Chuteira amarrada, meião levantado e laço preso atrás da cabeça. Um novo toque na bola, e entre os meninos, está prestes a aparecer nas categorias de base do Avaí. Quando a equipe sub-10 retomar os treinamentos em março, Natália Pereira estará entre os atletas. Nati, como é conhecida, passou nos testes há uma semana e se tornou a primeira menina a integrar o elenco de formação de um clube da Série A do Campeonato Brasileiro. O tratamento dado a ela foi o mesmo de qualquer jogador da idade. A garota de nove anos conquistou espaço com as próprias pernas. Apenas talento.

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Natural de Florianópolis, a menina começou a jogar bola ainda pequenina. O dom e o incentivo dos pais fez com que entrasse em escolinha de futebol. A participação em times exclusivamente de garotos ocorreu ao natural. Jogou futsal, a artilharia em competições atestou o potencial e desde setembro integra o grupo de meninas da sua idade que treinam uma vez por mês no Centro Olímpico, grupo que reúne atletas de todo o Brasil em idade de base. Os pedidos fizeram o Avaí abrir as portas para testes por uma semana. Nati fez apenas o que sabe de melhor. Com a espontaneidade infantil, driblou preconceitos e deixou barreiras no chão.

– Foi uma situação atípica para nós, porque nunca houve um teste de menina na base. Por saber do histórico dela, demos a oportunidade. E ela aproveitou, e nos surpreendeu com a qualidade técnica para estar na base. Ela tem a aprovação para estar no elenco, está no mesmo nível dos futuros companheiros dela da equipe sub-10 – atesta o coordenador da base do Avaí, Diogo Fernandes.

Fazer parte da base avaiana vira caminho para o desenvolvimento de Nati como atleta. A menina quer novos desafios.

– Aprendi muitas coisas nos lugares em que joguei até agora, e acho que no Avaí vou aprender mais ainda. No clube é uma coisa mais forte, pode ser mais legal e mais difícil – projeta a jovem atleta (conheça mais sobre ela no vídeo abaixo).

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Não é só futebol. É personalidade. Nati assumiu o laço na cabeça como um equipamento para jogar bola, como um calção ou meião. Sob ele, no entanto, circulam sonhos. A menina é fã confessa de Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo. Tanto que entre os sonhos da florianopolitana estão jogar na seleção brasileira e no Orlando Pride, equipe norte-americana em que a brasileira atua. Apesar do talento, há muito gramado a ser percorrido.

O Avaí é um trecho. De acordo com o coordenador Diogo Fernandes, Nati vai ter condições de se desenvolver como qualquer outro atleta. Na base azurra, vai ser lapidada e receber treinamentos quatro vezes por semana para aprimorar técnica e fundamentos. Tem até os 13 anos para isso. É que a legislação desportiva obriga que a partir desta idade os atletas joguem apenas em equipes específicas de seu gênero.

É uma conquista de cada vez para a menina que provavelmente não tem a dimensão do seu feito no esporte brasileiro. Até porque quer apenas jogar futebol. Agora, cabe ao Avaí dar condições de prover que Nati tenha condição de mostrar o que pode fazer com a bola nos pés e entre outras crianças de sua idade.

– Temos assistente social e psicóloga para acompanhar tudo. Vamos conversar com a Nati e com os meninos com naturalidade, encontrar uma forma para que todos se sintam bem e convivam bem. A própria atleta vai ajudar muito também por ter outras experiências em jogar apenas com garotos, e outras situações vão surgir. Mas será tranquilo, nessa idade há boa compreensão daquilo que passamos – relata Fernandes.

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