Na última quinta-feira, a UFSC foi alvo de uma contundente ação da Polícia Federal. Ninguém menos que o reitor – um homem evidentemente bom e gentil, de quem eu gosto muito – teve a prisão decretada. No campus, não se fala em outra coisa. Especula-se sobre a responsabilidade dos envolvidos ou sobre a pertinência da Operação Ouvidos Moucos, como se ela fizesse parte de um ciclo de abusos e exageros perpetrados pelo Poder Judiciário.

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Como todo mundo, também fui radicalmente afetado pelo episódio. Mas a questão a que tenho me dedicado é bem outra: como a UFSC, enquanto instituição, está implicada no que aconteceu? Velho hábito adquirido em 20 anos de divã: perguntar-me sempre sobre o meu próprio papel nos processos e eventos, antes de voltar o olhar para os outros.

Sou professor de Letras. Trabalho, portanto, com temas de grande apelo popular, como a literatura e a linguagem. O que observo, entretanto, é que essa oportunidade criada pelo interesse das pessoas nos assuntos que estudamos não é aproveitada por nós. Na quase totalidade do tempo, falamos e escrevemos para públicos extremamente restritos, em um estilo pesado, repleto de abstrações e inacessível a não-iniciados. Não me entendam mal: essa produção para consumo interno não tem nada de estranha e é mesmo necessária. O fato a ser lamentado é que nunca dê lugar a formas mais leves, abrangentes e arejadas de debate.

Na melhor das hipóteses, mesmo quando o trabalho feito em tais condições é honesto e apaixonado, reveste-se de tal opacidade que não pode deixar de gerar desconfiança em quem olha a coisa de fora. Na pior das hipóteses, “destreina” os professores para a vida social: encerra-os em uma bolha, um mundo à parte, confortável e protegido a ponto de os seus habitantes começarem a acreditar que as leis da pólis não valem para eles.

É evidente que a universidade precisa continuar sendo um espaço de liberdade radical. A ciência, a filosofia e o ensino só assim prosperam. Mas, ao mesmo tempo, a UFSC tem de reconhecer que não é uma ilha. Quem não se abre ao diálogo com o que lhe cerca, cercado tende a acabar.

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