O mercado reagiu bem à aquisição de 50% das ações da Portonave que pertenciam à Triunfo Participações e Investimentos pela suíça Terminal Investment Limited S.A (TIL), do grupo MSC — que passa a ter controle acionário total do porto de Navegantes. A maioria dos especialistas ouvidos pelo DC avalia que a negociação expressiva, de R$ 1,3 bilhão, sinaliza a boa posição no setor portuário catarinense no mercado nacional. Por outro lado, confirma a tendência mundial de controle dos terminais portuários pelos armadores, que é vista com ressalvas pelos clientes dos portos.
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Empresa suíça paga R$ 1,3 bilhão por ações da Portonave
O problema do controle total de um armador está na verticalização dos serviços oferecidos, avalia o advogado Osvaldo Agripino, que representa associações de usuários dos portos no país (Usuport).
— O usuário fica sem opção, porque o navio do armador vai operar naquele terminal que o pertence. E nem a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), nem o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) têm políticas para identificar os critérios de preços — diz.
Para o secretário executivo da Câmara de Transporte e Logística da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Egidio Martorano, esta é uma questão controlável através da agência reguladora e da própria Fiesc, que exerce papel de fiscalização.
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— O valor da venda reforça a importância do terminal, que está entre os mais importantes da América Latina e é um dos mais eficientes do país. O fato de o comprador já ter participação societária traz tranquilidade, porque vai se manter a capacidade de investimento e a qualidade. É bastante positivo — avalia.
A operação de terminais por armadores, que antes concentravam-se unicamente no transporte marítimo, é uma tendência vista em todo o mundo. No caso da TIL/MSC, a empresa tinha prioridade de negociação com a Triunfo porque já controlava metade das ações. A decisão de ficar com 100% do terminal, portanto, não chegou a surpreender o mercado.
Especializada em concessão de rodovias, a Triunfo Participações e Investimentos foi a responsável por estruturar a Portonave em Navegantes. Mas a sócia MSC, através da TIL, já era de fato quem operava o porto — o que indica uma tendência à continuidade, que refletiu na maneira como os funcionários receberam a notícia da venda, na segunda-feira.
Embora o anúncio da negociação tenha ficado sob responsabilidade exclusiva da Triunfo, e a Portonave não tenha se manifestado oficialmente, a informação que corre nesta terça é de que o negócio foi recebido com tranquilidade, e não deve haver mudanças na administração do terminal — pelo menos por enquanto. A MSC ainda não comentou a aquisição.
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Oportunidade
O consultor Robert Grantham afirma que deter o controle de um terminal num mercado relevante como o de Navegantes é estratégico para qualquer armador. E lembra que o Complexo Portuário do Itajaí-Açu passa a ter dois terminais controlados por empresas ligadas aos maiores armadores do mundo — MSC e Maersk, esta que detém a APM Terminals, arrendatária do Porto de Itajaí.
— Diz muito da importância do porto no contexto do comércio exterior brasileiro. A aquisição da totalidade do controle acionário da Portonave pela subsidiária MSC é um forte voto de confiança no futuro do Completo Portuário do Itajaí e um incentivo para que se leve a cabo as obras de construção da nova bacia de evolução e da adequação dos acessos aquaviários — afirma.
A negociação das ações ainda terá que passar pelo crivo do Cade e da Antaq antes de ser efetivada. A intenção da Triunfo em vender parte de seus ativos foi anunciada em fevereiro, para saldar dívidas. A empresa tomou diversas concessões no país contanto com recursos do BNDES, que deixaram de ser injetados quando o país entrou em recessão econômica.
Saiba mais:
* A Portonave, em Navegantes, tem 10 anos de operação e é um dos três portos brasileiros a figurarem na lista de maiores da América Latina, junto com Santos e Paranaguá — está em 16º lugar. É o maior movimentador de contêineres de Santa Catarina, responsável por 55% das cargas no Estado.
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* O terminal possui área total de 400 mil metros quadrados. São três berços de atracação em um cais linear de 900 metros, com capacidade de armazenar de 30 mil TEUs (unidade de medida equivalente a um contêiner de 20 pés).
* Metade das ações da Portonave eram da Triunfo Participações e Investimentos, empresa que atua principalmente na concessão de rodovias. A outra metade é da Terminal Investment Limited S.A (TIL), que pertence ao grupo MSC. Com a negociação, a TIL passa a ser dona de todo o terminal.
* A MSC foi fundada na década de 1970, na Suíça. É um dos maiores armadores do mundo.