– Nunca em momento algum deixei minhas filhas acreditarem no castelo da Cinderela ou em qualquer outro mito. Elas foram criadas dentro da realidade, com os pés no chão, e praticamente tratadas como adultos, de igual para igual. Sempre tive em mente que elas logo cresceriam e a vida diz muito não – conta Mel Faber na sala de sua casa.

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Mel acaba de chegar da farmácia com remédios para a filha Isadora, que neste momento está deitada no quarto com febre de quase 39º . Da cama onde descansa, Isadora pede para o amigo Pedro comprar pães de queijo.

– Se quer comer, é porque está melhor – diz Mel aliviada.

Isadora Faber ficou conhecida no Brasil inteiro como a autora da página Diário de Classe, onde passou a apontar as deficiências da escola pública onde estuda. A insatisfação da menina surgiu quando uma de suas irmãs mais velhas ganhou bolsa para frequentar um dos maiores e mais caros colégios particulares de Florianópolis. Isadora então começou a perceber diferenças entre o estudo da irmã e o seu, mas o fato que a faz transformar a frustração em protesto pode ter vindo de berço.

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– Sempre fui ensinada que posso reclamar das coisas que não estão boas, e isso eu aprendi bem – conta Isadora quase uma semana depois, já recuperada da virose.

Depois que a página ganhou visibilidade, as coisas na vida da família Faber mudaram de figura. Mel, que trabalha com publicidade, cuida da casa, da “vó” e das três filhas, ainda teve que assumir a tutela da vida pública de Isadora, já que a garota de 14 anos não pode viajar sozinha.

No meio dos Faber, a impressão geral é de que não há tempo a perder com frescura: Isadora fica tímida quando lhe fazem perguntas abstratas sobre a relação com a mãe e responde “não sei”, mas uma hora depois está no Diário de Classe, no Facebook, criticando com unhas e dentes a greve da saúde.

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– Quando Isadora quis fazer a página, eu perguntei se ela estava preparada para enfrentar. Afinal, teria que continuar indo à escola todos os dias e as pessoas de lá poderiam não gostar das críticas. Perguntei: você está pronta? Ela disse estou. Então, pronto. Vai à luta – resume a mãe.