Atendo a convite de professora que certa vez me contou que compartilha seu jornal com a sala de aula. Depois de ter revelado isso, agraciou-me com pedido para um dia estar com sua turma para ser apresentado como “o moço do jornal” e conversar sobre o que viesse à ideia. Tanto o convite quanto o “moço” (melhor que “homem do jornal”, acho) envaideceram-me e, fechadas data e hora, lá fui ter com a petizada.

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Que 60 minutos agradáveis, cheios de curiosidades, tiradas de cá e de lá. Parla dinâmica, não cabe aqui uma ata do que foi tratado. Fica para o consumo interno do espírito, leve e arejado ao sair de lá. Porém, uma questão vinda da curiosidade de uma jovem que mordia um lápis (quem não?) ficou martelando nas horas seguintes. Quis saber das lembranças mais remotas que guardava de Joinville.

Expliquei-lhe que tenho quase 51 anos, que cheguei à cidade quase adulto e, portanto, o período não é tão vasto, mas ainda assim foi possível assistir à transformação.

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Falamos sobre várias coisas. Porém, as reminiscências vieram mesmo ao deixar a turma e se voltar para o dia. Martelou uma coisa boa de avivar lembranças. Dezenas delas.

Nos anos de 1970, embarcávamos no trem em São Francisco e vínhamos a Joinville, visitar tio Adolfo que se instalara num descampado de barro vermelho. Só a casinha dele e mais duas ou três num mundaréu de terra que as máquinas livraram da mata nativa. Dunas de barro em que, junto com os primos, deslizava às gargalhadas, sujando até o céu da boca. Hoje, há “uma cidade” lá, entre a Santa Catarina e o Petrópolis.

Na segunda-feira passada, escrevi sobre a aventura que foi deixar um bairro da periferia desprovido de sinalização eficiente. Pois na ida a esta região, então ainda guiado pela voz do GPS, reconheci o local em que estive em 1992 tratando da compra de um terreno. Era, na época, um matagal sem ninguém por perto, com um riozinho no meio, e um homem que tentava fechar a venda me indicava onde seria o meu lote naquela capoeira. Eu daria um Dodge Polara bege no negócio, que não saiu porque, na hora H, alguém me alertou para o risco de estar comprando um pedaço de matagal. Agora, toda a capoeira é telhados e ruas. Nem o riozinho está mais à vista, sabe Deus o que foi feito dele. Outra “cidade” dentro da cidade.

De lembrança em lembrança que tomariam toda esta página, fiz o caminho pelo qual, ao longo do tempo, ruíram as fantasias de cidade das bicicletas, dos príncipes, das flores. E se fixou a usina tocada a mais de um milhão de mãos. É o preço.

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