O empresário apontado como o responsável por entregar propinas a prefeitos e secretários de cidades de Santa Catarina, alvos da Operação Mensageiro, teria utilizado pelo menos três aparelhos e 12 números de telefone celular diferentes no período em que foi investigado, entre 2017 e 2022. Na maior parte deste tempo ele também evitava usar aplicativos como o Whatsapp para trocar mensagens com os agentes políticos. As informações estão em documentos da investigação obtidos pelo apresentador da NSC TV e colunista do NSC Total, Raphael Faraco.
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Segundo a investigação, o mensageiro utilizaria aparelhos simples, que não eram smartphones nem tinham acesso à internet. As mensagens com os prefeitos e secretários que receberiam valores de propina seriam trocadas por mensagens de SMS.
Todos os chips teriam DDD da região de Curitiba (41) e estariam registrados em nomes de terceiros — possíveis “laranjas”, na avaliação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). O número de linhas pode ser até maior, conforme os relatórios dos investigadores.
Em depoimentos, políticos investigados afirmaram que o empresário dizia para “jamais utilizar Whatsapp ou ligações telefônicas” para tratar dos encontros para entrega de dinheiro. Ele também os orientaria a responder aos recados em poucas palavras, com termos como “ok” ou “não tô”, e também apagar os SMS recebidos.
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Mensageiro mudou forma de atuar
A Operação Mensageiro surgiu como desdobramento de outra investigação contra fraudes em contratos com prefeituras e que resultou em prisões de prefeitos de SC, a Et Pater Filium.
De acordo com os documentos do MP, após as prisões de prefeitos registradas na operação anterior, o mensageiro teria mudado a forma de fazer contato com os agentes políticos que receberiam propina. A partir deste período, em 2021, ele teria um passado a utilizar um smartphone e trocar mensagens pelo aplicativo Whatsapp. A mudança, segundo as autoridades, “dificultou sobremaneira a investigação, pela falta de colaboração entre a empresa provedora dos serviços e a Justiça brasileira”.
O Gaeco suspeita até mesmo que a mudança tenha ocorrido após o mensageiro ser informado sobre a descoberta da forma anterior de fazer contato com os prefeitos após a Operação Et Pater Filium.
As mensagens em celulares permitiram à investigação identificar que o mensageiro teria mantido contato com agentes públicos em pelo menos 27 cidades de SC, em regiões como Planalto Norte, Serra, Vale do Itapocu e Alto Vale do Itajaí.
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As mensagens teriam sido trocadas em geral mensalmente, para combinar datas e locais dos rápidos encontros em que haveria o pagamento de propina a agentes políticos. Esses recebimentos ocorreriam dentro de carros, em espaços como praças e postos de combustíveis, como mostrou o colunista Raphael Faraco.
Os valores teriam sido pagos pelo mensageiro em nome da empresa investigada, a Serrana Engenharia. Em troca, a companhia cobraria favorecimento em contratos e licitações de serviços nos municípios.
Contraponto
A reportagem tentou contato com a defesa do empresário, que informou que como o processo segue no nível máximo de sigilo, não vai se manifestar. O mesmo posicionamento tem sido adotado pela empresa Serrana Engenharia.

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