Samarone Torres Volpato sabia com o que estava lidando. Médico em serviços de urgência e emergência, trabalha no SAMU e nas UTIs dos hospitais Baía Sul e Regional, em Florianópolis e São José. Desde março estava lidando com pacientes com Covid-19. Primeiro eram alguns casos, mas o número foi crescendo até alcançar uma proporção muito maior nos últimos dois meses, quando SC viu a ocupação hospitalar por causa do coronavírus atingir níveis preocupantes.

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Extremamente exposto ao vírus, o médico de 32 anos nascido em Tubarão, no Sul do Estado, sabia que poderia se contaminar, mas imaginava que os hábitos de vida saudáveis o fariam ter a experiência mais leve do coronavírus. Mas as dores de garganta e no corpo, somadas a um mal-estar muito grande, fraqueza e sintomas respiratórios o forçaram a deixar de ser o médico e virar o paciente.

– Foi bem complicado lidar com as informações num primeiro momento, embora estivesse num ambiente super à vontade. Teoricamente as pessoas que prestaram o atendimento trabalham comigo, fui superacolhido. Mas tive uma dificuldade muito grande de entender que naquele momento não era mais médico, eu estava lá para ser cuidado, não cuidar. Eu era paciente. Na UTI, você fica monitorado o tempo inteiro, não conseguia desviar a minha atenção. Ficava apreensivo, porque queria ter controle completo de todas questões – conta Samarone.

O médico ficou oito dias na UTI do hospital Baía Sul e não precisou ser intubado. No dia 12 de julho ele fez aniversário internado, com direito a música e festa com os colegas de trabalho que, naquele momento, cuidavam do parceiro de plantões. No dia seguinte ao aniversário Samarone teve alta: 

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– Foi o maior presente que já ganhei na vida. Receber alta médica e poder encontrar a minha mãe de braços abertos na saída da UTI.

Após deixar o hospital, Samarone passou por dias de recuperação. Sentia-se exausto após alguns passos, o que era muito estranho para alguém que sempre praticou exercícios. Mas o histórico saudável ajudou e o retorno ao dia a dia comum foi mais fácil. Na última segunda-feira, dia 27, ele voltou a trabalhar e encarar o coronavírus do lado da medicina, ajudando pessoas que, como ele, sofreram com a doença.

– Mesmo com os anticorpos agora, o famoso IGG, tomo cuidado redobrado por conhecer e ter sofrido. Acho que justamente por ter vivido o outro lado, muita coisa que os pacientes me traziam de informação, que para mim eram esquisitas, hoje consigo entender. É uma doença nova que a gente conhece pouco. Hoje consigo enxergar melhor os pacientes, consigo ser mais empático. Costumo brincar que como foi um período que fiquei internado, fiz aniversário na internação, amadureci como pessoa e como médico muito mais que no último ano de vida inteiro. Tenho tirado grandes lições – conclui o médico.

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