho Europeu extraordinário”, afirmou Merkel à imprensa.

Por sua vez, Faymann exortou os europeus a não praticar uma “política de avestruz”.

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Após o fracasso de uma reunião de emergência em Bruxelas sobre a distribuição de refugiados no continente, Berlim parece ter perdido a paciência.

“A Europa se encheu, mais uma vez, de vergonha”, considerou o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel.

Ele e o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, ameaçaram cortar a ajuda da UE aos países que se recusarem a distribuir de forma equitativa os refugiados. Principais alvos: os Estados do leste europeu, que rejeitam a todo custo o estabelecimento de cotas de distribuição.

Contudo, Merkel relativizou e afirmou que as ameaças não são a melhor maneira de convencer os países da UE de aceitar um sistema de cotas para acolher os migrantes.

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“As ameaças não são o caminho adequado para a unidade”, enfatizou, enquanto a Comissão Europeia também rejeitou tal opção.

As divisões na Europa sobre a gestão da crise continuam profundas. O primeiro-ministro Robert Fico também pediu pela realização de um Conselho Europeu sobre a crise migratória e reiterou sua rejeição a uma obrigatoriedade das cotas.

Hungria fecha portas

A Hungria, principal país de trânsito para aqueles que querem chegar à Alemanha, continua a fechar as suas portas aos refugiados que chegam nos Balcãs.

O país pretende construir uma nova barreira em sua fronteira com a Romênia para impedir o afluxo de migrantes, depois de erguer uma na fronteira com a Sérvia, segundo anunciou nesta terça-feira o chanceler húngaro.

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“O governo decidiu iniciar os preparativos para a construção de uma barreira na fronteira entre a Hungria e a Romênia, se estendendo do ponto de junção entre as fronteiras sérvia, húngara e romena em uma distância razoável”, informou Peter Szijjarto.

Neste contexto, o ministro sérvio encarregado dos refugiados Aleksandar Vulin pediu para que a Hungria reabra sua fronteira aos migrantes do Oriente Médio.

“Peço à Hungria que abra sua fronteira para os migrantes. Ao menos para as mulheres e crianças”, declarou à AFP no posto fronteiriço de Horgos.

Nesta terça-feira, cerca de 300 migrantes, incluindo crianças, esperavam em meio à confusão e lágrimas uma reabertura do ponto de passagem oficial entre a Sérvia e a Hungria.

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“Por que eles estão fazendo isso?”, perguntou a uma trabalhadora humanitária uma mulher afegã que segurava as mãos de um menino.

“Cheguei a uma da manhã. Eu realmente não tive sorte”, disse Bashar, de 17 anos, também afegão.

Alguns migrantes passaram a noite em tendas montadas no asfalto. Do lado húngaro, vinte policiais foram colocados atrás de uma cerca de dois metros.

Neste contexto, a Hungria anunciou a abertura de um processo penal contra 60 migrantes acusados de “danificar” a cerca de arame farpado erguida na fronteira com a Sérvia, agora um crime punível com pena de cinco anos de prisão.

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Naufrágio na Turquia

Nesta crise migratória, a mais grave na Europa desde 1945, mais de 500.000 migrantes atravessaram as fronteiras externas da UE entre janeiro e agosto deste ano, contra 280.000 durante todo o ano de 2014, informou a agência europeia Frontex.

Por sua vez, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) indicou em Genebra “temer a indecisão da Europa, que poderia levar a mais mortes”.

Nesta terça, um novo naufrágio matou 22 pessoas ao largo da costa da Turquia. Este naufrágio ocorre menos de duas semanas depois daquele que custou a vida do pequeno Aylan, de 3 anos, cuja foto de seu corpo em uma praia provocou uma onda de indignação global, obrigando a UE a abrir parcialmente as suas fronteiras.

Retorno dos controles nas fronteiras

Sufocada pelo afluxo de dezenas de milhares de refugiados, por vezes, obrigados a dormir ao relento por falta de estruturas de acolhimento, especialmente em Munique (sul), a Alemanha anunciou domingo à noite restabelecimento dos controles nas fronteiras.

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Um gesto que logo foi replicado por Hungria, Eslováquia e República Tcheca.

A reintrodução dos controles na fronteira germano-austríaca aliviou Munique de seu fluxo interminável de migrantes, mas agora é Freilassing, uma pitoresca cidade na Baviera (sul), que se tornou o ponto de trânsito favorito.

Cerca de 2.000 migrantes chegaram segunda-feira na Baviera. “Tudo está bem aqui, estamos seguros e a educação na Alemanha é boa”, disse um jovem advogado sírio em inglês.

* AFP