A crise na Faixa de Gaza vive um agravamento, após meses de conflito entre Israel e o Hamas. Em entrevista à Agência Brasil, o médico francês Pascoal André, que trabalhou como voluntário no Hospital Europeu, na cidade palestina Khan Yunis, relatou os horrores que presenciou em meio à escassez de medicamentos, combustível e pessoal.

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— É sempre a mesma coisa: às 5h, bum, bam, bum (barulho de bombardeios) e, meia hora depois, os primeiros carros chegando, carros particulares com pacientes moribundos, com pacientes muito graves e com casos não muito importantes, mas muitos pacientes chegando nas emergências sem qualquer triagem — contou Pascoal, que foi para Gaza como voluntário da ONG PalMed France.

O infectologista relata que o hospital em que trabalhou teve que triplicar o número de leitos cirúrgicos e que há pessoas “morando” no local.

— Você tem que escolher um paciente. Se ele não estiver muito bom, ele morrerá. Ou não é muito urgente, ele tem que esperar.

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Segundo o médico, a fome tem tirado a vida de muitas crianças, especialmente as recém-nascidas.

— Muitos bebês têm que sair do hospital com a mãe seis horas após o parto ou 16 horas após a cesariana. Mas eles não vão para uma casa tranquila. Eles vão para uma barraca e está muito frio. E alguns deles estão morrendo por causa da desnutrição e da hipotermia.

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O profissional afirma que as equipes de saúde estão exaustas e não têm ferramentas básicas para trabalhar, como antissépticos, água e sabão para higienizar pacientes antes de cirurgias.

— Portanto, temos visto muitas infecções com muitas complicações, com morte e amputações. É uma pena porque você tem todos os medicamentos, todos os aparelhos, a seis ou oito quilômetros, não muito longe do hospital, mas bloqueados na fronteira do Egito.

Depoimentos e imagens perturbadoras

O médico gravou dezenas de depoimentos e trouxe imagens perturbadoras dos atendimentos e da desnutrição para denunciar na Europa.

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— Gravei muitos relatos sobre o que aconteceu. Temos muitos vídeos e fotos do tipo de lesões que eles sofreram. E realmente, os atiradores escolhem matar crianças, matar mulheres grávidas ou feri-las para o resto da vida. É realmente um desastre humano.

André também criticou a falta de resposta dos países europeus aos relatos da situação em Gaza. Segundo o médico, apenas três deputados o receberam quando ele fez denúncias ao Parlamento Europeu, junto a outros profissionais de saúde.

— A maior parte dos cidadãos, dos políticos e dos meios de comunicação não falam sobre o tema com liberdade porque temem a acusação de anti-semitismo e de apologia do terrorismo e, por isso, calam-se. Existe um sofrimento enorme. É desesperador.

Médico registra crise em hospital na Faixa de Faza

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