Carla Machado de Melo estava apressada no dia 5 de setembro de 2003. Ela queria nascer. Antes de chegar à maternidade, já colocava seus pés no mundo exterior. Sem médicos por perto, a única solução para realizar esse parto estava nas mãos de Carlos Alberto Quadros, um policial rodoviário então com 21 anos de serviço e dono de uma calma que o transformaria em herói para a menina que estava nascendo.
Continua depois da publicidade
A mãe, Niciane Machado de Melo, conta que sentiu as contrações durante a madrugada e avisou a futura avó que precisava ir para a maternidade. Depois de certa demora, as duas saíram em um fusca pela Avenida Pequeno Príncipe, no Bairro Campeche, Sul da Ilha, em direção ao Centro.
Ao mesmo tempo, o Cabo Quadros e seu parceiro, Sargento Valdenir Pires Limas, faziam um serviço de rotina, fiscalizando o trânsito em frente à padaria Beija Flor, na Costeira do Pirajubaé. Quando viram o Fusca onde Niciane estava buzinando, decidiram ajudar como batedores, evitando o trânsito.
Como a mãe de Niciane estava muito nervosa, Quadros foi dirigindo o Fusca. Valdenir seguiu na frente, com a viatura e a futura avó. Quando chegaram ao semáforo em frente ao Armazém Vieira, o Fusca começou a buzinar: Carla queria conhecer o mundo.
Continua depois da publicidade
– Fiz curso de socorrista, sabia fazer parto normal, mas o dela era pélvico (quando o neném está virado). Minha mulher, que trabalha na Maternidade Carmela Dutra, diz que os médicos de lá fazem cesariana quando o parto é desse jeito – conta o cabo Quadros.
Não bastassem as dificuldades, Quadros ainda viu que a menina tinha o cordão umbilical enrolado no pescoço. Não contou para a mãe de imediato e levaram Carla para a maternidade Carmela Dutra, onde ficou internada por um dia.
Ontem, no aniversário de dez anos de Carla e desta história, todos comemoraram com um bolo, no Posto Policial Rodoviário do 19º Grupo. Celebravam o nascimento da menina e a amizade entre os quatro.
Continua depois da publicidade
Era a terceira vez que Niciane estava grávida. Por isso permaneceu tranquila, mesmo no Fusca e sem médicos. O parto foi rápido, e, no fim, além da filha, ela ganhou dois amigos. Já no Natal de 2003, Niciane levou presentes aos dois policiais, e Carla sabe da história desde pequena. Todos os aniversários são comemorados junto do “tio Carlos” e de Valdenir. Apesar de ainda estar longe da idade de trabalhar, a menina já sabe qual será a sua profissão: policial.
O nome da garota iria ser outro, mas Niciane resolveu homenagear Carlos Alberto Quadros. Os dois policiais receberam em sua ficha um “elogio” da Polícia Militar pelo trabalho prestado. Nenhum foi promovido ou apareceu no jornal aquele ano. Ganharam uma placa de Niciane e, todos os anos, recebem o carinho de Carla.
– É legal, só eu tenho essa história – orgulha-se Carla. Ela é uma das poucas pessoas que possui em sua certidão de nascimento a expressão “em trânsito” como local de nascimento. O Fusca segue com a família de Niciane.
Continua depois da publicidade
– Acho que vai ficar de lembrança – diz a mãe.