Foram 35 anos de dedicação ao tênis de mesa, sendo 20 deles servindo a seleção francesa, de 1988 a 2008. O saldo disso tudo: nove medalhas conquistadas em Jogos Paralímpicos, além de outros tantos títulos mundiais e europeus. Aos 43 anos, Gilles De La Bourdonnaye irá participar dos Jogos do Rio de Janeiro a convite do Comitê Paralímpico Internacional e do Comitê Paralímpico da França. O francês, que mora há dois anos em Florianópolis, não irá competir, mas sim palestrar e ajudar a dar mais visibilidade ao esporte que aprendeu a praticar.
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– Vou fazer umas palestras sobre os Jogos e umas exibições. Também vou participar de atividades com crianças da Comunidade da Maré. O objetivo é tentar divulgar mais o que são os Jogos Paralímpicos para as crianças e adolescentes do Rio – explica.
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Gilles começou a jogar tênis de mesa com apenas oito anos de idade. Cinco anos após o acidente que o fez perder parte do braço direito, quando morava em Senegal.
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– Estava brincando no elevador e fui catar uma bola no vão entre o elevador e porta. Tentei alcançar e acabei cortando o braço. Era destro, mas rapidamente aprendi a fazer tudo com o braço esquerdo. Só não toco piano, mas outras pessoas não tocam também – diz, bem humorado.
O ex-atleta acredita que o esporte é transformador. E é isso que procura passar em suas palestras. Mostrar que a deficiência pode ser vista de uma outra forma. Foi por meio do esporte que Gilles conheceu a esposa, também ex-atleta de tênis de mesa.
– Quando você tem um acidente ou nasce com uma deficiência física, tudo é mais complicado. Você precisa trabalhar a relação com seu corpo. Uma vez superado, você consegue fazer muitas coisas. E o esporte é o melhor caminho. O esporte é igualitário. Minha esposa tem uma deficiência no quadril, nasceu com um pedaço do osso faltando. Nos encontramos num campeonato na Suécia, em 1997. Nos casamos em 2004 e temos dois filhos que moram aqui com a gente e que estão falando português – conta.
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Momento que ficará para sempre na memória
Quando se tem tantos anos de dedicação ao esporte, fica difícil pontuar um momento mais marcante. Gilles esteve nas Paralimpíadas de Barcelona 1992, Atlanta 1996, Sidney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008. Ao todo, são três medalhas de ouro, três de prata e três de bronze. O francês destaca dois momentos como os mais inesquecíveis da carreira.
– Primeiro, a cerimônia de abertura. É difícil de explicar. Você entra no estádio, escuta o barulho da torcida. É uma emoção muito grande, assim como subir ao pódio e escutar o Hino Nacional. Você pensa em todos os treinos, na família e em todas as pessoas que ajudaram – conta.
Gilles embarca na sexta-feira para o Rio e fica até o dia 13. A expectativa é a melhor possível, mas ele sabe que a repercussão de uma Paralimpíada ainda está longe de ser como de uma Olimpíada.
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– Espero que tudo saia bem, sei que cortaram um pouco os voluntários por conta de orçamento, mas o que vai fazer a diferença é o público. O povo brasileiro é gentil e tenho certeza que os competidores vão gostar. O nível do esporte é muito bom. Tem pessoas com deficiências graves que fazem coisas impressionantes. Mas o que falta para divulgar mais a competição é termos figuras famosas, reconhecidas mundialmente. Por exemplo, se tivéssemos um Usain Bolt paralímpico, iria ser diferente – conclui Gilles.