O morro da ‘vó’ Salvelina continua igual. Quem mudou mesmo foram os personagens por trás do vídeo “Marco Véio”, que virou febre da internet há oito anos e até hoje está na memória de muitos brasileiros. Na gravação, um menino de sotaque forte narra a aventura do primo em um carrinho rolimã na estrada íngreme que leva à casa da avó deles.
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A simplicidade e espontaneidade do episódio são as principais explicações para tamanho sucesso, tido como um dos primeiros ‘memes’ do Vale do Itajaí.
Marcos Martinelli, agora com 20 anos, é o Marco Véio. Leandro Beninca, 17, é o dono da voz. Quando crianças, passavam parte das férias de verão no sítio da avó materna, Salvelina Lenzi, 68, em Taió, no Alto Vale. Entre as brincadeiras preferidas estavam a de correr em meio à plantação de arroz da propriedade e a de descer o morro com o carrinho de madeira feito pelo tio da dupla.
Naquele dezembro de 2014, em vez de irem reto até o fim da estrada de chão batido como o habitual, o desafio foi controlar a velocidade para fazer a curva no pé do morro. Marcos conseguiu. Surgiu então a ideia de gravar a conquista, com o tablet dele. Tudo feito de forma improvisada, sem qualquer pretensão.
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“Pode vim, Marco. Lá vem o Marcos, descendo o morro da ‘vó’ Salvelina. ‘Taca-le’ pau nesse carrinho, Marcos. Taca-le pau, taca-le pau, taca-le pau. ‘Mazá’, Marco Véio”, diz a narração que dura menos de 30 segundos, tempo suficiente para mudar a vida dos envolvidos.
Quando voltou para a cidade em que mora, em Gaspar, o garoto mais velho postou a gravação no YouTube. Pouco tempo depois, a fama bateu à porta.
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— Meu sobrinho mandou mensagem perguntando: “Viu que vocês estão famosos? O vídeo dos meninos é só o que dá no WhatsApp”. Uns três dias depois as emissoras de TV começaram a aparecer. Foi uma coisa de louco, eles não planejaram aquilo — relembra dona Salvelina.
De repente, os meninos de 9 e 12 anos viraram celebridades. Foram ao Rio de Janeiro, gravaram músicas, programas nacionais em diversas emissoras do país, viraram garotos-propaganda de marcas mundiais de fast food, celular e até da Fórmula 1, quando viram pessoalmente uma corrida em São Paulo.
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Todos queriam aquela narração peculiar. O problema é que isso deixava o dono da voz de mau humor.
— A mãe que me controlava, eu me irritava de ter de repetir o bordão nas gravações. Eles queriam que eu falasse igual ao vídeo original, mas não tinha como — conta Leandro, que agora se diverte com a lembrança.
A reportagem aproveitou que a irritação ficou no passado e pediu para os primos regravarem o vídeo — e, claro, a narração — no morro da ‘vó’ Salvelina, oito anos depois. Assista abaixo.
De repente, famosos
Do dia para a noite, Marcos e Leandro passaram a ser reconhecidos na rua. Nos aeroportos que tiveram de frequentar para chegar às cidades dos programas de TV eram parados por passageiros e funcionários que queriam uma foto. Nos bailes gaúchos que Leandro participava por conta das músicas lançadas não era incomum a plateia deixar o cantor da noite de lado para tietar o menino.
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Tímido e muito novo, Leandro não tinha a real compreensão do que aquilo tudo significava. Mas a avó sim. Na casa simples, mas que traz todo o aconchego que só o lar de uma avó carrega, as fotos de entrevistas e passeios estão expostas em quadros. São tantas que muitas ficaram de fora. Salvelina sonha em fazer um painel que ocupe toda a parede da sala. Aí sim será possível relembrar cada momento vivido à época.
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Como os pais de Leandro e Marcos trabalhavam, Salvelina acabou acompanhando os netos na maioria dos compromissos que surgiram com a fama. Conheceu o Rio de Janeiro com eles, divertiu-se no parque de diversão e em programas de TV. Ao voltar para casa, não tinha sossego.´O imóvel virou ponto turístico em Taió. No começo, quem chegava pedia não só pela avó, mas principalmente pelos meninos.
— Tinha gente que chorava quando eu dizia que eles não estavam, que não moravam aqui. Mudou a minha vida por completo. Até hoje vem bastante turistas, eles querem descer de carrinho, bater foto comigo… — descreve.
Visitas todos os anos
Quem chega tem a oportunidade de descer no mesmo carrinho usado pelos garotos, que é reformado vez ou outra. A procura é tanta pela residência da ‘vó’ Salvelina que uma placa no começo da rua foi feita pela prefeitura para auxiliar os viajantes. A depender do dia, o visitante pode ter a sorte de se deparar com uma fornada de docinhos, que a idosa faz desde que os netos eram crianças.
A fama não trouxe riqueza, a não ser a de experiências, mas para a família pouco importa. Atualmente, Marcos trabalha com Tecnologia da Informação e está construindo a carreira profissional. Leandro sonha em ser caminhoneiro como o pai. A idosa, aposentada, cuida da casa e recebe os turistas todos os anos.
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O morro da ‘vó’ Salvelina continua igual. Os personagens estão mais velhos, mas a essência é a mesma. No fim, nem tudo mudou.