A morte de dois jovens jogando futsal em menos de cinco meses, ambos em Itapiranga, no Oeste de Santa Catarina, em localidades distantes cerca de três quilômetros, causou surpresa e comoção na comunidade.

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— São dois casos que causaram bastante impacto na população. Eram dois jovens que frequentemente praticavam esportes. Nós prestamos atendimento com suspeita de infarto fulminante, levamos ao hospital mas lá foi constato que não havia mais o que fazer — disse o comandante dos bombeiros de Itapiranga, André Rauber.

Rodrigo Von Porstel, 17 anos, morreu de mal súbito por volta das 21h de quarta-feira, quando jogava futsal com amigos, no ginásio de esportes da comunidade de Maria Goretti, onde morava.

A outra morte parecida, de Gustavo Petzold, 19 anos, ocorreu às 15h45 do dia 30 de março, no ginásio da Escola Básica Santo Antônio. Ele tinha montado um time com irmãos e amigos para disputar um torneio de futsal e, durante uma partida, caiu na quadra. Foi constatada parada cardiorrespiratória.

Para o cardiologista André Martins, que trabalha no Hospital São Paulo, de Xanxerê, centro referência no Oeste na área, o que ocorreu com os jovens é caracterizado como morte súbita.

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— Quando isso ocorre com pessoas jovens, abaixo dos 35 anos, a morte súbita é causada por uma má formação cardiológica e que eles não sabiam. Uma delas causa aumento da massa muscular e causa obstrução na saída do sangue. Num momento de maior esforço há essa obstrução e a pessoa cai subitamente. Às vezes há uma má formação na parte elétrica do coração e ocorre uma arritmia, como a fibrilação ventricular, onde o coração não consegue mandar o sangue para o cérebro, a pessoa desmaia e acaba ocorrendo parada cardíaca — disse o médico.

Ele afirmou que, numa situação dessas, o uso de um desfibrilador resolveria a questão. Citou que já teve um paciente que desmaiou na esteira e, como tinha desfibrilador, deu logo um choque no peito e o coração voltou ao normal.

Martins disse que na Europa os aeroportos têm desfibrilador. No Brasil não é obrigatório. O cardiologista também criticou a falta de cuidados da população, que pratica atividade física sem uma avaliação médica.

— Quanto maior o esforço físico maior o risco. Frequentemente faço avaliação de jovens que buscam jogar na base da Chapecoense ou outros clubes. Mas nas academias, por exemplo, a maioria não faz avaliação. Os clientes apenas assinam um termo de responsabilidade. Eu não abro mão de uma avaliação e eletrocardiograma. Se tiver alguma suspeita peço mais exames — disse Martins.

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Ele afirmou que, o que provavelmente matou os jovens não foi um infarto e sim essa falta de oxigenação no cérebro que leva a uma parada. Diferente dos jovens, onde isso ocorre por má formação no coração, nos adultos acima de 35 anos há doenças causadas por excesso de fumo, bebidas, colesterol, diabetes, que causam problemas cardiovasculares.

Conhecidos das vítimas de Itapiranga confirmam que os jovens não tinham nenhum problema de saúde aparente. Pelo contrário. Rodrigo Von Porstel inclusive era da escolinha de atletismo do município.

— Ele era atleta da escola e também representava o município em lançamento de dardo. Nunca se queixou de nada, não tinha nenhum indício de doença. Nesta semana, na terça e quarta-feiras ficou o dia inteiro na escola enfeitando a sala para apresentação de um trabalho para as disciplinas de Química e Literatura — disse o diretor da escola de educação básica Humberto Machado, Jair Kuhn.

Porstel frequentava a escola desde a sexta-série. Era o caçula de quatro irmãos e morava com os pais na linha Maria Goretti, onde trabalhavam com vacas de leite. De acordo com o diretor era um menino muito educado e prestativo. Ajudava os pais na agricultura pela manhã e, à tarde, ia para a escola. O diretor acredita que ele iria seguir a carreira militar, a exemplo de dois irmãos, que estão em São Miguel do Oeste.

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A sala onde ele iria fazer a apresentação continua fechada. Segundo diretor está difícil para todos na escola enfrentar essa situação.

Jovem morreu em Itapiranga
Gustavo Petzold teve morte súbita jogando futsal (Foto: Arquivo Pessoal)

Na Uceff de Itapiranga, onde estudava a outra vítima de morte súbita, Gustavo Petzold, 19 anos, a morte do jovem também gerou comoção.

— Foi um choque para a turma que precisou de acompanhamento psicológico. Todo mundo ficou chocado com a perda desses jovens que pareciam muito saudáveis — disse o professor da faculdade, Sadi Reckziegel.

Outro professor, Eder Heberle, disse que Gustavo estava iniciando o quinto semestre de Ciências Contábeis, num total de oito semestres. Como morava no interior, na linha Santo Antônio, pegava carona pela manhã até a cidade de Itapiranga, onde trabalhava como jovem aprendiz na cooperativa A1. À noite estudava e voltava para casa com um ônibus que transportava os estudantes da faculdade.

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— Ele estava terminando o contrato com o jovem aprendiz e buscando vaga de emprego. Era uma pessoa muito carismática. Também era um desportista. Jogava futebol todo o final de semana — lembrou o professor.

Gustavo também tinha jogado na base do Cometa, que é o principal time da cidade e um dos times mais fortes e tradicionais do futebol amador do Oeste.

— Ele nunca se queixou de nada, de dor ou alguma coisa. Mas acho que nunca fez exame. Era um cara alegre e feliz. Até tinha me convidado para jogar naquele dia. Disse que talvez ia só assistir o torneio. Acabou fazendo um time com seus familiares e amigos — lembrou o amigo, Carlos Schlikmann.

Por isso o cardiologista André Martins recomenda precaução.

— Todo mundo que for fazer alguma atividade que exija esforço físico deve fazer uma avaliação. Não tenho números mas nos grandes centros todos os dias morrem pessoas praticando uma atividade física vítimas de alguma doença de coração que não sabiam — concluiu o médico.

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