Ver a pequena Vitória brincando com o capacete dos socorristas, feliz, é sinônimo de alívio para a família Biedermann, de Gaspar. Apesar de não ser um ambiente comum a ela, saber que está cercada de pessoas que já fizeram tanto por sua ainda tão jovem vida a deixa mais confortável. Se para a menina de seis anos é um passeio, em que muitos dos rostos são desconhecidos, para Tatiane, a mãe, é um momento de gratidão por saber que graças ao atendimento do Corpo de Bombeiros e do Samu, a filha e a avó da criança sobreviveram a um atropelamento.
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Os medos e as angústias ao longo da internação da menina foram compartilhados entre eles. A cada boa notícia de reação de Vitória, o laço era fortalecido. Por isso, para Tatiane, finalmente, a tarde desta terça-feira foi diferente das que viveu por 15 dias, enquanto ia e voltava do Hospital Santo Antônio, em Blumenau, onde a filha estava internada.
No batalhão da cidade, um reencontro como os de filme com final feliz. Vitória ficou internada por duas semanas, passou pela UTI, operou a cabeça e venceu uma batalha pela vida. Chegou a ser arrastada pelo veículo que a atingiu na faixa de segurança quando atravessava a rua com a avó Marlene.
A rotina, porém, ainda não voltou ao normal para a família. A avó que teve o braço e perna quebrados na colisão não pôde correr para abraçar a neta no domingo da alta. O retorno à vida agitada da infância vai levar mais tempo. A liberação para os estudos só deve ocorrer daqui a 10 dias, mesmo prazo que Tatiane retoma o trabalho.
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Por enquanto, todo dia é para celebrar a recuperação da menina, que ainda está tímida diante do quão serelepe era antes de ter sido atropelada. – Isso aqui é tudo o que eu mais queria. Só tenho a agradecer. Ela é uma estrela, eles são anjos – agradeceu a mãe.
Quem prestou o primeiro atendimento à Vitória foi Paulo Quadro. Socorrista do Samu há quase três anos e pai de uma criança de apenas quatro meses. A voz embargada no dia seguinte ao acidente mostrava que o plantão naquele dia foi difícil.
O técnico de enfermagem relembra a noite chuvosa do acidente e do pensamento permanente na filha que ficara em casa. – É um sentimento que não tem como explicar. Ao vê-la nessa recuperação maravilhosa, só temos a agradecer – disse Quadro.
A felicidade de receber Vitória no quartel era tamanha que ele levou um presente para a menina. Comprou uma camiseta personalizada do Samu com o nome da pequena. O gesto foi repetido pelos bombeiros em outro presente.
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– A gente sempre faz o melhor pelas pessoas, mas infelizmente, nem sempre elas resistem. Receber ela aqui no quartel é gratificante – afirmou o comandante do Corpo de Bombeiros, tenente Douglas Machado.
As polícias Civil e Militar investigaram o caso. Vitória e a avó foram atropeladas por um condutor que não parou para prestar socorro. Detalhes do caso não são divulgados, mas o inquérito chegou à Justiça na segunda-feira.
Está na 2ª promotoria, com Andreza Borinelli. Ela afirma que dará total prioridade ao processo. E é justamente o que espera a família Biedermann. A mãe Tatiane tenta se manter distante das investigações e aproveitar com a filha, mas espera que a justiça seja feita.
– A família fica mais aliviada de saber que estão trabalhando firme – afirma Luiz, tio da criança, que acompanha a situação de perto.
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Após a visita à corporação, Vitória esteve ainda no quartel da Polícia Militar, onde a família buscou ajuda depois do acidente para descobrir a identidade do motorista que atropelou as duas.
Lá, brincou em um instrumento criado para que histórias como a dela não se repitam. A Transitolândia, como explica o comandante major Pedro é ferramenta levada às escolas para abordar com os pequenos a importância da segurança e do respeito no trânsito. A proposta é criar cidadãos mais conscientes.
Caso se repete no município
No dia em que o acidente de Vitória e Marlene completou duas semanas, Ingrid dos Santos, 63 anos, foi outra vítima do trânsito em Gaspar. Desta vez o atropelamento foi no bairro Bela Vista. Ela chegou a ser socorrida e deu entrada no Hospital Santa Isabel às 22h42min de domingo, mas faleceu cerca de três horas depois, já na madrugada da segunda-feira.
A mulher foi atingida por uma motocicleta e ainda não se sabe as circunstâncias da colisão. Ricardo Beltramini era o conduto do veículo com placas de Rio do Sul. Ele também precisou ser hospitalizado e até a tarde desta terça-feira permanecia internado com quadro estável. Com a morte, o caso foi repassado à Polícia Civil para investigação.
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O superintendente de trânsito de Gaspar, Luciano Brandt, diz que a sinalização nos locais dos dois acidentes será melhorada e conta que o setor tem trabalhado com foco na prevenção, por meio de ações educativas, para evitar que casos se repitam.
Segundo ele, é preciso coibir excesso de velocidade e o uso de álcool e defende que o mais prudente é educação, respeito, cortesia e empatia no trânsito. – Estamos trabalhando com educação no trânsito. O importante é a alteração do comportamento de todos os elementos do trânsito – argumenta Brandt.