Os pés impulsionam o corpo, que estende as linhas e infla a vela. Um, dois, três passos. Logo, um dos pés não encontra mais o chão. É com o vento no rosto e a sensação de flanar que começa o voo. A experiência simula um dos desejos considerados impossíveis por aqueles que não possuem asas: voar. Em Jaraguá do Sul, a experiência é vivenciada quase diariamente pelos diversos pilotos de parapente da cidade. Basta o tempo estar bom que o céu é pipocado das velas coloridas. A prática, que começou tímida, é marcada hoje por um cenário que chama atenção, atraindo visitantes de diversas locais. O crescimento do número de adeptos garante a visibilidade da cidade no cenário do voo livre e propiciou a criação de um mercado em torno do esporte.

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Na década de 1990, apenas uma escola dedicava-se ao ensino do voo livre. Hoje, são quatro e uma média de 15 novos pilotos por ano. O Jaraguá Clube de Voo Livre conta com 105 pilotos cadastrados, sendo um dos maiores do País. Desses, cinco são instrutores e seis realizam voos duplos, garantindo sua renda a partir do esporte.

Rodrigo Machado, dono da Voar Alto, é um deles. Sua história com o parapente começou aos 11 anos, com os pais dos amigos. Pilotos, notaram o interesse do menino e acolheram-no como pupilo.

– Meu primeiro voo foi deslumbrante. Ali tive certeza de que era isso o que eu queria. Comecei a trabalhar para conseguir comprar meu primeiro equipamento.

Em 2000, Rodrigo ingressou na Sol Paragliders, fábrica jaraguaense de parapentes e se especializou em acrobacias. Buscando mais tempo para a prática do voo, deixou a empresa em 2007 e começou a dar aulas. Em 2009, fundou a Voar Alto, que é sua fonte de renda. Ele explica que hoje é mais simples viver de voos, em um mercado que cresce em média 15% ao ano no Brasil.

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Duplicando a experiência

Além dos alunos que se dedicam ao aprendizado da pilotagem, as escolas realizam voos duplos. Carlos Alberto Reinke, piloto há quatro anos, dedica-se aos voos duplos pela Voar Alto. Formado em educação física, ele trabalha em uma academia, mas sua expectativa é viver apenas do voo livre – opção que surgiu ao passo que sua paixão pelo esporte crescia.

– Voar é fascinante, apaixona. É radical, mas libertador. Quando se pousa, queremos voltar.

Andy Moreira tem a mesma opinião. Funcionário da Sol Paragliders, ele se dedica ao ensino e aos voos duplos na Escola Raios do Sol. Se instruir é sua paixão, levar “passageiros” é ver o sonho de infância de voar ser realizado.

– As pessoas pensam que é impossível voar, as hoje é fácil. É um esporte para todos.

Natureza e estrutura favorecem

Jaraguá do Sul atrai pilotos de diversas regiões e países. Um dos fatores é a fábrica da Sol Paragliders. Fundada em 1991, ela é a única fábrica de parapentes das Américas. São 130 funcionários, além de 30 terceirizados, uma produção de 120 a 150 parapentes por mês. Para o fundador e proprietário, Ary Carlos Pradi, a fábrica torna-se uma referência para os praticantes. Porém, ele credita a outros fatores o sucesso do parapentismo em Jaraguá.

– O essencial é ter boa estrutura, a rampa e o pouso – descreve.

O presidente do Jaraguá Clube de Voo Livre, Célio de Castro, confirma a opinião de Ary. Castro diz que Jaraguá tem uma das melhores estruturas de voo livre do País: são duas rampas de decolagem (uma no morro da Boa Vista e outra próxima ao Parque Malwee), um local de pouso bem localizado e central (na Ilha da Figueira), um clube com uma sede que permite a realização de eventos, picapes que levam os pilotos até o topo do morro.

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História iniciada por empresário

A história do parapentismo em Jaraguá do Sul foi inaugurada no ano de 1989, pelo empresário Walter Weege. Foi ele o responsável por trazer o equipamento da Europa e realizar o primeiro voo na cidade. Antes disso, porém, a asa-delta já cortava os ares jaraguaenses. O voo inaugural de asa-delta feito em Jaraguá do Sul ocorreu no ano de 1979, pelo alemão Carl Höschele: quando a estrada no morro da Boa Vista foi construída, Höschele subiu ao topo e realizou o primeiro voo sobre a cidade.

As asas-deltas reinaram por alguns anos e inspiraram a criação do Jaraguá Clube de Voo Livre, em 1985. Nessa época, a Europa criava um novo esporte de voo, utilizando uma vela para sustentar o piloto.

O parapente cresceu rapidamente e foi trazido ao Brasil em 1988. Logo as asas deltas perderiam espaço para o novo equipamento, que popularizou-se.