Depois de 15 anos na Objetiva, que ajudou a estabelecer como uma das forças do mercado editorial brasileiro, a carioca Isa Pessôa se lança à empreitada de um selo próprio. A Foz Editora deve publicar seus primeiros livros em setembro, começando com uma coletânea de Francisco Bosco, a quem a própria Isa Pessôa havia levado para a Objetiva, para lançar em 2007 Banalogias.

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Marcelo Rubens Paiva e Ruy Castro devem fazer parte também dos primeiros lançamentos da editora, cujo elenco ainda conta com nomes como Tatiana Salém Levy, o gaúcho Paulo Scott e Nelson Motta. De acordo com Isa, a Foz vai trabalhar com tiragens de no mínimo 5 mil exemplares (no Brasil a média costuma ser de 1 a 2 mil). O livro de Bosco terá 10 mil cópias impressas em sua primeira edição.

A editora também prepara lançamentos digitais, como uma coleção de obras inspiradas em clássicos da MPB – as primeiras devem ser O Mestre-Sala dos Mares, de João Bosco e Aldir Blanc; Morena de Angola, de Chico Buarque; e João e Maria, de Chico e Sivuca. Por telefone, Isa falou dos planos para a editora:

Zero Hora – Como surgiu o projeto da Foz depois de uma década e meia de trabalho com a Objetiva?

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Isa Pessôa – Logo que saí, tirei um período para ler e estudar, viajei, fiquei três meses na Itália, e quando voltei, depois do Carnaval, listei alternativas que me pareciam as mais promissoras e o que realmente me encantaria fazer. E achei que essa era a alternativa de trabalho mais interessante para mim em função da experiência acumulada em quase 20 anos de trabalho no mercado editorial. O que me atrai, sobretudo, é a oportunidade de criar projetos, coleções; essa perspectiva de leitura digital que temos, e que é um mundo imenso para explorar; a possibilidade de criarmos novos livros para serem lidos em tablets ou computadores conectados. A partir daí, o nome veio, constituí a empresa, me estruturei jurídica, empresarial e financeiramente, obviamente falando com o que há de mais importante em qualquer editora, que são os autores. Comecei a fazer contatos, e foi tudo muito rápido. De final de fevereiro para cá, fizemos todos os contratos.

ZH – Em um mercado em que ainda se discute a permanência do livro de papel, a senhora inevitavelmente acredita nele, já que pretende abrir uma editora, não?

Isa – Com certeza. Tanto que somos Foz Impressos e Digitais. Em seu próprio nome, ela nasce com essas duas fontes de trabalho. Naturalmente, ainda é um enigma a questão de que força o livro impresso terá no mercado, mas ainda existe um consumo bastante importante, e autores voltados apenas para ele, como o próprio Ruy Castro, que brinca que nem sabe o que é livro digital, que não consegue nem abrir um site direito. E é um autor excepcional, que escreve com rigor, com uma qualidade, uma competência… E, naturalmente, uma editora precisa estar voltada para essa produção e para esse consumo. Da mesma maneira que não pode deixar de voltar os olhos para o que está acontecendo no mundo digital.

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ZH – E como será o primeiro livro? Uma coletânea de ensaios, como os demais de Francisco Bosco?

Isa – Sim, porque o Francisco é um mestre da reflexão sobre situações cotidianas e, ao mesmo tempo, questões, digamos, de fôlego filosófico maior. Ele é um estudioso, um doutor em semiótica e linguagem. E acho que ele, exatamente porque trabalha em uma produção frequente e ininterrupta, consegue resumir muito bem, se expressar com muita facilidade em textos curtos, de quatro, cinco páginas sobre assuntos que ele escolhe, de um universo que ama, como futebol, letras de música, cinema. Então, acho que esse formato curto é o ideal dele: pequenos ensaios sobre tudo e sobre o nada. Tem amor, casamento, sexo, cinema, tatuagem, arte contemporânea, artes plásticas, música, e muito comportamento, drogas, amizade. É um formato que a gente está chamando de “Alta Ajuda”. Inclusive no livro tem um texto sensacional que é “A Força do Pensamento Negativo”. Ele acha que você só consegue de fato crescer se não se acomodar. É uma brincadeira que ele faz com essa coisa de que você precisa pensar positivamente. Ele diz que não, que você precisa talvez entrar com muita potência no seu não, em tudo o que a vida está dizendo não, para você superar a adversidade.