Os xiitas, confissão minoritária no Afeganistão, temem ataques por ocasião da comemoração na quinta-feira (20) do dia sagrado da Ashura e consideram se armar para se defender.
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Ritual seguido por milhões de fiéis no mundo, a Ashura é celebrada no dia 10 de Muharram, o primeiro mês do calendário muçulmano.
No Afeganistão, o evento se tornou alvo para o grupo Estado Islâmico (EI), composto por extremistas e que considera os xiitas hereges.
Após ataques mortais em 2016 e 2017, os xiitas afegãos temem novos massacres.
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A violência se intensificou nas últimas semanas, com mais de 60 pessoas mortas em ataques suicidas em uma academia de luta e em um centro educacional em um bairro xiita de Cabul.
Em agosto, homens-bomba vestindo burcas (véu muçulmano que cobre as mulheres da cabeça aos pés) mataram pelo menos 35 pessoas em uma mesquita xiita na cidade de Gardez, ao sul de Cabul. O EI reivindicou o ataque.
“Temos medo constantemente, dia e noite”, declarou à AFP Ahmad Zia Ahmadi, enquanto supervisionava a reconstrução do clube de luta de Maiwand, destruído por um atentado suicida.
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“Se o governo não garante nossa segurança, então teremos que fazer isso sozinhos e nos armar”, disse ele.
O governo afegão é criticado com frequência por sua incapacidade de proteger a comunidade xiita, estimada em três milhões de pessoas em um país majoritariamente sunita.
– Autodefesa –
No ano passado, as autoridades contrataram centenas de civis para proteger locais religiosos xiitas em Cabul e em outras cidades antes da Ashura, reforçando, assim, o número de policiais.
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A medida permitiu reduzir os ataques, disse à AFP uma autoridade xiita, mas este ano não há planos nesse sentido.
Segundo essa fonte, centenas de armas distribuídas em 2017 serão usadas novamente para proteger as mesquitas, mas “não é suficiente”.
No ano passado, “só nos deram 1.250 armas, que distribuímos em 14 províncias de população xiita”, afirmou ele, pedindo para não ser identificado.
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Algumas mesquitas “ainda não estão armadas”, completou.
O porta-voz do Ministério afegão do Interior, Najib Danish, declarou recentemente à AFP que o governo tem um plano de segurança para Muharram e a Ashura, mas se recusou a entrar em detalhes.
“Faremos tudo o que pudermos para garantir a segurança de nosso pessoal em Cabul”, garantiu.
Os serviços de Inteligência afegãos anunciaram na terça-feira a prisão de 26 supostos membros do EI que planejavam cometer ataques.
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Muitos xiitas desconfiam do governo e decidiram tomar medidas sobre o assunto.
“Eles nos atacaram em nossas mesquitas, escolas, ruas e ginásios e, agora, estamos pensando em nos armar”, disse à AFP Ghulam Reza, funcionário da academia de luta.
– Mobilização –
As redes sociais ecoam os medos.
“Não há lugar seguro para nós”, diz um internauta chamado Hossien.
“Nossos filhos, nossos eruditos religiosos, nossos lutadores e pessoas de todas as esferas da vida morrem todos os dias. Vamos nos mobilizar!”, convocou.
Outro internauta acredita que “ficar na frente de uma mesquita para proteger seu povo é um meio de combater o terrorismo. Quando o governo não pode garantir a segurança, somos nós que temos que proteger suas instituições e valores”.
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Em resposta à deterioração da segurança em Cabul, o presidente afegão, Ashraf Ghani, anunciou em setembro sua intenção de dividir a cidade em quatro zonas de segurança.
Ele considerou que a zona oeste da capital, povoada principalmente por xiitas, precisa de um dispositivo de segurança semelhante à “Zona Verde” (onde estão localizadas embaixadas e organizações internacionais), mas que, para isso, é preciso “mais reflexão e consultas”.
Uma lentidão que não surpreende Ahmad Zia Ahmadi: “Sabemos que o inimigo vai voltar a nos atacar. Nós não esperamos que o governo nos proteja, porque não pode”.
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* AFP