Um menino de 10 anos sofreu queimaduras graves enquanto brincava com os amigos em um terreno perto de casa em Três Barras, no Planalto Norte catarinense. O caso aconteceu na tarde do dia 17 de maio e, segundo a família, os ferimentos foram causados por um resíduo depositado por uma indústria que tem fábrica na cidade. Desde então, o garoto segue internado e já passou por duas cirurgias — uma delas com duração de seis horas. A empresa Mili SA admitiu que a substância saiu da empresa, e explicou que se trata de um produto “similar ao calcário” que é encaminhado pela indústria a agricultores da cidade e que “não há indicação de condições perigosas ao manuseio”.
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A mãe da criança, Sabrina Cornelsen, 35, conta que as dores sentidas pelo filho são constantes e só com auxílio de medicação de alto poder analgésico para aliviá-las. A agonia do jovem se soma ao desespero dos pais que, se pudessem, pegariam o sofrimento para si.
— Nem a morfina parava a dor. Choramos junto com ele algumas vezes, mas procuramos sermos fortes perto dele. Rezamos todo dia para que tudo isso logo passe. Se nós pudéssemos, pegaríamos todo esse sofrimento para nós, para ele não passar por tanta dor — lamenta a mãe.
Sabrina relata que a criança teve queimaduras de terceiro grau nas mãos, parte dos braços, pernas e pés. Ele já passou por procedimentos de enxerto de pele, o que, segundo a mãe, pode limitar os movimentos dele e impedi-lo até de jogar futebol no futuro, esporte que tanto gosta de praticar. Além das cicatrizes pelo corpo, uma das sequelas que preocupa os familiares é, também, a de abalo psicológico.
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A família ainda reclama que, até que o garoto pudesse tratar os ferimentos, passou pelo posto de saúde e também por três hospitais diferentes até ser mandado para uma quarta unidade, o Hospital Infantil Joana de Gusmão, de Florianópolis, onde de fato foi tratado. Sabrina relata que, ao procurar as primeiras unidades, inclusive, foi mandada para cuidar do menino em casa em pelo menos duas oportunidades.
“Descaso com a vida”
A Mili, fabricante brasileira do setor de higiene e limpeza, admitiu que o produto que feriu a criança saiu das instalações da empresa e que não deveria oferecer risco às pessoas. A empresa diz que “tão logo tomou conhecimento dos fatos, em uma propriedade de terceiros, ofereceu apoio solidário à família do menor”. Segundo a Mili, o uso desse produto para correção da acidez do solo na agricultura foi estudado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), aprovado pelo Ministério da Agricultura.
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A mãe conta que, por volta das 15h do dia 17 de maio, dois amiguinhos do filho foram à casa da família convidá-lo para brincar. Apenas o pai estava no local e foi ele quem autorizou a saída. Os três, então, seguiram de bicicleta e pararam no terreno em que em este resíduo é despejado, próximo de um lago.
Sabrina diz que o filho adora mexer na areia e, como viu algo semelhante, se aproximou do material e afundou os pés, quando teve queimaduras instantâneas. Ele foi socorrido por um dos meninos que estava com ele, que o ajudou a retornar para casa.
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Conforme a reportagem do Jmais, que esteve no local, o produto realmente se parece com uma areia, tem cheiro de cinzas e, quando em contato com algo, levanta fumaça. O veículo ainda flagrou, logo após o ocorrido, três caminhões despejando mais da mesma substância no terreno. Ainda segundo o jornal local, semanas antes, um cachorro morreu por ter tido contato com o mesmo produto.
Sabrina, que estava em uma escola que trabalha como professora, soube da situação quando o filho já estava sendo atendido no posto de saúde. Para ela, a atitude da empresa representa um “descaso ambiental e com a vida com a vida das pessoas”, já que antes do menino ficar gravemente ferido, o terreno não era cercado.
— Teve que acontecer uma coisa dessas com meu filho pra isolarem o local. E e nenhum momento a empresa nos auxiliou. Apenas entrou em contato e mais nada. Graças a Deus temos bons amigos e familiares que estão nos apoiando nesse momento tão difícil — destaca a mulher.
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Família questiona versão da empresa
Pela situação em que ficou o garoto, os familiares questionam a versão da empresa do produto tratar-se apenas de calcário utilizado para correção do solo. Segundo a advogada Mariana Freitas Fiedler, a indústria alega ter autorização para repassar a substância para agricultores, mas em nenhum momento deu explicações sobre estar o depositando em uma área de livre acesso.
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Além disso, a defesa alega que, mesmo contendo esta autorização, esses resíduos devem passar por um processo de retirada de produtos químicos e radioativos para que possam ser transferidos a terceiros.
Mariana ainda afirma que, após o primeiro contato oferecendo auxílio, a Mili não prestou nenhuma ajuda até o momento e, “visto que a empresa está inerte quanto ao ocorrido, não se vê outra alternativa se não a via judicial”.
— Como defesa do menino, queremos que seja prestado todo suporte que ele precisa e precisará daqui pra frente, visto não somente os danos causados pelas queimaduras, mas também todo abalo psicológico que está tendo diante das fortes dores e medo das sequelas. Por ser um garoto de 10 anos, mesmo sendo criança, já tem uma noção maior da gravidade dos ferimentos — argumenta a advogada.
De acordo com o delegado Nelson Nadal, que está à frente das investigações do caso, um inquérito policial foi aberto dois dias após a família registrar o boletim de ocorrência, em 20 de maio. Nadal diz que, ainda na semana passada, foi feita a coleta da substância no local e o laudo pericial deve indicar qual o tipo do produto. A proibição da distribuição do resíduo, portanto, vai depender do resultado da perícia.
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O que diz a empresa
Veja a íntegra da nota enviada pela Mili sobre o caso:
Em referência acidente relatado no dia 17 de maio, a companhia se solidariza com o ocorrido e tão logo tomou conhecimento dos fatos, em uma propriedade de terceiros, ofereceu apoio solidário à família do menor.
O produto, similar ao calcário inclusive na aparência, é encaminhado para agricultores da região regularmente há mais de uma década e eles o utilizam na correção de acidez do solo.
O emprego deste produto na agricultura foi estudado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), aprovado pelo Ministério da Agricultura e não há indicação de condições perigosas ao manuseio.
Independentemente disso, a companhia passará alertar os agricultores sobre o ocorrido.
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