O sotaque argentino, sempre associado às praias do Norte da Ilha de SC e de Balneário Camboriú, pode perder força na próxima temporada de verão em consequência às medidas que o governo vizinho tomou para regular a saída de dinheiro de lá.
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Entidades empresariais preveem que a queda chegue a até 50% no número de argentinos em SC neste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
Em 2010, chegaram 100.853 turistas argentinos em Santa Catarina. No ano passado, houve uma alta de 33,9% e este total passou para 135.132 pessoas, de acordo com os dados do Ministério do Turismo. No entanto, o arrocho na saída de dinheiro criou uma previsão pessimista para os empresários do setor hoteleiro. Se este prognóstico se confirmar, menos de 70 mil argentinos podem circular – e comer, comprar, se hospedar, enfim, gastar – no Litoral Catarinense neste ano.
Por enquanto, um dos poucos argentinos a visitar Santa Catarina foi a enfermeira Valéria Cadario, 40, e seu marido, o empresário Ariel Monachesi, 40. Eles aproveitaram as economias dos meses anteriores e compraram um pacote de 10 dias em Florianópolis, voltando para o país vizinho no último domingo.
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– Os argentinos representam historicamente 70% dos turistas que vem ao Estado durante a temporada de verão, mas temo que a queda registrada se acentue nesta temporada. A projeção é que se aproxime de 50% ao longo dos três primeiros meses de 2013 – pondera o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em SC (ABIH-SC), João Eduardo Moritz.
No mercado imobiliário da Capital, o movimento em busca de imóveis para locação durante a temporada está aquém do esperado pelo setor. A corretora Adriane Marques, 40, é dona de uma imobiliária no Norte da Ilha de SC que oferece 2 mil imóveis na região a cada temporada. Ela diz que está preocupada porque nos anos anteriores as contratações estariam em 30% do total, mas apenas 10% das casas e apartamentos até agora foram solicitados.
– As exigências na Argentina estão afugentando os turistas porque eles só podem negociar em pesos argentinos – lamenta.
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– Certamente o aperto fiscal lá afetará o turismo em Santa Catarina. O impacto será sentido não só em Florianópolis, para onde vão os turistas com maior poder aquisitivo, mas também em Balneário Camboriú , principal destino de hospedagem desses turistas – acrescenta Tarcísio Schmitt, presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Florianópolis.
A projeção deles é a mesma dos sindicatos de hoteleiros de Florianópolis e Balneário Camboriú, os dois principais destinos dos argentinos durante o verão. Para Dirce Fistarol, diretora de hospedagens do Sindicato de Hotéis de Balneário Camboriú, a perspectiva é de que serão ocupados 80% dos cerca de 20 mil leitos disponíveis na cidade, mas o perfil está mudando.
– Quem vier terá perfil econômico mais alto, pois fez uma reserva maior de dinheiro ao longo do ano. A nossa dúvida é se o público da terceira idade, que movimenta a economia na cidade ao fim do verão, terá condições financeiras de vir e permanecer as duas semanas habituais ou se reduzirão a estadia pela metade, por exemplo – pondera a empresária.
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Para minimizar os efeitos econômicos da redução de turistas na próxima temporada, a Santur a participa de eventos como a Feira Internacional de Turismo (FIT), que ocorrerá em novembro, é uma das iniciativas para oferecer o Estado como destino turístico, principalmente durante o verão. Para o presidente Valdir Walendowsky, são ações como esta que devem preservar Santa Catarina entre os estados preferidos como destino dos argentinos.
– Estamos trabalhando para manter a quantidade de turistas na próxima temporada. Ajudamos a elaborar roteiros para pacotes de passeios com foco no público argentino e também estamos recebendo jornalistas de lá para estimular a mídia espontânea para o Estado.
Otimismo no aeroporto
Outro ponto que serve para medir a chegada de argentinos é a solicitação para o pouso de voos charters no Aeroporto Internacional Hercílio Luz, em Florianópolis. Apesar dos prognósticos negativos, os pedidos de voos somados pela empresa World Service, que representa as companhias aéreas dos países vizinhos, está acima da média.
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Até ontem as autorizações de voos charters da Argentina para Santa Catarina eram de 334, de acordo com o gerente de operações da World Service, Alexandre da Silva. Ele lembra ainda que nos primeiros quatro meses de 2012 foram efetuados 354 voos vindos da Argentina. Neste período desembarcaram por estas empresas 49,4 mil passageiros, que vieram principalmente em janeiro (43,5%).
– Pela atual situação econômica da Argentina tínhamos a previsão de haver uma queda considerável na vinda dos argentinos, mas os pedidos de somente uma empresa já superou as expectativas. Pelo ritmo, o aumento pode chegar a 15% e aí teremos uma excelente temporada – enfatiza Alexandre.
No entanto, o número de pedidos de voos é apenas um indicativo, mas não corresponde, necessariamente, a confirmação de um voo chegando nos aeroportos catarinenses. Isso porque ainda depende da venda das passagens e se não houver, aquela viagem pode ser cancelada.
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As medidas argentinas
Em outubro de 2011, o governo obrigou os argentinos que queriam comprar dólares (ou qualquer moeda estrangeira) a pedir autorização prévia à Afip, a Receita Federal local.
Nos bancos e nas casas de câmbio, os compradores de divisa estrangeira têm que apresentar provas de que têm suficientes pesos declarados para realizar a operação.
Neste ano, o governo argentino decidiu reforçar o controle de câmbio para evitar a saída de dólares do país. Desde abril, os argentinos não podem mais utilizar seus cartões de débito bancário no exterior para retirar moeda estrangeira de suas contas em pesos.
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Ao viajarem para o Brasil, por exemplo, e retirar reais de suas contas em pesos, só poderão fazê-lo se tiverem uma caderneta de poupança em dólares na Argentina.