Adotadas para estimular o crescimento do país, medidas de incentivo ao consumo anunciadas pelo governo federal tendem a repercutir de maneira mais lenta na economia brasileira.
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Os efeitos da redução de impostos sobre bens duráveis e da ampliação do crédito esbarram na renda já comprometida das famílias.
Diferentemente das ações de estímulo promovidas a partir de 2008, no auge da crise das hipotecas nos EUA, os incentivos concedidos agora se deparam com um outro cenário econômico.
– O ciclo do endividamento já atingiu o limite e a capacidade das famílias continuarem se endividando está cada vez menor – aponta Rogério Sobreira, professor de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O ritmo menor do consumo é constatado nas vendas de produtos da linha branca (geladeiras, fogões, máquinas de lavar roupa e tanquinhos), que tiveram prorrogado até junho o corte do Imposto sobre Produtos Industrializado (IPI).
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– Não houve reflexos muito significativos. Esperamos que agora, com a redução de juros e de spreads bancários, os consumidores fiquem menos receosos – afirma o presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Zildo De Marchi, que projeta crescimento de 6% para o setor no ano.
Conforme pesquisa divulgada ontem pela entidade, a intenção de consumo das famílias gaúchas caiu 1,1% em maio, na comparação com o mês anterior. O resultado, porém, permanece em patamar superior ao de igual período do ano passado, com crescimento de 8,5% em relação a maio de 2011.
No mercado de automóveis, socorrido pelo governo com a redução de IPI e aumento de crédito, os efeitos começam a ser sentidos. Desde a última semana de maio, o movimento nas concessionárias gaúchas quase dobrou, segundo o presidente do Sincodiv/Fenabrave-RS, Fernando Esbróglio.
– Na medida em que os bancos responderem com a aprovação dos financiamentos, as vendas terão um crescimento mais significativo – aposta Esbróglio.
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Diante da menor eficácia das medidas de incentivo ao consumo, especialistas apontam a necessidade de o governo focar em outras ações.
– É preciso buscar um custo de capital menor, estimular a inovação na indústria e investir em infraestrutura. O incentivo ao consumo não é mais suficiente para fazer a economia crescer – acrescenta Sobreira, professor da FGV.
Redução temporária desanima lojistas
Com queda nas vendas, os móveis tiveram o IPI reduzido de 5% para zero por 90 dias, de abril deste ano até o fim de junho. Desde então, o comércio do setor teve alta de 10% no Rio Grande do Sul, bem abaixo dos resultados verificados na última redução do imposto – entre novembro de 2009 a março de 2010.
– Desta vez os comerciantes ficaram meio reticentes em propagar a medida, já que seria por apenas 90 dias – afirma o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs), Ivo Cansan, reconhecendo que, mesmo assim, a medida foi importante para estimular o varejo.
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A pouco menos de um mês da isenção do IPI acabar, a empresária Julita Kinast, 43 anos, se apressa para escolher um sofá novo, suporte para home theater e bancadas para escritório.
– Faz um tempinho que estou planejando trocar esses móveis, vou aproveitar agora para ter um desconto maior – conta Julita, que ficou estimulada a comprar ao fazer orçamentos em uma loja da Capital.
A redução dos juros nos financiamentos de móveis, responsáveis por quase 70% das vendas, também ajudou o setor, que busca agora a prorrogação da isenção do IPI por pelo menos mais três meses.