Os colegas Arildo José Farias de Moraes, de 14 anos, e Bruno Correia da Silva, de 13, protagonizaram uma história de sobrevivência e de emoção em família, após passarem dois dias desaparecidos no meio do mangue, na zona Sul de Joinville, neste fim de semana.

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Eles se perderam na tarde de quinta-feira e só foram resgatados na tarde de sábado, com a ajuda de um pescador. Neste tempo, descalçados e só com a roupa do corpo, dizem ter dormido sobre folhas, na lama, atravessado três rios mal sabendo nadar e terem comido tucum (fruto de um tipo de palmeira) para acalmar a fome.

Os dois passaram a noite de sábado em observação, no hospital, e receberam alta pouco depois. Neste domingo, ainda com dificuldades para andar pelo desgaste físico e pelas feridas nos pés e nas pernas, permaneciam sob os cuidados dos pais, em casa.

À reportagem, os garotos contaram que jogavam bola e brincavam de esconde-esconde num pasto, perto do mato, nos fundos da Escola Nilson Bender, no bairro Paranaguamirim. Quando outros garotos foram embora, os dois lembraram que a bola havia sido chutada para o mato e foram procurá-la. Entraram no mangue e não acharam mais a saída.

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Pelos pontos onde se perderam e foram encontrados, entre o Paranaguamirim e o bairro Ulysses Guimarães, é provável que eles tenham percorrido os mangueis entre a estrada que leva ao Morro do Amaral e os fundos da estação de tratamento de esgoto do Jarivatuba, segundo os pais.

– Para nós, era tudo mato fechado e lama, tudo igual. A gente não sabia para onde tava indo – disse Bruno, neste domingo, já conseguindo achar graça da situação.

– A gente tava molhado, já nem sabia se sentia frio. Fizemos uma cama com folhas na lama, conseguimos dormir algumas horas, mas andamos muito sem direção – conta Arildo.

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Arildo ao lado do pai (Maiara Bersch/Agência RBS)

Quando perguntados sobre o medo e se choraram, os dois ficam em silêncio. Bruno acha que, no fim de tudo, acabou sendo aventura, apesar de reclamar das feridas nos pés. Arildo fica mais pensativo, confirma que em alguns momentos achavam que não seriam encontrados.

A saída para o labirinto veio na tarde de sábado, quando ouviram um barco passando num canal de mangue e gritaram. Um pescador – que até este domingo os pais não conheciam – socorreu os meninos, teria dado roupas a eles e chamou a polícia, que tratou de acionar os pais. Era o fim de um grande drama para pais e filhos.

Alívio

Tanto o pai de Bruno, o mecânico Arlei da Silva, 45, como o de Arildo, o carpinteiro Anildo de Moraes, 40, contam que a primeira reação ao reencontrar os filhos, no sábado, foi de emoção e de alívio.

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Os dois percorreram praticamente todo o bairro, chegaram a conseguir um barco para navegar pelo mangue. A mãe de Arildo, Mari Farias, 36, diz que os dois dias demoraram a passar. As noites foram em claro.

O pai de Arildo diz que o garoto, na verdade, faltou à aula na quinta-feira e que a família só soube do desaparecimento à noite, por outras pessoas. Bruno não entra em detalhes. O pai diz que foi avisado pela escola do desaparecimento.

Arildo está na quinta série e Bruno, na terceira. Segundo os pais, os dois têm problemas com a frequência das aulas, mas não imaginavam que um ato de rebeldia dos filhos pudesse resultar em tanto desespero. A promessa agora, tanto de filhos como de pais – que afirmaram isto com os olhos marejados -, é terem mais atenção uns com os outros e estarem mais próximos.

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