Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde demitido pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira, 16, chegou à titularidade da pasta dentro de uma linha conservadora. Deputado federal por dois mandatos pelo DEM-MS, ele fazia parte da bancada ruralista e votou favorável a temas como o teto de gastos públicos e o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Enquanto ocupava uma cadeira no Congresso, também ajudou a aprovar a Reforma Trabalhista.

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Nascido em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, Mandetta é filho de Hélio Mandetta, também médico e que foi vice-prefeito da cidade por um mandato na década de 1960. Formado em Medicina no Rio de Janeiro e com especialização em ortopedia nos Estados Unidos, em 2005 Luiz Henrique assumiu a secretaria municipal de Saúde. O primo Nelsinho Trad foi eleito prefeito de Campo Grande, e assim Luiz Henrique entrou de vez na política.

Seis anos depois, ele foi eleito Deputado Federal pelo DEM, e reeleito nas eleições seguintes. Ficou de fora do pleito em 2018, pois disse que queria voltar para casa e para perto da família. Com o nome indicado para o Ministério da Saúde, teve os planos adiados, e no segundo ano à frente a pasta assumiu o maior desafio de saúde pública visto nos últimos anos, a pandemia de coronavírus.

Anunciado em novembro de 2018 como novo ministro da Saúde, o médico ortopedista foi uma das indicações técnicas do governo Bolsonaro. Ele compartilhava das ideias do presidente eleito. Na época, Bolsonaro disse que Mandetta foi uma indicação do setor da saúde, embora se cogite que o nome surgiu a partir do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), então aliado do presidente.

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Presidente publicou no Twitter uma foto com lideranças na área da saúde quando anunciou Mandetta (Foto: Jair Bolsonaro / Twitter, Reprodução)

Antes de ser anunciado oficialmente, veio à tona uma investigação envolvendo o nome do médico sobre fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois, de quando Mandetta era secretário de Saúde em Campo Grande. Em entrevista coletiva à época, Bolsonaro disse que o então deputado era réu, e que só uma acusação robusta tiraria ele do comando da pasta.

Cubanos dão adeus ao programa Mais Médicos

Também em novembro, o governo de Cuba decidiu suspender o vínculo com o Brasil e solicitou o retorno dos mais de 11 mil profissionais que atuavam no programa Mais Médicos. O governo cubano tomou a medida depois que Bolsonaro questionou a qualidade da formação dos médicos, exigiu revalidação de diploma e prometeu fazer mudanças na forma de contratação.

Os médicos começaram a deixar o país e mais de 4 mil municípios tiveram impactos com a saída desses profissionais. Logo em seguida, foi lançado um novo edital do programa, voltado a médicos com registro no conselho nacional. Mandetta falou da necessidade de revalidação do diploma dos brasileiros, e Bolsonaro discordou publicamente do futuro ministro.

Nova postura à frente da pasta da Saúde

Ao assumir o Ministério da Saúde em janeiro de 2018, Mandetta adotou uma postura mais ponderada. No plano de ações apresentado, falou sobre a informatização do sistema, a reestruturação da Atenção Primária, a regionalização da saúde, o aprimoramento do programa Mais Médicos e a ação integrada nos hospitais federais para promoção de melhorias de gestão.

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Mandetta no início do trabalho como ministro, quando apresentou e empresários paulistas o “Projeto de Saúde para um novo Brasil” (Foto: Agência Saúde / Reprodução)

Crítico dos médicos cubanos na época em que era deputado, enquanto ministro tentou buscar uma solução para os 1,8 mil profissionais que permaneceram no Brasil após o encerramento do programa. Com a aprovação do Médicos Pelo Brasil, em novembro do ano passado, os cubanos puderam solicitar reincorporação ao programa por mais dois anos.

Discordâncias sobre o coronavírus

A crise entre Bolsonato e Mandetta, que culminou na demissão do ministro, foi em função do coronavírus. Quando a pandemia começou a se alastrar e chegou ao país, o médico passou a defender medidas mais restritivas, enquanto Bolsonaro ia no caminho oposto.

No início de abril, uma pesquisa do DataFolha apontou que o trabalho de Mandetta frente à crise do coronavírus tinha aprovação maior do que o de Bolsonaro. Nas redes sociais, o ministro também era elogiado, inclusive por eleitores do presidente, o que deixou o clima desconfortável.

Decretado por alguns governadores, o isolamento social era uma das bandeiras do ministro, que chegou a assinar um artigo científico falando sobre o tema, em reforço à necessidade de cuidados.

Quando o presidente indicou o isolamento vertical como medida preventiva e a começou a sair às ruas encontrar pessoas, mesmo com a indicação de isolamento, os dois passaram a trocar cada vez mais críticas públicas.

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Na vista às obras do hospital de campanha de Águas Lindas (GO), que terá 200 leitos para tratamento de pacientes com coronavírus (Foto: Ministério da Saúde/Twitter)

No último sábado (11), Bolsonaro e Mandetta visitaram um hospital de campanha em Goiás. O presidente foi ao encontro das pessoas, o que gerou aglomeração, enquanto Mandetta assistiu a cena à distância. No domingo, em entrevista concedida ao Fantástico, da Rede Globo, o ministro deixou ainda mais evidente que ele e o presidente já não falavam mais a mesma língua.