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A capacidade é para 1,3 mil alunos. Mas apenas 300 frequentam a Escola de Educação Básica Celso Ramos, na Prainha, em Florianópolis. Os casos de violência contra professores – como o que em outubro levou ao fechamento do colégio por uma semana – cruzaram a divisa de Santa Catarina e ganharam projeção nacional com o programa Profissão Repórter de terça-feira, na Rede Globo.

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Desde então, sentimentos como vergonha, tristeza e indignação são citados para definir o impacto causado. Em uma casa do Projeto Bom Abrigo, alto do Morro da Queimada, Maciço do Morro da Cruz, a dona de casa opina:

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-Aquilo ali é como o presídio do Carandiru: tem que explodir e fazer uma escola nova. Ficamos com vergonha de saber que nossa cidade tão bonita estava sendo mostrada como uma coisa tão ruim.

Os três filhos dela estudaram na escola. Hoje, cuida de dois netos que, em 2009, trocaram o Celso Ramos pelo Instituto Estadual de Educação e pela Escola Básica Jurema Cavallazzi, no Bairro José Mendes.

– Briga na saída sempre existiu e os meus também brigavam. Mas até com faca na mochila hoje eles entram – explica, para esclarecer a transferência dos netos.

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O idealizador da Escola de Samba Mirim Os Mensageiros da Alegria e uma das lideranças do Morro da Queimada, Carlos Henrique Bittencourt, acredita que há solução para o problema.

– Vamos levar nossas oficinas para dentro do colégio e atrair o aluno para a dança, percussão, esportes – conta.

Se o Carandiru foi implodido como exemplo da falência do sistema prisional, a escola Celso Ramos é um símbolo do que ocorre em escolas de Florianópolis: a cada quatro dias letivos, uma escola pública ou particular registra casos de violência na 6ª Delegacia de Polícia da Capital. A constatação é da consultora educacional da Secretaria de Estado da Educação (SED) Julia Siqueira da Rocha, depois de passar dois anos realizando uma pesquisa sobre o tema. Ela analisou mais de mil boletins de ocorrências para a sua tese de mestrado.

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– Somente a Pedagogia não dá conta de resolver o problema. A presença de psicólogos e psiquiatras para interceder em alguns casos é uma das sugestões.

Para Walcir Oliveira, policial militar aposentado que tem ligação com a comunidade escolar devido ao Carnaval, a atitude dos professores precisa ser considerada. No período de Carnaval, a escola usa o prédio para confecção de fantasias e ensaios.

– O professor tem que estar comprometido com a escola, tem que ter a coragem de olhar no olho do aluno e dizer não. Se não, o adolescente toma conta.

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O deputado Pedro Uczai, presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, disse que assistiu parte do programa e ficou impressionado com o que viu. Destaca que o caso não é isolado. Na quinta-feira, em Chapecó, Uczai participou do lançamento do livro Outra educação é possível e necessária. É o oitavo livro publicado por ele, também professor. A obra reúne textos de especialistas sobre desmotivação dos professores, baixa qualidade na educação e violência e drogas nas escolas. Segundo uma pesquisa do Ibope feita em todo país, estes são os temas que mais preocupam a sociedade.

– O que ocorre no colégio Celso Ramos tem que ser debatido pela sociedade. A escola não pode ser depósito de alunos, nem o professor ter de trabalhar com medo.

O professor Ari César da Silva, gerente regional de Educação, diz que providências estruturais como reformas no ginásio, troca de vidros quebrados e portões já estão sendo tomadas. Ex-professor de matemática na escola, Silva acredita que a renovação do quadro de professores vai contribuir para devolver ao colégio o lugar de destaque que já teve em outras épocas. Com isso, devolver a confiança à comunidade para que as crianças e adolescentes não migrem do colégio:

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– Não é possível ter uma estrutura para 1,3 alunos e mil vagas disponíveis, enquanto em outras escolas faltam vagas.