Governador de Santa Catarina até abril deste ano, Raimundo Colombo deixou a Casa D’Agronômica depois de dois mandatos seguidos para tentar uma cadeira no Senado Federal, em Brasília. A empreitada não é novidade para o lageano, que já foi eleito senador em 2006, mas ele mesmo garante que o Colombo de hoje é muito mais experiente do que o de 12 atrás e, com a visão de quem já esteve do outro lado da mesa, vai lutar para desburocratizar, principalmente, o repasse de recursos ao Estado.
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Confira abaixo o que o candidato tem a falar em mais uma entrevista da série com os candidatos catarinenses ao Senado produzidas pelo Diário Catarinense.
Perfil
Nascimento e idade: 28/02/1955 | 63 anos
Naturalidade: Lages (SC)
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Profissão: administrador
Escolaridade: superior
Carreira política: já foi deputado estadual, prefeito de Lages, senador e governador de SC
Vídeo: confira as principais propostas de Raimundo Colombo, candidato ao Senado pelo PSD
Em meados de 2010 o senhor era senador e pediu licença para ser candidato ao governo de SC. Agora, oito anos depois o senhor faz o caminho inverso. A candidatura é a continuidade do trabalho que foi interrompido em 2010?
O momento é bastante diferente, 2006 a 2010, era o predomínio o governo Lula e eu era da oposição. Então, em quatro anos eu consegui aprovar um projeto apenas que foi a derrubada da CPMF, o resto a gente era uma minoria enfrentando um governo que era apoiado pela imprensa nacional, pela população, por todo mundo com níveis de popularidade bastante elevado e ninguém queria falar de reformas, de mudanças. Então a oposição foi praticamente massacrada. O cenário de 2019 agora é completamente diferente. É um cenário onde certamente o Congresso Nacional terá que convocar mudanças, terá que debater sobre temas importantes, sobre mudanças estruturais, sobre mudanças de longo prazo, sobre o enfrentamento de uma crise que é extremamente grave. Então eu entendo que será um grande momento para a gente dar a colaboração da gente pela experiência que nós acumulamos ao longo dos anos. Então, eu faço uma separação muito diferente daquele período para esse, são coisas totalmente diferentes.
O que o senhor, se eleito em outubro, fará de diferente do Raimundo senador de quase uma década atrás?
Eu estou diferente, né? Porque na verdade quando eu assumi era inexperiente, não conhecia de fato a realidade que a gente ia enfrentar no Senado, as pessoas também não me conheciam e naquelas quatro anos eu consegui no final terminar como líder da minoria e inclusive com nível de apresentação de projetos que houve um reconhecimento do Senado com prêmios bastante destacados e prêmios honestos. Acho que a gente conseguiu ganhar agora, mas porque o Senado é a Casa dos Estados, enquanto a Câmara dos Deputados representa o povo, o Senado é a Casa dos Estados com poder revisor. Então, eu me sinto mais preparado do que da outra vez, muito mais experiência e com conhecimento de sete anos. A gente sabe aonde que atrapalhou, aonde que criou dificuldades, o que nós podemos mudar, o que a gente deve manter e defender. Acho que seria uma oportunidade pra mim extraordinária de aplicar esses sete anos de experiência que a gente teve aqui e, claro, em Brasília, a imagem e o relacionamento de você ter sido governador de SC num período tão difícil e ter apresentado resultados, como, por exemplo, a renegociação da dívida, o combate que nós fizemos na resolução 13, que prejudicou muito o nosso Estado, isso deu uma condição bem diferente e eu acho que a gente pode contribuir bastante com esse momento no Brasil e na defesa do Estado de SC ou lá no Senado.
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O que mais incomodava o senhor enquanto governador e que agora, se eleito senador, poderá atuar para mudar? Quais serão as brigas que o senhor irá comprar no Senado?
Acho que a concentração em Brasília, a burocracia, a concentração de recursos em Brasília. É engraçado, mas por SC ter os número que têm, que são considerados os menores do Brasil, deveria ser um prêmio e na verdade é um prejuízo porque as pessoas dizem ‘ah, vocês lá não precisam’, mas é que eles não viajam aqui pela (BR) 470, na 280, não vê os problemas da 282. Não vê tudo o que acontece com o nosso Estado. Então, acho que são bandeiras que a gente quer lutar. Por outro lado, nós tivemos um exemplo que foi a luta pela questão tributária, de baixar impostos, de dar garantia jurídica, de estabilizar o processo produtivo, então, o Estado de SC foi em termos absolutos, comparável com SP. Rio ou Minas, e você olhar o tamanho de SC, você vai ver a desproporção, no entanto somos o Estado que mais gerou empregos no Brasil e que também teve o maior crescimento econômico do Brasil em 2017, 4,3% contra 1%, nossa taxa de desemprego na faixa de 6%, quando no Brasil tá em 13%. Então essa política econômica foi acertada, ela produziu grandes resultados. Santa Catarina foi o último Estado que entrou na crise e o primeiro que saiu dela. Essas coisas que foram aplicadas aqui eu quero defender com muita veemência, se eu conseguir ser eleito, em Brasília porque eu não tenho dúvida de que nós vamos ter bons resultados. Por exemplo, a taxação do imposto de renda das pessoas, acho um absurdo você começar a taxar acima de R$ 2 mil, isso não é renda, você está taxando o salário das pessoas, você tá tirando esse dinheiro do consumo, do bem estar das pessoas. Então essa é uma bandeira que a gente quer lutar fortemente e muito vão dizer que é impossível, mas quando a gente começou a renegociação da dívida todo mundo dizia que era impossível e nós conseguimos. São medidas como essas que eu pretendo enfrentar.
O Esperidião Amin sempre foi um adversário do Luiz Henrique da Silveira, que foi um dos seus grandes padrinhos políticos. Como o senhor acha que ele encararia a chapa que existe hoje, que tem o senhor e o Amin juntos? É do jogo?
O Luiz Henrique era um grande amigo meu, um padrinho, um irmão. Tenho por ele um carinho imenso e tenho uma saudade extraordinária dele. Tenho certeza que foi uma das pessoas que mais me ajudou e que eu procurei corresponder. Havia uma cumplicidade, uma amizade, um carinho muito grande entre nós dois. Isto nos fortaleceu. Tivemos grandes vitórias juntos e eu sou muito grato a ele e ao PMDB também que o ajudou, mas o Luiz Henrique de uma forma especial mora no meu coração. Infelizmente ele não está aqui e os projetos políticos não são feitos por uma pessoa. O Esperidião também é meu amigo, eu fui Secretário de Estado dele quando eu tinha 27 anos de idade, nós tivemos eleições em que nós estivemos juntos e eleições em que nós estivemos um contra o outro, separados. Mas sempre nos respeitamos, como eu respeitei o Luiz Henrique, o Luiz Henrique respeitou o Esperidião e o Esperidião respeito a gente. Eu acho que você pode discutir, combater, contrapor a mensagem, mas o segredo é você respeitar sempre o mensageiro, porque ele é um ser humano igual a você que está tentando fazer o máximo, então eu não vejo essa separação. O Luiz Henrique nunca gostou dessa separação, nem o Esperidião gosta, nem eu gosto. Acho que tem que se respeitar e sempre que for possível somar as forças para fazer o melhor pelo Estado.
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No âmbito da Lava Jato, ainda há a questão do caixa 2 em relação a suas campanhas anteriores. Isso é uma sombra? Como vê o possível uso disso por adversários?
Não se podem fazer uso ou não. Para mim foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Eu nunca tinha passado por isso, eu tenho 40 anos de vida pública, não tem nenhum processo contra mim. Graças a Deus e eu tenho muita fé, o processo foi arquivado em Brasília, pelo Ministério Público, e foi arquivado aqui em Florianópolis pelo Ministério Público, eles não ofereceram denúncia. Ainda existe em tramitação e eu estou providenciando toda a defesa, mas na Justiça Eleitoral, ainda é o único que resta e eu tenho certeza que também será arquivado. Foi um período de muito sofrimento, um período muito duro na minha vida, nunca imaginei que fosse passar por isso, mas se esse for o preço a pagar para que o Brasil ache o melhor caminho para que as coisas sejam retomadas num nível de seriedade e todos nós temos que tirar uma lição disso, aprender com tudo isso, fazer um meia culpa, acho que é fundamental, ter humildade de compreender onde a gente errou e o que precisa acertar, se esse é o preço a pagar, eu pago esse preço. Graças a Deus eu me sinto bem mais aliviado, por que o Ministério Público que tem a função de investigar e acusar três vezes pediu o arquivamento desse processo, então eu tenho um instrumento de defesa, um atestado para apresentar a todos os catarinense. Sinceramente acho que Deus não dá uma cruz mais pesada do que a que você pode carregar, minha mãe sempre diz isso para mim. Foi um período muito duro, isso marcou a minha vida, marca até hoje, mas graças a Deus as coisas estão se esclarecendo. O importante é que as pessoas partam do princípio que precisa separar o joio do trigo. Se colocar todo mundo na vala comum é muito injusto, mas eu acho que isso as pessoas do bem estão fazendo essa separação e as decisões permitem que eles tenham mais elementos para fazer um julgamento justo sobre o meu período e as outras pessoas também.
Depois de duas eleições com o MDB como vice, agora vocês estão em coligações adversárias. Como o senhor encara a situação de ter seu governo criticado pelos candidatos do partido que até seis meses atrás estavam no poder com o senhor?
Um pouco estranho, difícil de compreender. Na campanha aflora o melhor das pessoas, a gratidão, a solidariedade, a amizade, mas infelizmente aflora o pior também, o interesse, a ingratidão, a traição, a injustiça. Você tem que conviver com isso porque a política é uma atividade essencialmente humana, ela é feita por pessoas com suas virtudes e com seus defeitos, eu tolero tudo isso, procuro sofrer pouco. Procuro não perder o meu equilíbrio porque as vezes as pessoas te provocam exatamente para que você perca o equilíbrio, acho que os fatos falam por mim, os números de SC falam por mim, eu não fiz isso sozinho, foi uma equipe que fez e ela tem os méritos e defeitos e se acham que poderia ser melhor, sempre pode ser melhor, peço desculpas naquilo que não pude fazer a contento, mas com toda a crise que a gente passou, que foi a maior da história do Brasil, eu faço uma pergunta bem clara: você conhece alguém em SC que quer ir embora do nosso Estado porque está insatisfeito? Eu não conheço. Conheço centenas que vieram para cá e estão muito satisfeitos em ter vindo para cá. Esse é o maior atestado de que nosso governo cumpriu com seu dever.
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Fala-se muito que SC tem pouca força e representatividade política no Congresso. É possível mudar isso? Como enxerga seu papel nesse processo?
A força no Congresso ela vem do emprenho e do desempenho do líder. Não é porque você é do Estado A ou B que você poderá ser mais ou menos protagonista. É claro que para dirigir a casa, por exemplo o presidente do Senado, há muitos anos só tem do Nordeste, porque eles tem a maioria dos votos e eles se unem. A gente do Sul e Sudeste tem pouca chance. Já na Câmara tem sido um pouco diferente. Entendo que a experiência que a gente tem, o nome que já é conhecido, nosso Estado que é uma grife ajudam a gente a fazer um trabalho de consolidação de lideranças. Nós já alternamos momentos em que tivemos muita força política e lideres muito respeitados, admirados e de referência em Brasília e teve momento em que a gente ficou numa inexpressividade. Acho que eu e outras pessoas que foram candidatos nesse eleição, como o Esperidião, a gente tem a situação de ser um nome conhecido, de ter um relacionamento maior. Isso nos permite fazer um trabalho já partindo de uma base mais sólida, por exemplo, em 2006 eu não conhecia praticamente ninguém em Brasília, no Senado as pessoas vieram saber meu nome quatro, cinco meses depois, você leva um tempo grande porque não é fácil você ser senador e tem gente lá que está há 30, 40 anos. É um processo mais difícil. Eu pretendo se eu conseguir me eleger, ficar os oito anos e fazer um trabalho bastante sólido de ocupação de espaço e de boa representação. Pelo meu temperamento, pela grife de SC e pelas relações que já estão construídas eu vou poder ajudar mais muito mais do que pude antes, tenho certeza disso e outros catarinenses também. A gente vai recuperar, no meu entendimento, um protagonismo maior e é possível pela qualidade da nossa Câmara dos Deputados.
Isso deve trazer frutos positivos para SC?
Com certeza. Acho que você desenvolve um Estado por quatro vetores importantes: a força da mídia, que é fundamental, a força econômica, a densidade demográfica e a força política, que ela tem muito peso em relação às ações do Estado em um processo de federação. Então, acredito que SC vai ter uma representatividade maior e uma força política maior no próximo período, até porque será um período de grandes mudanças no brasil e você pode produzir mais e a qualidade dos políticos daqui ser mais destacada e reconhecida, já que o período não vai ser de ser contra ou a favor, mas de realmente discutir a mudança profunda que está em curso e trabalhar com ela com muita dedicação.