A apreensão de 967.500 micropontos de substância alucinógena semelhante ao LSD em Florianópolis nesta quinta-feira trouxe novamente à tona a força de Santa Catarina no comércio de drogas sintéticas. Somado ao aumento das vendas no Estado, outro fator preocupa as autoridades policiais: o surgimento de outros tipos de composições químicas. Segundo o Instituto Geral de Perícias (IGP), que analisa todas as drogas sintéticas apreendidas nas cidades catarinenses, menos de 1% dos micropontos apreendidos apresenta os compostos do LSD.

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O restante, de acordo com o diretor do Instituto de Análises Forenses do IGP-SC, o químico Jair Silveira Filho, contém outros tipos de drogas recém-criadas. Três deles são os mais apreendidos: 25B NBOMe, 25C NBOMe e 25I NBOMe. Por isso é que ainda não é possível confirmar se o material apreendido no Morro do Mocotó, na noite de terça-feira, é realmente LSD.

Somente exames periciais vão atestar que tipo de droga se trata. Além disso, a perícia pode constatar que as folhas apreendidas não contém substâncias químicas. O laudo final deve ser concluído na metade da próxima semana. Se confirmada a existência da droga, estará atestado o valor estimado de comercialização de R$ 24 milhões. A grande probabilidade, afirma Silveira, é que o produto encontrado no Mocotó seja da linha 25 NBOMe.

Diferente do LSD, essas drogas ainda são pouco estudadas, o que leva ao desconhecimento dos efeitos que elas trazem aos consumidores. O que se sabe é que o LSD é mais forte, apesar de que os novos produtos também são considerados muito potentes.

— A gente sabe muito pouco. Essas 25 NBOMe surgiram em 2003, não há estudos aprofundados sobre efeitos colaterais e efeitos a longo prazo. Não se sabe até o que ocorre no metabolismo.

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A principal diferença na composição química entre o LSD e o grupo 25 NBOMe é o material de origem. Segundo Silveira, o LSD tem como base um fungo, enquanto as outras substâncias vêm dos anfetamínimos. Para os usuários, porém, a diferença é praticamente imperceptível. Depois de preparado o composto químico, o líquido é colocado através de gotas ou submersão da folha absorvente onde são divididos os micropontos.

Tradicionalmente, o LSD vem de fora do país por conta da complexidade da produção. Diferentemente dele, as novas substâncias são produzidas no Brasil. Investigações da Polícia Civil mostram que pode haver confecção em SC. Em relação ao ecstasy, que também foi apreendido no Mocotó, os exames do IGP mostram uma divisão nos produtos. Silveira diz que metade é realmente ecstasy, enquanto a outra parte é composta por substâncias diferentes.

Classificação na Anvisa dificulta responsabilização criminal

Outro complicador das novas substâncias sintéticas é a classificação delas na Anvisa. Como ainda são desconhecidos, os produtos não estão na lista da autarquia que aponta quais produtos são drogas. Com isso, a possibilidade de responsabilização criminal dos envolvidos fica menor.

Silveira relata que, em SC, nos últimos 10 anos, houve um aumento considerável no número de apreensões de drogas sintéticas:

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— É um absurdo a quantidade de droga sintética. A gente tem uma ideia pelas nossas estatísticas. Saímos de 2006 com algo em torno de 80 casos para o ano passado que fechamos com 1000 casos de comprimidos e 700 de LSD.

Com três profissionais no instituto para a perícia de drogas, o diretor relata que apenas um poderia ficar o ano inteiro analisando drogas sintéticas tamanha a quantidade apreendida.