A Polícia Civil de Blumenau prendeu na tarde desta quinta-feira o clínico-geral Antônio Gimenez Trevisan, 58 anos. Contra ele havia um mandado de prisão temporária por suspeita de cometer estupro de duas pacientes que procuraram a Polícia Civil na semana passada. A prisão ocorreu no consultório particular do médico, na Rua Luiz de Freitas Melro, Centro de Blumenau. Durante as manhãs, o médico atendia em um dos ambulatórios gerais do município.

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Segundo o delegado da Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso, Henrique Stodieck, além das duas mulheres que denunciaram supostos abusos na semana passada, o médico já havia sido alvo de um boletim de ocorrência em 2012 e de um indiciamento pelo mesmo caso em 2014. A prisão temporária, que tem validade de 30 dias, foi pedida, segundo o delegado, porque pode motivar novas vítimas a denunciarem eventuais crimes do mesmo suspeito. O médico foi encaminhado ao Presídio Regional de Blumenau e deve ser ouvido após depoimentos de testemunhas.

O advogado do médico, Honório Nichelatti Junior, defende que há inúmeras incoerências e contradições nas denúncias formuladas pelas duas mulheres e afirma que, na visão da defesa, a prisão temporária é desnecessária e pode ser revogada em breve. O suspeito nega todas as acusações.

Repercussão no município

Procurado pela reportagem do Santa, o diretor-técnico da Secretaria de Saúde, Marcus Vinícius Campos Rosa, informou que os fatos envolvendo o profissional que é contratado da Secretaria de Saúde serão avaliados internamente e encaminhados ao Conselho Regional de Medicina (CRM) e que eventuais medidas serão tomadas somente após a resposta do conselho. O CRM, por sua vez, informou que só deve se manifestar após ser informado dos fatos pelo Ministério Público. A situação do médico e dos atendimentos do ambulatório durante o período da prisão temporária ainda deve ser avaliada internamente pela secretaria.

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‘Eu fiquei chocada. Não conseguia reagir’, diz paciente

As seis linhas do Boletim de Ocorrência descrevem o que Lúcia* teria passado no consultório de um dos ambulatórios gerais de Blumenau há cerca de 10 dias. Segundo o documento, ela teria recebido quatro abraços do médico logo no início da consulta.

Ela teria percebido o que estava sofrendo quando ele supostamente pegou nas mãos dela para que tocasse nas partes íntimas dele. Como ela resistira, ele teria forçado um beijo de língua.

– Eu fiquei chocada. Não conseguia reagir. Não sei o que me deu. Nojo, vergonha, pânico, eu não conseguia nem pensar. Jamais imaginaria que ia viver uma situação dessas.

Terminada a consulta, ela não fez escândalo. Até pensou “em rasgar todos os papéis e dar na cara dele”, mas ficou com medo que duvidassem dela, que a julgassem louca. Decidiu, então, conversar com a coordenação do AG. Dali, saiu orientada a procurar a Ouvidoria da prefeitura e a Secretaria de Saúde:

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– Meu marido me encontrou no caminho e estranhou meu comportamento. Em casa, contei tudo para ele e ele me deu apoio para denunciar. Fiz isso porque não quero que outras mulheres passem pelo que eu passei, porque pensei nas outras pessoas que usam o postinho de saúde do bairro e nos outros médicos que atendem ali, que não merecem ter o trabalho deles jogado na lama.

Depois da prefeitura, ela foi até a Delegacia da Mulher. Registrou a ocorrência, fez exame de corpo de delito e prestou depoimento. E esperou.

Ontem, ao saber da prisão, comentou:

– Que alívio. Ainda bem que eu denunciei.

* O nome foi mudado para preservar a vítima